Uma igreja, uma história de fé e devoção, uma tradição que sobrevive há mais de um século. Assim pode ser definida a Igrejinha de São Sebastião, como é conhecida pela população de Arapiraca.

Singela, preserva os traços arquitetônicos originais da época da sua construção, em 1904.  É o segundo templo religioso mais antigo, tombada como Patrimônio Histórico em 2005. Antes dela, em 1865, foi construída a primeira capela, a Nossa Senhora do Bom Conselho, também conhecida de Santuário do Santíssimo Sacramento.

A igreja foi erguida por iniciativa do comerciante José Zeferino de Magalhães, em ação de graças pelo fim de uma epidemia de febre tifoide, ocorrida no então povoado de Arapiraca, entre os anos de 1904 a 1905. A doença provocou muitas mortes. Naquela época, os sintomas eram tratados apenas à base de ervas medicinais, que não surtira o efeito desejado.

Sendo assim, a população, por meio do poder da oração, suplicava pela cura. As preces eram dirigidas a São Sebastião, soldado romano, mártir que se tornou santo protetor da humanidade, contra a guerra, a fome e a peste. O pedido foi atendido e a população se livrou da enfermidade.

Em documento exposto em sala anexa da Igrejinha, é possível conhecer alguns detalhes da sua história, a exemplo da doação do terreno por José de Magalhães; o nome do pedreiro que a edificou, Antônio Marroquim; e a participação de um verdadeiro mutirão, formada pela irmandade da Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, trabalhando na construção.

Depois de erguida a Igreja de São Sebastião, nas imediações da Praça Deputado José Marques da Silva, no centro comercial do município, foi iniciada a festa em homenagem ao santo reverenciado, que inclui novenas, procissão, leilão, banda de pífano e girândolas de fogo. Uma tradição que sobrevive ao tempo. São 113 anos, completados este ano, de devoção, fé, amor e dedicação ao cumprimento da promessa de construir e manter o templo religioso.

Missão

A missão contou com o compromisso de uma família que assumiu a tarefa de preservar a igreja e a sua tradição de cerimônias religiosas, a exemplo da festa anual, em homenagem ao mártir. E não se trata dos descendentes de José de Magalhães. A tarefa foi confiada a Maria Lima de Oliveira.

Segundo relados colhidos de Maria de Lourdes Lima, filha de Maria Lima, quando José de Magalhães adoeceu, chamou a sua mãe e entregou a chave da Igreja, pedindo para que ela nunca fosse vendida e nem destruída, em cumprimento da sua promessa. E que ela nunca deixasse de fazer a festa com a ajuda do povo.

Mantida a promessa, Maria de Lima cuidou, com zelo, por mais de 50 anos da missão de manter viva a tradição religiosa, até os seus 82 anos. Depois dela, a sua filha Maria de Lourdes Lima deu continuidade as atividades. E, somente este mês, já morando em Maceió, para cuidar da saúde, convidou o Pe. Antenor Montenegro e o entregou a chave da Igreja, para que seja administrada pela Concatedral Nossa Senhora do Bom Conselho. E assim, assegurado o cumprimento da promessa.

Exemplos de fé e devoção

Enquanto isso, a história continua com pessoas, devotas de São Sebastião, que testemunham a fé ao Santo. Na manhã do dia 19 deste mês, José Augusto de Guimarães, 74, representante comercial aposentado, e natural do Estado de Pernambuco, afirma que há 12 anos, quando veio morar em Arapiraca, frequenta a Igreja, diariamente. “É o meu momento de oração. Todos os dias eu venho, ajoelho e rezo para agradecer e pedir paz para o mundo”, declarou.

Cleide Maria Laurindo, moradora do bairro Batingas, em Arapiraca, declara que costuma visitar a Igrejinha, semanalmente. Ela é mais uma representante dos fiéis que costumam frequentar o local, com a intenção de rezar, pedir uma graça ou agradecer. Ela explica que realiza o ritual de levar e acender uma vela, há mais de três anos.

Na trajetória da Igreja de São Sebastião, não faltam exemplos de fé e devoção. E para que ela possa ser contada e preservada, há quem a guarde, não somente na memória, mas em arquivo pessoal.  É o caso da Irmã Angela Maria de Lima, secretária da Concatedral de Nossa Senhora do Bom Conselho, que coleciona registros da história de Arapiraca e, em especial, da Igrejinha.

Entre os registros, também utilizados para essa matéria, que compõe a série especial em homenagem aos 93 anos de Arapiraca, estão recortes de jornais, impressões de documentos e registros pessoais da família de Maria Lima de Oliveira, quem assumiu a missão de cuidar e preservar a Igreja e a sua tradição.  “Eu sempre tive interesse pela história de Arapiraca. E a Igreja de São Sebastião é um dos patrimônios que representam a fé do povo e deve ser preservada”, afirmou.