Teófilo aponta descaso e diz que Renan Filho não investe como deveria na saúde

25/08/2019 19:18 - Roberto Gonçalves
Por Roberto Gonçalves com GazetaWeb
Image

Em seu primeiro mandato como gestor da segunda maior cidade de Alagoas, o prefeito de Arapiraca, Rogério Teófilo (PSDB), cobra do governador Renan Filho (MDB) mais atenção para o município e aponta que a prefeitura está sobrecarregada na área da saúde, ao ter que contribuir para o atendimento de moradores de municípios do Agreste e Sertão que buscam os hospitais e unidades de saúde da localidade. Ele destaca que o município tem investido mais de 30% dos recursos para manter a saúde e pede que o governo estadual cumpra a sua parte. 

Teófilo, que acena concorrer à reeleição, cobra ainda promessas feitas pelo governador há anos e que até agora permanecem apenas no discurso. Após mais de dois anos e meio de administração, o prefeito garante ter levado este tempo para organizar a prefeitura, que diz ter recebido com dívidas e salários atrasados dos servidores. Confiante, ele anuncia diversas obras em andamento e outras para execução e acredita que o povo é sábio e saberá distinguir "quem é quem" na política arapiraquense. Destaca ainda sua forma de gestão com "Transparência" e aposta no uso da tecnologia para melhorar os serviços públicos aos cidadãos.

 

Gazeta - Como o senhor avalia sua gestão nestes mais de dois anos e meio?

Rogério Teófilo - A gente tem diversas ações envolvendo a comunidade, os servidores. São decisões administrativas que a gente envolve toda a comunidade. Os conselhos estão mais participativos. A gente tem agora o programa interativo, onde a sociedade poder dizer o que quer para a sua comunidade. Os próprios profissionais do município hoje entendem que são responsáveis pelo que está acontecendo. Os processos seletivos que fazemos são com transparência, com o envolvimento do Ministério Público. A visão que eu tenho é que o gestor trabalha para a comunidade. Não pode trabalhar para grupos, pessoas. 

Durante os dois primeiros anos de gestão foram muito difíceis, onde nós pagamos vinte e sete salários e meio aos servidores, débitos no comércio deixados pela gestão anterior. Comecei a reorganizar com foco e objetivo que é melhorar as condições de atendimento dos serviços públicos à comunidade como um todo. Todo mundo do interior converge para Arapiraca e fica sob a responsabilidade do gestor ações que deveriam ser só para o município, mas que acabam agregando para moradores de toda a região. 

Estamos aplicando sistema de governança, onde cada secretário assina um termo de responsabilidade perante o Ministério Público, o Tribunal de Contas, porque ele também é responsável pelas ações em cada unidade de trabalho, que me tem como prefeito. Sou mais um servidor eleito para quatro anos. Posso até renovar, dependendo do povo, mas antes é preciso que a sociedade entenda essa nova maneira que fazemos na gestão. Quero deixar bem claro que o tempo do serviço público é diferente do privado. Passamos dois anos repensando todos os contratos, fazendo distratos, encaminhando para a CGU e Ministério Público contratos que a gente não poderia dar andamento. A partir daí, com todo o repensar da gestão pública e não estou buscando bruxos do passado, estou buscando as coisas legais, pois na hora que coloco minha assinatura, eu sou responsável daí para a frente como prefeito de Arapiraca.

No dia que eu sair da prefeitura, serei responsável por cada atitude que tomei como gestor, assim como os secretários. Por isso que queremos o sistema de gestão em parceria com a Câmara de Vereadores, para acompanhar e fiscalizar, propor projetos de lei. Parcerias com os governos do Estado, Federal. Esse é o meu papel. Sou prefeito de 240 mil habitantes e eu já disse ao governador Renan Filho. Eu sou prefeito de Arapiraca e ele governador de todo o Estado. O que for bom para Arapiraca eu não terei problema em dizer a sociedade de onde veio o apoio.

 

Gazeta - Como tem sido a participação do governo do Estado em Arapiraca?

