Ele venceu a paralisia infantil, escreveu lição em barro e cortou cana; agora é pedagogo e professor

14/02/2020 08:52 - Blog da Raíssa França
Por Raíssa França
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Foi na última sexta-feira (07) que o ex-cortador de cana e gari, Jacob Dias da Silva, de 42 anos, colou grau no curso de Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Mas, para receber o diploma e realizar o sonho de sua vida, Jacob precisou passar por um caminho difícil. Na infância, o alagoano enfrentou uma paralisia infantil. Já na fase adulta precisou conciliar o trabalho com carga horária intensa e os estudos.

Alagoano e natural do município de Poço das Trincheiras, Jacob morava no povoado Quandu. Nos primeiros meses de vida teve paralisia infantil. “Era um tipo raro, os médicos diziam que não tinha cura e que eu ficaria paralítico durante toda minha vida”, disse.

Entretanto, aos sete anos, Jacob começou a falar e andar. A cura, ele associa à crença da mãe. “Fui curado pela fé da minha mãe. Com isso, aos oito anos comecei a estudar na escola isolada Irineu Tenório, situada no povoado”, contou.

Mesmo com as sequelas da paralisia, Jacob descobriu o trabalho cedo, aos 14 anos. Seu primeiro emprego era como cortador de cana em usinas da cidade de Santa Luzia do Norte. A carga horária era pesada: 12 horas de trabalho. “Eu saía de madrugada, às 2h, e chegava em casa umas 19h30”, relembra.

Para não interromper os estudos, Jacob levava o material para estudar no canavial. Porém, nem sempre tinha folha para que ele escrevesse e a alternativa que ele buscou foi de escrever na estrada de barro para lembrar o conteúdo da aula. 

Dias deixou a cana e em 2000 começou a trabalhar de gari. Nessa época, ele estudava no ensino médio. “Terminei o curso de magistério e quis prestar vestibular”. Ele sabia que queria pedagogia, mas não passou de primeira. A vitória veio após fazer alguns anos de cursinho comunitário.

Em 2015, Jacob entrou na faculdade e ia, todos os dias, de Santa Luzia para a Universidade. Segundo ele, a vida foi repleta de surpresas e dificuldades, mas garantiu que não se tornaria quem é sem a ajuda dos professores.

“Eu agradeço a todos os professores que fizeram parte da minha história. Em especial, a minha professora Lourdes Laranjeira, que tem 90 anos e eu tive a oportunidade de voltar a conversar com ela em 2017. Eu queria ter levado ela para minha colação, mas não deu”, ressaltou.

Emprego novo

Após trabalhar por anos como cortador de cana e 10 anos como gari, Jacob ganhou um novo capítulo na história de vida: na semana passada foi chamado pela Prefeitura da cidade que trabalha para ministrar aula em algumas turmas. “Confesso que estou muito feliz com minha nova profissão”, reforça.

Jacob reconhece sua história e sua raiz, e disse que a classe pobre precisa lutar e persistir. Agora que se tornou professor, Jacob diz que a sensação de ter conseguido é única. "Agradeço demais ao povo de Santa Luzia o carinho pela minha conquista e os meus colegas garis que trabalham comigo", finalizou.

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Estou no Instagram: @raissa.franca

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