Os alunos que me tornaram uma preta ativista estão mortos.
Fui professora de muit@s alun@s, divers@s, diferentes, mas, tem algumas histórias que, de tão significativas, tornaram-se inesquecíveis.
Tem a história de dois alunos que me marcaram, profundamente, e abriram cancelas n'alma para novos olhares interpretativos do mundo.
Mundos que segregam, criminalizam.
O Cícero, um preto adolescente,fruto de uma pobreza extrema, literalmente desdentado, de tanto ser motivo das piadinhas racistas de outros jovens , decepcionado com os "deixá-pra-la" da direção da escola ( ah! é tudo brincadeira de jovens) e a quebra permanente da auto estima ,que dificultava o aprendizado , simplesmente jogou a toalha, desistiu da escola.
A escola é uma dos lugares, mais segregadores e conservadores e que retroalimenta, cotidianamente, o racismo estrutural.
Quantas escolas, em Alagoas, dialogam com a Lei Federal nº 10.639/03 e a Lei Estadual nº 6.814/07?
A última vez ( faz tempo) que o encontrei ,Cícero, liderava um grupo de outros meninos pretos, como ele, e que cometiam pequenos roubos no Mercado da Produção, bairro da Levada, em Maceió,AL.
Nesse dia um dos meninos tentou me levar alguns pertences, mas, me reconhecer, Cícero, meu ex-aluno, se interpôs :- Minha professora, não!
Cícero foi morto pela polícia, ainda na adolescência.
E tinha , também, o Daniel, um outro preto lindo, pobre,periférico e evangélico.
As muitas confusões da adolescência, a ausência do afeto que educa e toda pressão de ser um menino preto levou-o para o mundo das drogas.
A última vez que o encontrei fez o pedido: - Tia, arruma um emprego pra mim...
Daniel foi fuzilado por uma gangue.
Fui professora do Cícero e do Daniel. Dois meninos pretos, pobres, imperfeitos, periféricos, com as almas carregadas de sonhos.
Fui professora dos dois e a grande lição que me ensinaram foi a do ativismo, da resiliência.
Resistir, porque jovens pret@s tem direito ao futuro e suas vidas importam.
Que estejam em paz!
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