Hospitais de Renan Filho atrasam, custos duplicam e passam dos R$ 200 milhões

04/08/2019 15:48 - Roberto Gonçalves
Por Roberto Gonçalves com Gazetaweb
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A conclusão de cinco novos hospitais de Alagoas que deveria acontecer até 2020 tem novo cronograma. As obras se estenderão por mais três anos. Agora, a nova promessa é que fiquem prontas até 2022. O custo mais que dobrou. De acordo com informações oficiais divulgadas em abril do ano passado pela Agência Alagoas (órgão de notícia oficial do governo estadual), os novos hospitais juntos somavam investimentos de R$ 90 milhões, dinheiro que sai do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep). Um ano depois, o custo das mesmas obras pulou para R$ 211 milhões. O governador Renan Filho (MDB) e o secretário estadual de Saúde, Alexandre Ayres, apresentaram o plano de estruturação do setor ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com o novo valor das obras conforme divulgou a Agência Alagoas em 18 de abril deste ano.

A construção das Unidades de Pronto Atendimento (Upas) que custavam, em média, R$ 1,5 milhão também mais que triplicou. Segundo revelou o secretário Alexandre Ayres, o governo do Estado está construindo duas novas unidades em Maceió. Cada uma consumirá, do Fecoep, R$ 5 milhões, ou seja, total de R$ 10 milhões.

Enquanto as obras milionárias se arrastam com recursos de combate à pobreza, famílias das favelas de municípios do interior, como as que moram em casas de taipas na cidade de Chã Preta, esperam, há dois anos, liberação de recursos do Fecoep para a construção de moradias em local seguro. Nas últimas chuvas, os barracos das famílias começaram a cair. A empregada doméstica Mônica Lourenço apareceu na última quarta-feira (31), em lágrimas, no ALTV 2ª edição dizendo que não tem como pagar aluguel, sair do barraco com o filho pequeno e a mãe doente. 

O coordenador da Defesa Civil Municipal, Rosalvo Leonardo da Silva, revelou que tem um projeto para a construção de 310 casas populares em terreno doado pelo governo do Estado parado há dois anos na Secretaria de Infraestrutura, a espera da liberação de recursos do Fecoep. A Prefeitura de Chã Preta fez o mapeamento das famílias que moram em áreas de risco. Cerca de 85 receberão aluguel social. A Secretaria estadual de Infraestrutura em nota enviada à TV Gazeta informou que a construção das casas foi aprovada e terão recursos do Fundo de Combate à Pobreza. A construção das casas agora só depende de assinatura de convênio com a prefeitura.

Obras

As obras milionárias que poderiam ser feitas com recursos do Ministério da Saúde não param. Um dos hospitais em construção será entregue até o dia 15 de agosto, a obra física. O Hospital da Mulher vai consumir mais R$ 7 milhões com a aquisição de novos equipamentos.

O investimento previsto inicialmente era de R$ 28 milhões, aumentou R$ 30,8 milhões do Fundo de Combate à Pobreza, sem contar os investimentos em equipamentos. Quando estiver pronto terá 127 leitos. O prédio possui sete andares, localizado ao lado da Maternidade Escola Santa Mônica, na Avenida Comendador Leão, no Poço. Em atividade, o equipamento terá capacidade para realizar 225 partos e oferecer 1.520 atendimentos mensais nas especialidades médicas de Obstetrícia, Ginecologia, Neonatologia, Infectologia, Cardiologia, Mastologia, Endocrinologia, Uroginecologia, Reumatologia e Dermatologia promete as autoridades do governo.

De acordo com o cronograma das Secretarias de Infraestrutura (Seinfra) e da Saúde (Sesau), o Hospital Metropolitano tem 87% das obras prontas; o de Delmiro Gouveia tem 20,94%, está orçado em R$ 30 milhões e, segundo moradores da região, a obra anda lentamente; o do município de Porto Calvo também segue lento com 58,78% do projeto já executado e o custo inicial era de R$ 29 milhões; o de União dos Palmares, orçado em R$ 32,8 milhões também está quase parando, com 44,67% da obra.

