Caso Pilar: Muito mais que uma decisão política

05/03/2021 11:00 - Voney Malta
Por redação

Ivanilda Rodrigues de Melo, 66 anos de idade. Professora, servidora pública efetiva da Secretaria Municipal de Educação. Solteira e até setembro de 2020 sem qualquer vínculo político em sua terra natal.  

O que teria levado um prefeito com a administração aprovada por mais de 90% da população escolher uma senhora sem expressão política para ser sua vice-prefeita?

Dona Ivanilda é uma daquelas pessoas que orgulham sua terra. Uma vencedora. Uma cidadã de fibra que diz não ter medo de ameaças e de enfrentar, de frente, os desafios de uma mulher pobre e negra na política.

Ao que tudo indica chegou a hora de Ivanilda Rodrigues lutar pelos seus direitos e ainda enfrentar o preconceito e o racismo. Isso mesmo! A disputa pela cadeira de vice-prefeita (o) no Pilar, ganha novos capítulos e, ao que tudo indica, vai muito além do cargo. Envolve o projeto de poder, que é natural na seara política, mas extrapola os direitos igualitários.  

Uma conversa entre vereadores do município e lideranças da cidade pode mudar o direcionamento da decisão monocrática do presidente da Câmara, Tayrone Henrique, que decidiu pela vacância do cargo de vice-prefeita.  

“Não vamos deixar essa negra, sem força política, sem noção política, assumir se o Renatinho (prefeito do Pilar) decidir mesmo disputar o Governo do Estado. De qualquer maneira vamos dar pressão nele. A gente sabe como ele é na hora da pressão”, teria dito um dos envolvidos contrários a Dona Ivanilda.  

Se essa conversa entre vereadores e políticos do Pilar for instada como prova de uma trama de projeto de poder, Ivanilda Rodrigues pode até não reaver o cargo de vice-prefeita, mas o caso certamente ganhará repercussão nacional pelo crime contra a honra de uma negra vencedora.

O processo será judicializado pelo prefeito Renato Filho. A defesa vai se apegar no artigo 1º do regimento do Poder Legislativo: “Se decorridos dez dias da data fixada para a posse o Prefeito ou o Vice-Prefeito, salvo motivo de força maior aceito pela Câmara, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago”.  

Detalhe: No dia 1º de janeiro Ivanilda estava infectada com o coronavírus. Nos dias seguintes boa parte dos vereadores, inclusive o presidente do Poder Legislativo também foi infectado. Na sequência outros servidores da Casa, que só retornou as atividades no dia 18 de fevereiro.  

Ou seja: O poder Legislativo estava em recesso durante todo mês de janeiro, vereadores e servidores foram infectados pelo coronavírus e foi Ivanilda Rodrigues quem procurou a casa para tomar posse, só que fora do prazo regimental. O presidente da Câmara cumpriu o regimento da Casa, é fato. Livrou-se de qualquer problema de improbidade.

Mas o caso deve ganhar um novo rumo, que terá seu veredicto na justiça. Independente da decisão judicial, o contexto preconceituoso e o crime de injúria devem ser um capítulo à parte.

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