Desde o início da vacinação contra a Covid-19 no mundo, em dezembro de 2020, no país e em Alagoas, no dia 19 de janeiro deste ano, aumentaram não somente a esperança de uma cura para a doença que já matou mais de 212 mil brasileiros, mas a busca por mais informações, principalmente diante da onda de desinformação agravada durante a pandemia.
“As duas vacinas são muito seguras”. Ouvida pelo CadaMinuto, a alergista e imunologista Clarissa Soares Tavares foi taxativa ao falar sobre as vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial no país, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan de São Paulo; e a vacina de Oxford - ainda não disponível no Brasil - produzida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A especialista alagoana pontuou que, embora haja diferenças entre elas, ambas são eficazes. “A CoronaVac utiliza o método do vírus inativado, que consiste em matar o vírus. Com isso ele não pode se replicar, mas a presença dele na gente consegue estimular a produção de anticorpos protetores”, explicou, reforçando: “A vacina é feita através do vírus que chamamos atenuado, o que significa mais ou menos o vírus morto, que não provoca a doença, mas faz com que o organismo produza anticorpos”.
Já a AstraZeneca utiliza a técnica do vetor viral. “Eles pegam o adenovírus da gripe do chipanzé, e inocula o coronavírus dentro desse vírus , então o coronavírus perde a capacidade de multiplicação, fazendo com que o organismo produza anticorpos”, prosseguiu a médica.
Em linguagem de “leigo”, o fato é que, segundo ela, as vacinas atingem seu objetivo da formação de anticorpos contra a Covid-19.
Eficácia e efeitos colaterais
A imunologista também falou sobre outras dúvidas comuns envolvendo a imunização, como a eficácia da CoronaVac e possíveis efeitos colaterais. “Qualquer vacina, para ser eficaz, tem que estar acima de 50%, e a CoronaVac tem eficácia geral de 50,38%. Isso significa que 50% das pessoas vacinadas que pegarem a Covid-19 terão uma forma muito leve da doença e nenhuma das pessoas vacinadas terá a forma grave da doença”, traduziu Clarissa.
Já em relação aos efeitos colaterais, a médica afirmou que são os mesmos de qualquer outra vacina, sendo os mais frequentes, dor e vermelhidão no local: “Pode ter sintomas bem leves, como ocorre com as outras vacinas. Reações graves, volto a dizer podem ocorrer com qualquer vacina, mas é muito, muito raro a pessoa ter alergia a algum constituinte da vacina. É muito mais frequente, por exemplo, quem tem alergia a ovo, ter reação grave com a vacina da febre amarela”.
“O que aconteceu foi que politizaram muito essa vacina. As pessoas que não queriam a vacina começaram a fazer muito alarde, mas é uma vacina segura. Você vê que todo mundo está tomando, no Brasil, no mundo todo, e não se tem história de reações graves. O que aparece muito é fake news”, lamentou a especialista.
Outro ponto importante levantado por ela é que, mesmo quem já teve a Covid-19 precisa se vacinar.
Contra-indicações e prioridades
Em relação aos casos nos quais a vacinação é contra-indicada, a médica lembra que, como é uma vacina nova, não foi testada 0em gestantes, mas as sociedades de imunologia têm orientado que outros grupos, com pessoas com câncer ou imunodeficiência, se vacinem normalmente.
Incluídos no grupo prioritário da vacinação, Clarissa defendeu que é preciso vacinar primeiro quem está na linha de frente, no caso os profissionais da área da saúde que trabalham diretamente com pacientes infectados pela Covid-19 e, em seguida idosos e outros grupos de maior risco.
“Até agora não se falou em crianças, porém, com essa essas novas mutações, estamos vendo pessoas jovens adoecendo, por isso precisamos agora adiantar o mais que pudermos a vacinação para atender todo o restante da população, não só os grupos prioritários”, acrescentou.
Vida normal
Perguntada sobre quando poderemos aposentar as máscaras de proteção que se tornaram item essencial na rotina de toda a população, a imunologista estimou que “quando tiver em torno de 80% da população vacinada, mas isso não vai acontecer nem tão cedo, afinal estamos vendo a dificuldade que o Brasil está tendo para conseguir os insumos para fabricar a vacina. O IFA, a parte principal da vacina, só quem produz é a China e a Índia, e aí entra toda a parte política, pois o presidente Bolsonaro causou dificuldades na negociação pela forma como tratou a China”.
Segundo ela, os próprios médicos e demais profissionais da saúde que não estão na linha de frente têm entendido e dado preferência de vacinação àqueles que estão lidando diretamente com a doença, justamente pela escassez de vacinas.
“Meu conselho, como médica, é que todo mundo aguarde sua vez de vacinar e se vacine quando a vez chegar. No mais, continuem se protegendo com o uso de máscaras, lavagem das mãos, uso do álcool e distanciamento social”, finalizou Clarissa.