Minissérie "Feud" traz os bastidores de lendária rixa entre duas grandes estrelas de Hollywood

27/06/2019 09:07 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
Image

"Feud", ou no bom português, "Conflito", é uma minissérie em oito capítulos que discorre sobre uma das maiores rixas de Hollywood: Joan Crawford e Bette Davis. Duas atrizes que marcaram época, mas que travaram um duelo público durante décadas.

A produção é de Ryan Murphy, o homem por trás de "American Horror Story" e "American Crime Story". Murphy faz um excelente trabalho de reconstituição de época, quase como um registro histórico do cinema, mas o grande mérito do produtor é ir além de intrigas e maledicências. Aqui, na verdade, ele presta uma grande homenagem a duas grandes divas, reféns da indústria predatória de Hollywood e de suas próprias inseguranças. A crítica aos grandes estúdios e à imprensa também se faz presente em toda minissérie. Ainda há espaço para falar sobre machismo, feminismo e a ditadura da beleza, para mostrar que não estamos tão distantes de outros tempos.

Jessica Lange, parceira habitual de Muphy em trabalhos recentes, dá vida a Joan Crawford. Apesar de dividir os holofotes com Susan Sarandon, que interpreta Bette Davis, o protagonismo sem dúvida é de Lange. A atriz se entrega e emociona ao nos apresentar as diversas nuances da personalidade controversa de Crawford. Extremamente vaidosa e preocupada em seduzir todos a sua volta, Joan viu o tempo passar com a angústia de quem não conseguia pará-lo. A situação foi piorando à  medida que os convites iam minguando e os papéis diminuindo.
Davis compartilhava da mesma angústia, quando recebeu o convite para interpretar a vilã no longa "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?" (1962), ao lado de Crawford.
O filme de terror, que inaugurou o sub-gênero Hagsploitation, trazia a cadeirante Blanche Hudson vítima dos maus tratos da irmã Baby Jane, após o acidente que a lesionou gravemente. As duas, ex-celebridades dos palcos, vivem os dias de ostracismo numa casa longe dos dias de glória.

O projeto, tido como perfeito para as veteranas atrizes, que já não gozavam do prestígio de outrora, foi um sucesso apesar do inferno das filmagens. A imprensa e o chefão do estúdio, segundo a minissérie, trataram de fomentar o ódio entre Crawford e Davis para tirar o melhor de ambas e ajudar a promoção do filme. Conseguiram, mas tudo isso aguçou sentimentos pouco nobres como inveja, raiva e agressões mútuas de duas estrelas que no fundo se admiravam, pois sabiam que iluminavam o mesmo céu.
Davis, que não desfrutava da beleza clássica da colega, venceu na carreira pelo jeito mais difícil, pelo talento. Porém, isso não significa que Joan não tinha predicados, pelo contrário. Crawford também era uma grande atriz, mas não é novidade que a aparência estonteante abre portas.

Infelizmente ambas gastaram energia demais com uma disputa infrutífera. É emblemática a cena em que Davis, na coxia da cerimônia do Oscar de 1978, esperando para entregar um dos prêmios da noite, acompanha, com outras colegas de longa data, o tradicional momento "In Memoriam", em que a Academia relembra nomes da indústria cinematográfica que faleceram no último ano. Joan, que tinha sucumbido a um câncer meses antes teve dois segundo de tela e gerou o comentário ácido e extremamente apropriado: "Cinquenta anos no meio artístico e eles te dão dois segundos!".

Assim, "Feud" é um respeitoso trabalho de Ryan Murphy, com uma interpretação dedicada de Jessica Lange, que sobe demais o tom em algumas sequências, mas que não torna o resultado final menos intenso, e um show de Susan Sarandon incorporando a grande dama do cinema, Bette Davis.

Duas lendas, duas mulheres para não esquecer...

9.0

*"Feud" foi exibida no canal a cabo FX

*Instagram para Contato: resenha100nota

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..