Decisões equivocadas e falta de tom impedem o voo de "Capitã Marvel"

11/03/2019 09:04 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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ATENÇÃO, ESSA RESENHA CONTÉM SPOILERS DO FILME!!!

 

"Capitã Marvel" (2019) é o primeiro filme solo de uma heroína da Marvel Studios e chegou aos cinemas não para rivalizar, mas sim agregar ao protagonismo feminino de "Mulher-Maravilha" (2017) e garantir mais um êxito comercial da "Casa das Ideias".

A direção do longa foi dividida entre Anna Boden e Ryan Fleck, que, juntamente com um time de mais sete nomes, assinaram o roteiro. Este, por sua vez, traz a heroína Carol Danvers no meio do conflito entre duas raças alienígenas, enquanto tenta recuperar suas memórias perdidas.

É uma pena constatar, mas "Capitã Marvel" coleciona erros durante suas duas horas de exibição.
Com nítido problema de tom, o longa é uma sucessão de decisões,  ao meu ver, equivocadas. 
Brie Larson já provou seu talento na indústria cinematográfica, entretanto as melhores cenas de sua personagem acontecem quando o CGI substitui a atriz e preenche a tela mostrando toda sua força. Acredito que não houve encaixe no papel e por isso isento atriz de qualquer responsabilidade.

O roteiro, de fato, parece fruto de um batalhão de roteiristas, em que cada cabeça funciona de um modo singular que não se conecta uma com as outras.
O humor exagerado e injustificável quebra a todo momento o ritmo de sequências emocionais ou tensas. O Nick Fury (Samuel L. Jackson) que vemos em "Capitã Marvel" é uma versão irreconhecível quando comparada a persona sisuda e profissional que foi construída durante os dez anos do "Universo Marvel" nos cinemas. Aqui ele é um tagarela de sorriso frouxo e piadista. Pior que isso só  a justificativa pífia para a perda da visão que lhe rendeu o famoso tapa olho.

E o que falar do plot twist, digno da infame "Pegadinha do Mallandro" vista em "Homem de Ferro 3"(2013)?
Com um decisão equivocada, o longa acabou com os rumores da saga "Invasão Secreta" nas próximas fases do universo compartilhado de heróis. 

A trilha sonora que evoca os anos 90 é jogada sem o menor senso de oportunidade e soa como um "Guardiões da Galáxia" (2014) sem inspiração. No filme de James Gunn as músicas se encaixam perfeitamente e servem quase como um personagem que ajuda a contar a história. Bem diferente do que vemos aqui.

Recentemente, "Aquaman" (2018) provou que um final épico pode salvar todo o filme e nos fazer esquecer as bobagens que vimos então. Infelizmente não foi o caso, pois todas as vezes que a heroína ameaçava engatar uma sequência arrebatadora um alívio cômico era inserido e o momento triunfal ficava pela metade. Uma pena.

Apesar de toda expectativa, "Capitã Marvel" não decolou como o hype fazia crer. Nesse sentido fica a lição que um bom filme deve se ancorar na sua qualidade como obra, independente de bastidores ou fatores extra-cinema. Percebi que atualmente há uma forte tendência em mensurar o nível de um filme pelo seu entorno, ainda em fase de pré-produção, ou ainda, supervalorizar o produto por questões que vão além do que é visto em tela. No final da contas escolher os profissionais pelos méritos que o gabaritam e optar por uma boa história com identidade própria é o que determinará o saldo positivo.

Agora vamos esperar "Vingadores: Ultimato".

Momento "Isso é sério?": Carol Danvers fazendo interurbano de orelhão para o espaço. 

Momento "Isso é sério?"(2): Uma garotinha brinca de mudar roupa de boneca usando tecnologia alienígena. 

Momento "Isso é sério?"(3): Sobra dos figurantes de "Star Wars" fazendo ponta de Skrulls.


5.5

*Nos Cinemas 

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