O governo do Estado coloca nos ombros de Arapiraca a área da saúde, o que é inadmissível. Há uma sobrecarga para o município. Temos dados concretos, onde podemos ver que o governo do Estado tem aqui uma unidade de trauma, mas não de atendimento de entrada como acontece em Maceió, por exemplo. Você tem uma sobrecarga aqui nas unidades de saúde, nos serviços de saúde do município e no Hospital Regional. Isso é responsabilidade do governo do Estado, que criou cinco hospitais e nenhum em Arapiraca, que atende mais de 1 milhão de habitantes de municípios do Sertão e do Agreste que convergem para cá. Por que não construíram um hospital aqui? A gente está construindo com recursos próprios e muitas dificuldades uma UPA e isso com o Hospital Regional sobrecarregado. 

A responsabilidade do vice-governador, Luciano Barbosa, e do governador Renan Filho é que tragam mais saúde para Arapiraca. Municípios do Agreste, Sertão, Baixo São Francisco convergem para cá. No serviço de Oncologia, os hospitais de Arapiraca estão há dois meses sem receber dinheiro, valor que já chega a R$ 700 mil. Isso significa falta de recursos. Arapiraca hoje tem uma cobertura de 90% de cobertura do Programa Saúde da Família. Poucas cidades no Brasil tem essa cobertura. Arapiraca aplica 33% dos recursos na área da saúde, além do limite constitucional. Nossa obrigação seria de 15%. O que eu puder fazer, farei, agora o governo do Estado tem que chegar. 

A gente não pode ter um bloqueio e R$ 700 mil de recursos que é de responsabilidade do Estado. A Atenção Básica não recebe nada do Estado. O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, que distribui medicações e alto custo é de responsabilidade do Estado, que não assume e os municípios ficam arcando com as despesas.

O Estado tem que ter um olhar diferenciado para Arapiraca, para o Agreste, para o interior. Arapiraca e região tem hoje o equivalente a 1,8 milhão de habitantes e o Estado tem que investir em saúde. Essa não é uma cobrança que somente eu como gestor faço. Mas o Estado tem atrasado repasses, não repassado os recursos na hora certa. Tem mais de R$ 3 milhões que o Estado deve aos municípios pequenos. A obrigação constitucional do Estado é investir 12% de seus recursos próprios na saúde e tem gasto no máximo isso. Diante disso, os municípios têm gasto entre 20% e até mais de 30%, como é o caso de Arapiraca. A gente precisa que o Estado ajude, não somente criando cinco hospitais em outras regiões. Que o vice-governador e o governador olhem para a saúde de Arapiraca.

 

Gazeta - No que acredita para o desenvolvimento do município?

Arapiraca é vanguarda no processo de desenvolvimento. Na área do conhecimento, Arapiraca passou, em 25 anos, de três cursos de para 54 cursos de nível superior. O crescimento de uma sociedade se dá por meio do conhecimento. Arapiraca tem matéria-prima, tem um comércio forte, serviços, tem conhecimento e, agora, chega o processo de industrialização e precisa ter a gestão pública participando com a maior transparência possível. E isso é gratificante para mim e para a minha equipe. Acho importante dizer para a sociedade tudo o que está acontecendo e as nossas ações sejam aquelas que construam. Temos empresas chegando, o gás chegando e tudo isso depende de uma gestão com transparência e tecnologia. Nós estamos mudando todo o perfil da gestão pública com uso da tecnologia, para acompanhar o desenvolvimento das empresas privadas, do comércio, dos serviços.

 

Gazeta - Com a casa arrumada, o que vem pela frente? Qual a perspectiva?

Eu passei esses dois anos organizando o município com a participação de entidades como a Fundação Getúlio Vargas e outros parceiros. Depois passamos para captar recursos. Arapiraca hoje ultrapassa R$ 150 milhões de convênios com ministérios, através da Caixa Econômica Federal, da Codevasf, para fazer o que está acontecendo. Se você for no bairro Arnon de Mello, por exemplo, 100% das ruas estão sendo calçadas. São 25 ruas e mais de 7 km de calçamento. A Caixa autorizou esta semana R$ 58 milhões e a gente vai entrar no processo de licitação para asfaltar ruas. São 120 ruas. Nós passamos um ano fazendo toda a estrutura de projeto, para aprovação. Nós fizemos agora o processo do shopping à céu aberto no comércio, que já está em fase de licitação. No bairro Planalto, mais 14 ruas estão sendo calçadas. Fizemos a pavimentação do acesso ao Morro Santo da Massaranduba. Se você for na comunidade Cangandu na zona rural, hoje ali é uma avenida calçada, que antes era barro. Vamos fazer o asfalto de Cangandu até o bairro de Canafístula. Temos diversas ações em andamento, que incluem a recuperação do Lago da Perucaba, o Centro de Convenções. É importante lembrar que o tempo de realização envolve toda uma burocracia, que inclui até mesmo a mudança no governo federal com a eleição. Tudo tem sido feito dentro do equilíbrio e da legalidade. A nível de recursos próprios ainda há dificuldades do município para investimentos.