As duas novas Upas também se arrastam. A do Tabuleiro do Martins andou 44,67% e a do Jacintinho está concluída. Mas não tem equipamentos. Segundo as informações oficiais, a Organização Social (OS) que gerenciará a unidade está fazendo licitação para comprar os equipamentos. A data de abertura continua

Falta de prestígio político prejudica outras obras de Alagoas

O Ministério da Saúde conhece os projetos dos novos hospitais. Mas até agora não ajudou em nada. Como Alagoas anda sem prestígio junto aos órgãos federais, outras obras do estado estão paralisadas ou em ritmo muito lento. Tanto que na área de saneamento, o estado tenta empréstimo internacional na ordem de R$ 500 milhões, conforme admitiu o secretário estadual da Fazenda, George Santoro, e denunciou o Sindicato dos Fiscais de Renda ao temer que estes recursos emprestados piorem a situação do endividamento.

O estado tem arrecadação estimada em R$ 10 bilhões/ano e a dívida pública está em R$ 10 bilhões, e é considerada como impagável pelo Sindifisco. Os servidores acreditam que novos endividamentos, como almeja o governo estadual, pode comprometer a folha salarial do funcionalismo, atualmente orçada em R$ 300 milhões/mês e se repetir o que ocorreu no governo de Divaldo Suruagy, em 1997, quando o funcionalismo ficou até nove meses com salários atrasados e o estado praticamente faliu. O secretário George Santoro descarta tal possibilidade e assegura que as contas estão sob controle.

Ameaças

Entre as outras obras estaduais que andam lentamente ou pararam algumas chamam atenção: como a duplicação da AL-101 Norte, o viaduto de Jacarecica, o Matadouro de Murici (terra do governador Renan Filho), do hospital de Paulo Jacinto, a Polícia Civil também espera a liberação de recursos para recuperação e reformas de 141 delegacias policiais da capital e interior. Entre as federais ameaçadas por falta de ação política, as que preocupam são: a construção do viaduto do Tabuleiro do Martins, no trevo do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a duplicação de pontos da BR- 101 e a do Canal do Sertão, entre outras.

Piora

Se depender de mais recursos federais a situação deve piorar. O governo do presidente Jair Bolsonaro não demonstra interesse em ajudar Alagoas. Pelo contrário. Promete fechar ainda mais as torneiras. Situação semelhante vivida pela maioria dos governadores do Nordeste, onde o presidente da República nutre sentimento de revanchismo por ter sido derrotado nas urnas. Isto obrigará o governador Renan Filho (MDB) a deixar de lado divergências políticas com parte da bancada federal para tentar unir forças a fim de destravar os repasses federais, via emendas parlamentares e outras articulações.

Um dos três senadores de Alagoas, Rodrigo Cunha (PSDB), em entrevista coletiva com a imprensa na quarta-feira passada (31), confirmou que o estado sofre consequências nas esferas federais. Segundo o senador, há comentários de bastidores em Brasília (DF) da falta de interesses do governo federal em prestigiar o nosso estado. Ao ser questionado incisivamente se o governo federal fechou as torneiras dos recursos para o governo Renan Filho, Cunha respondeu politicamente. "Terá que se buscar outras formas de abrir as torneiras federais que não seja necessariamente via governador". O parlamentar afirmou que "isto terá de ser feito através dos parlamentares, pela bancada federal".

Cunha salientou que percebe retaliações contra governadores do Nordeste e governadores petistas. No caso de Alagoas, o senador tem a sensação de desprestígio político de Renan Filho, em Brasília. "Há uma saída para este problema e é a via parlamentar", repetiu.

Apesar das dificuldades, o governador - que é filho do senador Renan Calheiros (também presidente do diretório estadual do MDB) - até o momento não demonstrou interesse em procurar as bancadas de deputados federais e nem de senadores para discutir estratégias a fim de garantir recursos para programas e obras de infraestrutura, saúde e educação, avaliou Rodrigo Cunha que junto com a senadora Renilde Bulhões - Pros (suplente do senador Fernando Collor - Pros) e Renan pai formam  a bancada de Alagoas no Senado.

O deputado federal Marx Beltrão (PSD) é outro também preocupado com o crescimento de obras paradas no estado. Considera que o relacionamento ruim entre o presidente da República e os governadores prejudica o País e, particularmente, Alagoas. O parlamentar defende gestões políticas via bancada federal para retomada das obras e superação de divergências, conforme declarou na quarta-feira (31) no programa Ministério do Povo, da rádio 98.3 FM.

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