O jornalista, escritor e cartunista Henfil foi uma figura de destaque no Brasil. Seu traço rápido de contornos ácidos deu origem a personagens icônicos que davam voz as suas mensagens e críticas políticas e sociais. Junto de outros grandes nomes, como Jaguar, Ziraldo e Sérgio Cabral, destilou ironias e sarcasmos nas páginas do jornal "O Pasquim" e marcou época com sua inteligência afiada. 

Fazendo uma retrospectiva da carreira do cartunista, o documentário "Henfil" (2018) acompanha um grupo de jovens buscando os arquivos do jornalista para a produção de uma animação com seus personagens. Para substanciar a pesquisa, os colegas de Pasquim dividem histórias e causos do amigo, que teve a estrada abreviada pela morte prematura, devido a contaminação com o vírus HIV, numa época que as transfusões de sangue não eram fiscalizadas.

Também temos acesso a depoimentos do próprio Henfil, em que podemos ter uma pequena amostra de sua genialidade cruel. Seu temperamento e indignação reverberava em seus traços apressados, colecionando admiradores e desafetos. Mas, mesmo aqueles que foram enterrados em suas charges reconheciam seu talento.

Através de suas criações, a direção tentou captar a aura do artista pontuando o que o levou a dar vida a Graúna, o bode Francisco de Orelana, o cangaceiro Zeferino e os resto da turma.

A opção de seguir por esse caminho foi interessante e tornou o documentário leve, mas perdeu densidade ao não aprofundar mais no homem que buscava o equilíbrio através do desequilíbrio. Henfil foi uma figura intensa e polêmica. Questionador, era um indignado por natureza e provocador por opção. Ou talvez, por natureza também. Por isso, faltou um mergulho mais profundo em seu espírito inquieto.

Entretanto, independente das ressalvas, "Henfil" é um documento extremamente relevante para que possamos conhecer um pouco mais sobre uma figura tão expressiva para o nosso país e intectualmente diferenciada.

7.5

*Nos cinemas Cinesystem