As expectativas e frustrações de um relacionamento pontuam o ótimo suspense "Garota Exemplar"

07/10/2019 15:24 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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Segundo alguns especialistas, nós cruzamos todos os meses com pelo menos um psicopata e não nos damos conta disso.
É assustador, mas ninguém está imune a esbarrar ou até mesmo se relacionar com uma pessoa com esses devios patológicos comportamentais. Envolventes, os (as) psicopatas seduzem, atraem e esmagam vidas de acordo com seus interesses e pulsões.

Em "Garota Exemplar" (2014) nos deparamos com Nick (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike), um jovem casal visto como modelo por todos. Após cinco anos de  casados e vivendo no Missouri, Amy desaparece repentinamente e os indícios apontam para o marido. De vítima a suspeito, Nick passa a sofrer o julgamento da opinião pública, enquanto a trama nos mostra aos poucos que o relacionamento conjugal deles estava longe da perfeição.

Dirigido pelo sempre ótimo David Fincher, "Garota Exemplar" adapta o livro da autora Gillian Flynn e conta com Ben Affleck e Rosamund Pike liderando o elenco.
O filme desde o início é desenhado como um thriller de suspense que joga o espectador em um labirinto de possibilidades e o provoca a lidar com os próprios pré-julgamentos baseados em comportamentos padrões que esperamos de situações e pessoas. É quase automático direcionarmos nossas falsas certezas de acordo como as emoções que ditam a ocasião, mais uma vez baseadas nos nossos conceitos pessoais. Assim, a lágrima é sofrimento, o sorriso é alegria e o silêncio é a culpa ou representa a frieza dos insensíveis, que também são culpados pelo olhos que condenam.

Apesar de se tratar de uma ficção, "Garota Exemplar" conversa perfeitamente com o Superior Tribunal do Achismo Social. Todos os dias dedos apontam como armas e digitam sentenças em redes sociais, ganhando as manchetes da semana. Seja em menor ou maior escala. Ninguém parece se importar com "a" verdade, quando já existe a "sua" verdade. A verdade que se encaixa como uma luva na moldura idealizada pelo senso comum.

O filme também fala sobre expectativas e frustrações. A pressão de servir de modelo gera sonhos e a fantasia pré-definida do futuro. O casamento não deixa de ser um projeto, em que muitos planejam apenas dias maravilhosos, grandes feitos e uma vida de brilho intenso permanentemente, mas a vida a dois não é um roteiro estipulado na mente de um único ator. A relação é uma história que se define de acordo com as ações de seus atores, e estes estão sujeitos a aplausos e vaias, pois o show precisa continuar...
Quem idealiza o destino baseando-se no próprio ego é incapaz de amar aquele que não corresponde com sua fantasia delirante de felicidade.
E nesse loop interminável de "Era uma vez..." a voz que insiste em contar fábulas sobre si vira a personagem mais triste da vida real.

9,0

*Disponível na Netflix

**Instagram para contato: @resenha100nota

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