 

Gazeta - E quais ações que o município tem feito na área de saúde?

Estamos licitando agora para que todas as Unidades de Saúde sejam recuperadas. E vamos entrar com tecnologia para o serviço de atendimento à população. Estamos fazendo adesão ao Programa Saúde na Hora; abertura dos Centros de Saúde aos sábados; abertura de salas e vacinas, inclusive aos domingos, no 5º Centro de Saúde.

 E agora no próximo dia 28 de agosto estaremos fazendo um grande lançamento, que é o 'Cria Mais Perto de Você', que significa exames e consultas especializadas próximos à população, nas Unidades Básicas de Saúde. Mais uma ação que o município está fazendo. Mas precisamos de parceiros, que o Estado venha e trabalhe para a população do Agreste e Sertã. Esse é o papel do governador e meu papel também como gestor do município.

 

Gazeta - Há mais dificuldades na relação da sua gestão com o governo Renan Filho?

Passamos um ano para fazer os reparos na iluminação da avenida José Alexandre, na duplicação da rodovia AL-220. Precisou o Ministério Público entrar com uma ação contra o governo do Estado, contra o DER, para que eles adquirissem o material, para a prefeitura colocar. O município não poderia comprar porque não tem orçamento, rubrica para isso, para adquirir material para uma rodovia estadual. Houve uma decisão judicial, nós acompanhamos e hoje está iluminado. Este é meu papel.

 

Gazeta - Tem mais deficiências com relação às ações do governo do Estado em Arapiraca?

A gente tem diversas ações que o Estado poderia participar, ou não. Temos alguns itens que o Estado poderia ser mais presente. Hoje existe em Maceió o Ronda no Bairro. O município de Arapiraca não tem. O Estado aqui poderia ter uma participação ativa. Há uma sobrecarga muito grande no 3º Batalhão de Polícia Militar, em Arapiraca, que atende todo o Agreste. Só na grande Arapiraca são 500 mil habitantes.

 Tem o Cisp que foi prometido há mais de dois anos para Arapiraca e o governador não cumpriu. Temos o Instituto de Criminalística também prometido que é um embate. O governador queria que a prefeitura desse toda a estrutura de pessoal. Como é que a prefeitura iria bancar com recursos próprios um instituto que, se existisse, teria que atender 70 municípios? Isso é responsabilidade do Estado, que até hoje não colocou o instituto aqui. Quando acontece alguma coisa, as equipes têm de vir de Maceió. Está na hora do governador correr para construir. 

O município é parceiro, mas não pode assumir a responsabilidade de ter todo esse processo. Mas o município tenta agregar valor à segurança. Temos mais de 400 vigilantes que atuam desde escolas a praças. Isso significa uma maneira para ajudar na prevenção no município. Também estamos criando a Guarda Municipal. Já fiz um decreto, mas o projeto está sendo encaminhado para apreciação na Câmara Municipal. Vamos ter um aparato inicial, para ser parceiro da Polícia Civil e Militar. A gente precisa ter o governo mais presente aqui.

 

Gazeta - Como o senhor vê as questões políticas que envolvem a disputa pela cadeira de prefeito de Arapiraca?

A cadeira não é minha. É do povo. E tenho o maior respeito a todos os adversários. Você não me viu criticar nem quem está no grupo ou quem saiu do grupo. Eu trabalho para a sociedade, não trabalho para pessoas. Deixo bem claro. Eu agrego valor com um trabalho sério, por isso colhemos agora os resultados. A classe política para mim é um elo. Tenho respeito a todos. Eu só espero ser respeitado. Em momento algum eu denegri a imagem de quem quer que seja. Trabalho com sistema e governança. Quem vai dizer se a gente vai permanecer aqui ou não é a sociedade. Para mim a política é feita, na essência da palavra, pelas pessoas que querem o bem da coletividade. Meu patrimônio é o do ser. Eu estou trabalhando pela sociedade arapiraquense. O povo sabe quem é quem, o povo é sábio. O que eu quero é que a classe política seja julgada com a verdade e a transparência.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..