Destaque do ano, "Coringa" é a balada do louco que você não pode perder
É a vida...
Depois de meses ouvindo notícias, elogios e críticas sobre o filme solo do arqui-inimigo do Batman, finalmente pude conferir "Coringa" (2019) e devo dizer que daquilo que escutei, entendo os aplausos e enxergo como exageradas as reações quanto a violência contida no longa.
De fato, "Coringa" é um filme mais pesado, denso. Aqui não há espaço para as gracinhas típicas das produções de super heróis de Marvel e DC, por mais irônico que possa soar.
Todd Philips, diretor do filme, decidiu contar a gênese do icônico vilão trazendo os elementos que ajudaram a desencadear sua psicopatia. Dessa forma vemos o aspirante a comediante de sucesso Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) sofrendo as angústias do homem comum que é massacrado diariamente por todos ao seu redor.
O histórico de transtornos mentais também prejudica seu discernimento da realidade e interação social. Assim, Arthur é uma panela fervendo, prestes a explodir, tamanha a pressão.
O roteiro, assinado por Phillips e Scott Silver, faz um trabalho excelente de desenvolvimento de personagem, sem se preocupar em agradar o público familiarizado com fan service ou apressar a loucura do personagem. Na verdade a insanidade já está presente desde o início e o filme "apenas" vai nos mostrando aos poucos a aceitação do protagonista de sua própria natureza, pontuada pelos gatilhos que a sociedade tratou de soltar.
O longa flerta com o vitimismo e luta de classes, mesmo que o Palhaço do Crime faça questão de deixar claro que não carrega ideologia política.
Thomas Wayne torna-se um empresário arrogante e oportuno candidato nas eleições de Gotham. Arthur, um sujeito sem grandes oportunidades e humilhado constantemente por colegas e agredido por estranhos. Nessa disputa de Davi e Golias já sabemos de que lado fica a torcida, porém não podemos esquecer que estamos fazendo um tour de duas horas pela cabeça de um homem perturbado, psicótico e perigoso. Assim, nem tudo é como parece. Pelo menos o enredo joga com essas perspectivas e intriga o expectador. Ótima sacada.
E o que falar da atuação mediúnica de Joaquin Phoenix? O Oscar já é realidade, porque o feito do ator o coloca entre as maiores interpretações do cinema. Não apenas do ano, mas de todos os tempos. A transformação física, a entonação, o olhar dizimam o ator para florescer o personagem. É técnica e talento a serviço do papel, da arte e do público. Sensacional.
A violência, tão alardeada nos primeiros reviews, é contextualizada, orgânica para a trama e nem de longe é das mais chocantes. Certamente você já viu algo mais pesado em tantas outras produções.
Em suma, "Coringa" ultrapassa o nicho dos filmes de super heróis e Todd Philips no entrega uma belíssima história de um homem louco que tentou ser são para agradar os normais, mas não aguentou a sanidade insana dessa sociedade e parou de fingir ser o que não é.
"É a vida..."
9.0
*Em cartaz nos Cinemas
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