Recebi de um amigo o PDF do livro ‘Nada Mais Que Tudo’, do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot – com Jaílton de Carvalho - onde ele narra os fatos, os “Bastidores da Operação que Colocou o Sistema Político em Xeque”. Relata, ainda, a sua participação na Operação Lava Jato e revela casos com diversos personagens, assim como o envolvimento de deputados, senadores, ministros, procuradores de Curitiba, advogados e empresários, entre outros personagens.

Corri pra ler as 255 páginas. Mas não deu pra concluir, terminei o sétimo capítulo, pouco mais de 80 páginas. Contudo, antes de chegar ao final da história eis que encontro destacados políticos alagoanos como Fernando Collor, Renan Calheiros, Arthur Lira e o ex- senador Bendito de Lira citados como importantes personagens em alguns eventos. Por isso logo decidi mostrar alguns trechos, com destaque para o senador Fernando Collor. O resto conto depois.

Leia abaixo:

Renan Calheiros – “Há quem diga que os primeiros inquéritos, sobretudo os relativos a Cunha e Calheiros, foram determinantes na política do país. Embora adversários, os dois passaram a fustigar o governo para que, a partir daí, Dilma tentasse segurar o Ministério Público. Não imaginavam que a presidente também poderia entrar na mira dos investigadores, como mais tarde acabou acontecendo? Bom, o certo é que, a partir do primeiro inquérito, Cunha implicou com a presidente, até chegar ao ponto de, alguns meses depois, acolher o pedido de impeachment dela. Renan chegou a devolver para o governo a medida provisória de redução da desoneração fiscal, num gesto claro de hostilidade, cujo alvo parecia ser a Procuradoria-Geral e a nova etapa da Lava Jato”.

Arthur e Bendito de Lira – “O deputado Arthur Lira (PP-AL) teve uma reação diferente. Ao receber o envelope com a informação de que seria alvo de um inquérito da Lava Jato, Lira começou a tremer. Ele teria se descontrolado sobretudo porque o pai, o senador Benedito de Lira (PP-AL), também figuraria na lista. Por mais óbvia que pareça a investigação, nenhum político aceita com naturalidade a ideia de estar num inquérito criminal. A taxa de políticos investigados sempre foi muito alta. Mesmo assim, eles demonstram surpresa e, não raro, têm reações emocionais quando recebem o aviso”.

Fernando Collor – “Mesmo com o trem da Lava Jato rumando firme em direção ao centro do poder, o plenário do Senado aprovou, em 26 de agosto de 2015, minha recondução ao cargo de procurador-geral da República”.

“Pelo menos 13 dos senadores que participariam da minha sabatina na Comissão de Constituição e Justiça estavam sob investigação”.

“Alguns dias antes da minha ida ao Senado, surgiram rumores de que o senador Fernando Collor (PTB) estaria disposto a partir para um gesto tresloucado contra mim durante a sessão”.

“Haveria detector de metais na entrada da sala, mas parlamentares não passariam pelo equipamento e nem poderiam ser revistados pelos seguranças. Só parlamentares poderiam revistar colegas. Quem revistaria Collor? Obviamente ninguém se oferecera para a missão. Então como evitar o pior?”

“Nos primeiros meses da Lava Jato, ele já tinha dado demonstrações de desequilíbrio emocional. Não satisfeito em criticar duramente as investigações em virulentos discursos no Senado, passou a me fazer ataques pessoais, como se estivéssemos numa briga de rua e falar grosso fosse sinônimo de coragem e honestidade. No afã de me intimidar, o senador encomendou um dossiê sobre minha carreira no Ministério Público e o recheou com truncadas informações sobre meu falecido irmão Rogério, algo que me feriu profundamente e que, ainda hoje, custo a absorver”.

“Algumas pessoas me recomendaram usar colete à prova de balas”.

“Um dos responsáveis pela segurança do Senado sugeriu, então, que os seguranças da Procuradoria-Geral fossem armados para a sessão”.

“Depois de sorridentes poses para o batalhão de fotógrafos que fazia a cobertura da presidência do Senado, fomos para uma sala reservada”.

“Renan Calheiros me ouviu com atenção e, solícito, disse que conversaria com Collor.”

“Quando cheguei para a sabatina, pouco antes do início da sessão, o senador Aécio Neves me disse que se sentaria ao lado de Collor e, se percebesse qualquer movimento suspeito, se jogaria sobre o colega”.

“Durante a sabatina, que se arrastou por quase doze horas, não houve tiros. Nem ficamos sabendo se Collor fora mesmo armado. Também não trocamos insultos e nem saímos no braço. Pouca gente notou, no entanto, que o senador tentou insistentemente me provocar. Sentado à minha frente, na primeira fileira da sala, ele me olhava com ferocidade e repetia baixinho: “Filho da puta, eu vou te pegar! Filho da puta, eu vou te pegar!””

“Collor não sabe, mas, no momento de maior tensão, um capitão que fazia minha segurança se posicionou ao lado da fileira onde estava o senador e cravou os olhos nele. O capitão estava pronto para, num salto, conter um eventual ataque. Num outro momento, também tenso, Collor se levantou e foi até à mesa cumprimentar o presidente da comissão, José Maranhão (PMDB-PB). Por alguns segundos, ele ficou em pé, às minhas costas. Nesse instante, um coronel do Exército à paisana que também compunha a segurança se preparou para dar um bote e impedir qualquer tentativa de agressão”.