"X-Men: Fênix Negra" e o fim melancólico de um ciclo

13/06/2019 11:36 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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Após a conclusão do acordo que selou a compra do Grupo Fox pela Disney, muito se questionou sobre a utilidade de mais um filme da franquia X-Men que estava programado e com produção em curso. Com chances praticamente certas de um reboot total pelos estúdios do Mickey/Marvel, "X-Men: Fênix Negra" (2019) é um projeto que nasceu morto, mas que se apegou à ideia de concluir com dignidade a cinessérie dos mutantes. 

Quando estreou no ano de 2000, "X-Men" não tinha o sub-gênero dos filmes de heróis para ampará-lo. A última lembrança que martelava a cabeça da audiência era o carnaval brega de "Batman e Robin", do diretor Joel Schumacher. Assim, é inegável a importância do filme assinado por Bryan Singer, para abrir portas e permitir que pudéssemos viver uma era tão boa para os fãs dos seres super poderosos dos quadrinhos.
Entretanto, de lá para cá muita coisa mudou. A Marvel trouxe cores e um universo coeso, sem vergonha do DNA da fantasia. A DC tentou, errou, mas continua perseguindo o caminho do sucesso. Já os mutantes sofreram com uma cronologia bagunçada e a sombra de um Singer ainda preso aos velhos conceitos da época do primeiro filme dos X-Men. Ele não acompanhou a mudança do mercado e a receptividade do público. Não vivemos mais o tempo das jaquetas pretas que escondem personagens. 

Soma-se também os seguidos erros de desenvolvimento de personagens. Na primeira trilogia apenas Hugh Jackman se salvou, imortalizando-se como o Wolverine definitivo. Sir Ian Mckellen fez um trabalho excepcional como Magneto, mas não tão emblemático quanto Logan.
Na segunda fase, iniciada em "First Class" (2011), voltamos no tempo para conhecer a gênese do grupo de mutantes e as coisas pareciam tomar um caminho interessante, mas a volta de Singer trouxe os piores filmes na sequência: "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" (2014) e o terrível  "X-Men: Apocalipse" (2016). 
Do novo elenco não podemos questionar o talento de atores do gabarito de James McAvoy e Michael Fassbender, mas os arcos famosos das histórias em quadrinhos eram deformados em suas adaptações para o cinema. Vilões trocavam de lado apenas pelo apelo comercial de seus intérpretes, efeitos especiais e design de produção risíveis e heróis sem o menor carisma e identificação.
Dessa maneira, a notícia da volta dos mutantes para os braços do estúdios Marvel foi um acalento para o público que nunca perdeu a esperança de ver uma transposição mais fidedigna e respeitosa dos fabulosos X-Men.

Porém, antes do início é preciso falar do fim. A saga da Fênix Negra, vista pela segunda vez nos cinemas, não é a porcaria que andam bradando aos quatro ventos, mas comete o pecado da falta de peso, impacto.
O filme toma um rumo diferente que certamente vai incomodar o fã mais xiita, mas tentei me afastar desse tipo de julgamento pra analisar a execução dos caminhos que o diretor Simon Kinberg escolheu.
A trama traz a mutante Jean Grey como força motriz que move o longa. Após ser atingida por uma energia misteriosa no espaço ela retorna à Terra com uma personalidade alterada e propensa a cometer ataques violentos ao descobrir elementos de seu passado.

Sophie Turner segura bem o papel e seus momentos com Xavier são os que chegam mais perto de funcionar. Em sentido oposto a dinâmica entre os demais personagens é frouxa e fica difícil se importar com qualquer desfecho perigoso para aquele grupo. "Fênix Negra" tenta subverter a figura do Professor X, tornando-o um homem falho, de escolhas moralmente duvidosas. Já Magneto transita pela milésima vez na dualidade de sua personalidade, ora defendendo, ora atacando. Jessica Chastain, parceira de loga data do diretor e roteirista Kinberg, faz o que pode pra ajudar o amigo e entrega o melhor possível, enquanto os demais coadjuvantes pouco contribuem.

Os efeitos especiais são competentes na maior parte do tempo e as cenas de ação prendem a atenção. Certamente, um elenco mais performático levantaria o público.

Os diálogos simples não exigem muito da audiência e mostram que a meritocracia passou longe quando escolheram o mesmo roteirista da contestada última versão do Quarteto Fantástico nos cinemas (2015), "X-Men Apocalipse" (2016) e "Jumper" (2008).

Entre erros e acertos, "X-Men: Fênix Negra" encerra um ciclo de forma melancólica. Não necessariamente pelo filme em si, mas pelo desperdício de todo potencial que o universo mutante poderia nos proporcionar.

Hasta la vista. 

5.5

*Disponível nos Cinemas

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