As imposições sociais em um mundo de extremos orientam as metáforas de "O Lagosta", com Colin Farrell

04/01/2019 17:07 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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Escrito e dirigido pelo grego Yorgos Lanthimos, "O Lagosta" (2016) nos apresenta um futuro onde as pessoas não podem ficar solteiras, sob o risco de serem transformadas em animais. Antes de serem penalizadas, elas têm 45 dias de hospedagem em um hotel para encontrar seu par ideal,  materializar a união e voltar para a cidade, escapando da transformação. Seguindo essa realidade, o solteiro David (Colin Farrell) tenta fugir para a floresta, mas local também possui suas própria regras e proibições.

Os filmes do diretor Yorgos Lanthimos costumam carregar nos simbolismos para transmitir uma ideia específica. Por isso, suas produções são exercícios de reflexão e inevitavelmente não caem no gosto do grande público que procura um entretenimento mais convencional. Em "O Lagosta" não é diferente e desde os primeiros minutos notamos o foco das críticas e o alvo a ser atingido.
No início do longa conhecemos David, um protagonista indeciso com suas preferências e escolhas, mas que é sempre forçado a escolher um partido, visto que ter mais de uma afinidade sobre a mesma questão pode gerar problemas, segundo os interlocutores.
Em sua estadia no hotel, as pessoas precisam detectar um simples ponto em comum para dar vazão a um relacionamento e passar para o próximo estágio do processo, em que convivem com outros casais e depois seguem para um iate, onde devem interagir em harmonia durante um período de tempo. Se houver problemas, uma criança é convocada para integrar o ambiente e tentar reaproximar o casal. Havendo êxito, a sociedade os receberá de braços abertos, caso contrário viverão como animais.
Em contrapartida, a floresta é o lugar do párias. Lá é proibido se apaixonar ou estabelecer qualquer vínculo afetivo. A menor infração é tratada com rigor.

É nessa dualidade que o filme se ergue. David foi pressionado de ambos os lados para seguir uma filosofia. Os extremos exigiam uma posição firme e irrevogável de levar a vida, mas o protagonista só queria seguir suas vontades, pois amanhã podemos desejar tomar um caminho diferente de hoje. Os gostos mudam, as experiências nos mudam e as pessoas mudam. O eterno Raul Seixas já cantava sua preferência pela metamorfose ambulante, do que carregar aquela velha opinião formada sobre tudo.
Não precisamos seguir nenhum fluxo que não venha dos nossos próprios desejos.

8.0

*Disponível na Netflix

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