Terceira temporada de "Stranger Things" amadurece conceitos e beira à perfeição

10/07/2019 12:43 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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"Stranger Things" está crescendo! A série, fenômeno do streaming Netflix, que ganhou elogios rasgados da público e da crítica especializada desde seu lançamento em 2016, teve a difícil tarefa de resistir ao tempo e manter o interesse da audiência enquanto seus jovens astros cresciam, deixando a infância para trás. 

Atentos a esse dilema, os irmãos Duffer, criadores da série, foram extremamente perspicazes em perceber a inevitabilidade de lidar com a questão e trouxeram à baila justamente a temática das transformações da idade, das responsabilidades e do amadurecimento. Tudo isso, é claro, regado à monstros, aventuras e muitas referências aos amados anos 80.

O mote desta temporada envolve os temidos russos, constantemente vistos como ameaças à liberdade americana, envolvidos com a abertura de um novo portal para o mundo invertido.
A partir daí, eventos suspeitos surgem como um prenúncio de terror na pequena cidade de Hawkins.

A terceira temporada de "Stranger Things" foi dividida em oito capítulos e a equipe de roteiristas do show souberam harmonizar perfeitamente a tramas e subtramas separando as ações em quatro núcleos diferentes, que se encontram na reta final.

Dustin, Steve, Robin e a pequena Erica seguindo as pistas dos russos, Hopper e Joyce tentando encontrar o novo portal, Nancy e Jonathan investigando uma epidemia de ratos, e Mike, Eleven, Will, Max e Lucas em busca de Billy, agora um zumbi do mal.

Cada um desses segmentos é bem explorado e o sentido de urgência está sempre movendo o plot. Este, por sua vez, bebe da fonte de filmes cult de terror B, como "A Coisa" (1985), em que uma substância gosmenta invade uma cidade deixando uma trilha de corpos, como também faz referência a outros longas da época. "Enigma de Outro Mundo", "Invasores de Corpos" e "Despertar dos Mortos" (1978) de George Romero, onde um grupo de sobreviventes se refugia em um shopping center para se defender de um apocalipse zumbi. Os irmãos Duffer encontraram até um sósia de Arnold Schwarzenegger para criar sua própria versão de "O Exterminador do Futuro"(1984).

Outro destaque dessa temporada é o design de produção caprichado, que nos coloca diretamente na Hawkins dos anos 80. Figurinos, cores, cenários, tudo está perfeitamente ambientado. Os efeitos especiais melhoraram bastante, dando mais veracidade às criaturas e consequentemente elas causam mais horror, repugnância.

Apesar do clima de aventura das matinês, "Stranger Things" não perde o DNA das produções do gênero que lhe dá origem. É possível temer pela vida de todos os personagens e essa imprevisibilidade mexe diretamente com expectativas e emoções. Tais sentimentos despertam interesse, criando laços que nos conectam com aqueles seres ficcionais e talvez por isso esta terceira temporada funcione tão bem. Dessa forma, sacrifícios e consequências são fundamentais para que o espectador perceba o tamanho do perigo.

Com as relações interpessoais estabelecidas, é difícil não se emocionar com o episódio final. As palavras de um rascunho nunca lido em voz alta, simbolizam toda a preocupação com o crescimento acelerado da vida, os medos e a saudade de momentos que passaram e irão continuar a passar, porque viver é viajar por diversas fases de convivência e amadurecimento. Hábitos se encerram para que outros surjam. Interesses mudam e conhecemos mais viajantes, que assim como nós também sonham com novas estradas de destinos desconhecidos, intrigantes. Mas, sabe o que não muda, independe da fase, do tamanho, ou do lugar que o viajante se encontre? 
O ponto de partida. 
O começo que ensina a andar e manter-se de pé, porque essa aventura pela vida vai colocar boas pedras no caminho e nos mostrará que amador não é apenas quem faz algo sem deter o conhecimento daquilo, mas também quem ama a dor que nos torna forte e cientes que o lugar de partida também é o lugar de chegada.

9.0

*Instagram para contato: resenha100nota

*Disponível na Netflix

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