Diretor de "Hereditário" volta aos cinemas com o perturbador "Midsommar"

23/09/2019 11:14 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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"Midsommar" representa o solstício de verão comemorado na Suécia com danças, bebidas e comidas. Todavia, reza a lenda que o "Midsommar" é um ritual pagão para exaltar a fertilidade da natureza no dia em que a magia torna-se mais poderosa.
Além das duas definições acima, o termo também faz referência ao novo filme de Ari Aster, diretor do elogiado "Hereditário" (2018).

Na trama, Dani (Florence Pugh) viaja para o interior da Suécia com o namorado e três amigos para acompanhar as festividades do início do verão em uma pequena comunidade do campo.
A jovem acabara de perder a irmã e os pais e tem dificuldades de lidar com luto. O companheiro não demonstra empatia sincera com seus sentimentos e Dani parece sufocada com a dor.
Em contrapartida, os membros da comunidade campestre pregam o compartilhamento de corpo e alma. Tudo é dividido como uma família.

Talvez esse seja o grande mote  e maior virtude do longa. Fazer do horror uma alegoria para o sofrimento e a empatia. Ninguém precisa passar pelas dificuldades sozinho. Sentir junto é o primeiro passo para compreender o outro sem julgamentos. Do mesmo modo, o prazer compartilhado gera maior satisfação e tem chances de gerar frutos.
O simbolismo é uma marca forte de "Midsommar", tal como as pinturas que surgem frequentemente no filme. As influências de filmes que representam o subgênero "Folk Horror" ou "Horror Rural", como "O Homem de Palha" (1973) e "O Estigma de Satanás" (1971) podem ser notadas durante a exibição.

Ari Aster dirige seus filmes como um maratonista que a estratégia bem definida. Durante a maior parte da prova ele mantém o ritmo cadenciado, contém o fôlego e não tem pressa para ultrapassar os adversários. Porém, nos últimos 50 metros mostra vigor, potência e energia suficiente para vencer a corrida e deixar claro que é um atleta diferenciado. Foi assim em "Hereditário", e agora em "Midsommar". Aster demonstra domínio completo de seu filme, descarta clichês e jump scares pelo horror, que causa repulsa e choca o espectador depois de prepará-lo gradativamente.
A cinematografia do longa também merece aplausos. Muitos planos abertos e tomadas de câmera criativas conversam diretamente com a estranheza da produção. Diante da proposta bem diferente dos filmes com viés mais convencionais, "Midsommar" precisa ser processado aos poucos. É para ver e rever, pois a cada visita novas nuances serão capturadas. Logo, não espero que o filme seja abraçado pelo grande público que busca um entretenimento de fácil digestão.
Entretanto, para aqueles que desejam uma refeição exótica e farta de significados, "Midsommar" é um prato cheio.

8.5

*Nos Cinemas

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