Refletir sobre os modos com que a dor se constitui nas experiências de vida e a forma como cada um de nós lidamos com ela, é importante para que o movimento da empatia seja instituído. É compreender que cada um sente a dor à sua maneira. A dor se expressa através da fala, mas se expressa principalmente pelo silêncio nos casos de violência. 

O silêncio acaba sendo o "aliado" da mulher que sofre violência, sendo às vezes sua salvação ou da sua família. Quebrar o silêncio tão ameaçado pelo agressor torna-se em muitos casos uma ameaça ainda maior do que permanecer sendo violentada. Isso acontece porque o medo do seu algoz as paralisam, o medo do seu algoz as silenciam! O medo do seu algoz torna-se uma prisão emocional, onde vivem presas a uma corrente imaginária que as aprisionam, gerando algumas emoções e sentimentos,  causando grandes conflitos emocionais e afetivos. 

O agressor mantém a vítima nessa prisão emocional através do seu poder de persuasão e manipulação, e faz isso através de ameaças, especialmente ameaças que incluem àqueles que as vítimas mais amam, geralmente a família, e isso é real! Ameaçam matar algum componente da família caso eles saibam, ameaçam fazendo com que a vítima sinta-se culpada pelas brigas, pela destruição da família. Faz com que a vítima seja envolvida por um medo terrível  do desconhecido por não saberem as reais consequências de suas atitudes após relatarem o abuso. Para uma melhor compreensão podemos elencar:

⚠ O medo de não confiarem nelas por aqueles que elas amam
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⚠ O medo de serem culpadas e causadoras pelo que aconteceu
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⚠ O medo de destruírem a família ao revelarem o acontecido 
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⚠ O medo da exposição, medo do desconhecido de tudo que pode acontecer após relatarem o abuso
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⚠ O medo de que o abusador cumpra as ameaças feitas (esse se não for o principal é um deles, a proteção a família)
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⚠ O medo de que aquelas pessoas que elas amam façam alguma besteira e se prejudiquem (temendo ficarem ainda mais desprotegidas e ainda mais culpadas se algo acontecer àqueles que amam)

As Emoções e os sentimentos são diversos, e se apresentam ao mesmo tempo despertando nas vítimas na maioria das vezes o desejo da morte na tentativa de acabar com sua dor. Se libertar e se fortalecer dentro desse processo não é fácil, mas, as correntes precisam ser quebradas para que possa ser  restabelecida a saúde mental e emocional, onde o brilho no olhar possa voltar e a vontade de viver possa ser maior que a dor vivenciada. 

Não se calem, o SILÊNCIO NÃO PROTEGE! Silenciar a manterá ainda por mais tempo nessa prisão, porém falar te libertará e te fará sair mais rápido dela. Procure ajuda, encontre alguém de confiança para desabafar e juntas encontrarem soluções para que suas lágrimas sejam substituídas por sorrisos.

Espero ter contribuído para uma maior desmistificação sobre o silêncio da vítima que sofre violência. Vocês não estão sozinhas, estamos juntas! 

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Keyla Cristine é psicóloga, psicoterapeuta de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e mulheres em relacionamentos abusivos.