Cerca de 600 mil pequenas, micro e médias empresas fecharam as portas, gerando um contingente de nove milhões de novos desempregados no país, em decorrência dos efeitos da pandemia do Covid-19. Neste cenário revelado por um levantamento do Sebrae, empreendedores que ainda não sucumbiram se fazem as mesmas perguntas: é possível sobreviver à crise? Como? Em conversa com a reportagem do CadaMinuto, o consultor em gestão financeira empresarial, Joaquim Neto falou sobre o assunto.

Pensar com clareza para não tomar nenhuma decisão precipitada; listar todos os custos fixos e focar em renegociar e reduzir ao máximo essas despesas, por menores que sejam. Essas foram as principais orientações repassadas por Joaquim ao ser questionado sobre os primeiros passos de empresários, principalmente pequenos e médios, diante das restrições impostas pela pandemia.

Ele pontuou que, antes de tomar qualquer decisão o empresário deve saber exatamente quantos produtos possui em estoque e traçar uma nova estratégia de vendas. “Analisar bem o histórico de venda e selecionar os produtos com maior saída ou uma boa lucratividade para focar na venda desses produtos. Definir novos canais de vendas para alcançar o máximo de clientes no menor tempo possível, como WhatsApp, Instagram e outras redes sociais”, orientou.

“Apesar do isolamento, as pessoas não pararam de consumir, muitas delas querem e desejam comprar. O empresário deve primeiro pensar qual problema o produto dele soluciona para o seu cliente, assim ele vai conseguir encontrar outras formas de comercializar ou criar um serviço até o momento inexistente em sua empresa, e quem sabe assim, consiga vender mais do que antes”, prosseguiu o consultor, reforçando a importância das redes sociais.

“Hoje, mais do que nunca, a empresa que estiver fora do digital está com seus dias contados. Existem inúmeras ferramentas gratuitas que ajudam o empreendedor a divulgar e vender seus produtos através das redes sociais, como exemplo o Instagram, Facebook, WhatsApp, YouTube, Google, entre outras”.

No caso de empresas que comercializam materiais perecíveis é preciso agir ainda rápido. Após o levantamento do estoque, é preciso elaborar uma estratégia de vendas com algum desconto atrativo, associar um produto que possua uma margem de lucro alta com outro de baixo custo: “O importante é fazer o dinheiro girar antes que o produto ultrapasse a validade e o empresário tenha prejuízo, é mais importante vender, mesmo que seja com uma margem menor e gerar caixa para empresa arcar com seus compromissos do que ter prejuízo”.

Crédito e demissões

A opção pela contratação de linhas de créditos é, para o consultor, uma alternativa a ser considerada, principalmente para as empresas que não conseguiram se organizar financeiramente ou para aquelas que tenham realizado algum investimento recente, comprometendo sua reserva financeira.

“Recomendo que o empresário pesquise antecipadamente as linhas de crédito existentes, hoje nós temos linhas de crédito com taxas em torno de 3% a.a. (ao ano). Após essa pesquisa procurar seu gerente de relacionamento e contratar o que tiver a melhor taxa e condição de pagamento, caso necessite”, frisou.

Sobre as demissões, questão que tem tirado o sono de trabalhadores e empregadores e todo o país, e até no mundo, Joaquim disse que, antes de pensar nessa opção, deve ser levado em consideração se existe alguma estratégia de vendas que ainda não foi realizada pela empresa para gerar receita, “por diversas vezes deixamos de enxergar uma solução que está diante dos nossos olhos”.

Ele também citou, entre as alternativas possíveis para evitar demissões, o benefício concedido pela União por meio da Medida Provisória 936. “Ela proporciona ao empresário a redução da jornada de trabalho em 25%, 50% e 70%, por até 90 dias, ou a suspensão provisória do contrato de trabalho, por até 60 dias, devendo ser analisada a necessidade da empresa e os impactos trabalhistas que podem ocorrer. Lembrando que, caso a empresa opte por uma dessas modalidades, a mesma não poderá rescindir o contrato de trabalho por período igual que houver a redução ou suspensão do contrato de trabalho”, alertou.

Exemplos de reinvenção

Em meio a números tão negativos, Joaquim Neto lembrou que vários empresários estão conseguindo se reinventar e alguns até lucrando mais durante a pandemia, principalmente por meio das redes sociais, que permitem a escalada do negócio e a comercialização para todo o país e para o mundo.

“Existem pessoas que mudaram o foco do seu negócio, criaram produtos, conseguiram associar os produtos com as necessidades atuais do consumidor. Por exemplo, um distribuidor e revendedor de joias mudou a forma de trabalho do seu negócio. Antes todos os revendedores compravam em média 100 peças dos seus produtos a prazo e pagavam com 40 dias. Hoje ele incluiu 200 produtos em um portfólio digital, o revendedor envia para seus clientes, ele paga e recebe o seu produto, ou seja, esse empresário passou a não precisar de capital de giro para a sua empresa e eliminou 100% o risco de inadimplência dos seus clientes”, contou, citando também o caso de uma indústria de bolsas que está usando seu maquinário para confeccionar máscaras personalizadas e hoje vende igual ou mais do que antes.

Para finalizar, o consultor reforçou a importância de ter uma fotografia financeira, ou seja, saber exatamente para onde o dinheiro da empresa está indo e analisar cada uma dessas despesas, eliminando o que não for essencial para a sobrevivência do negócio: “Simultaneamente o empresário precisa organizar seu cronograma financeiro para os próximos 12 meses, levando em consideração todos os fatores micro e macroeconômicos que envolvem a sua empresa”.