Eu tive um aluno que chegou ao ensino médio como analfabeto funcional. Desenhava o nome dele com letras garrafais, mas, tinha dificuldade em interpretar a escrita.

Eu tive um aluno que arrastava distâncias quilométricas , a pé, para chegar a escola e chegava ofegante, muito, muito cansado.

Eu tive um aluno que, de dia,  fazia carrego no Mercado da Produção, bairro da Levada  para ajudar a família e estudava a noite.

Eu tinha aluno que dormia a aula ,quase, toda e eu ficava desconfortável, sem saber o que fazer.

O aprendizado era lento, trôpego e um dia ele, simplesmente,me avisou que estava desistindo. Tentei conversar,mas,estava irredutível.

Passava o dia , no Mercado da Produção, fazendo  carrego, daí o submundo ofereceu um caminho mais fácil para ganhar dinheiro, sem necessidade de interpretar palavras e letras.

Era o líder, quando,quase, fui assaltada pela gangue que comandava, ao me reconhecer, interceptou a ação:- Minha professora, não!

O nome dele era Cícero, o preto Cícero do sorriso sem dentes.

Cícero  foi morto, muito jovem, pela polícia. Se  tivesse tido a oportunidade de  reinterpretar a vida em uma sala de aula, quem sabe, não teria sobrevivido e descobrir que além do ovo e da uva, Ivo aprendeu a ler o mundo todinho e ressignificou a vida.

Aprendizagem importa, sim, secretária Laura Souza!