Ela vive na solidão das ruas faz muito tempo, tanto que nem saber dizer quantos. É uma mulher preta, trans e com déficit mental. Sobrevive de pedir uma coisa e outras muitas. Seu ponto principal de “pedição” é a porta da igreja, lá todas as pessoas a conhecem.
Hoje, na manhãzinha cheirando a chuva rápida, a vi no ponto de ônibus e também vi o ônibus chegando. Ela acenou para que parasse, o motorista passou voando, e parou bem adiante para uma passageira descer.
Saiu em desabalada carreira para tentar pegar o coletivo, o motorista arrancou com mais pressa,ainda.
Ficou claro para ela e para todo mundo que viu a cena, que era uma passageira indesejada.
A mulher constrangida baixou a cabeça e olhou para os lados. Eu disfarcei o olhar e me fiz de desentendida, mas, fiquei morrendo de vergonha. Por ela e por tod@s nós que acalentamos o mesmo sentimento daquele motorista para quem não é “igual” a gente.
E fiquei pensando nas muitas vezes que fazemos vista grossa para nossas violentações chamadas preconceitos.
Mesmo assim continuamos a apontar o dedo para o alheio.
Foto meramente ilustrativa