A trilha sonora fala por nós em "Todas as Canções de Amor"

03/12/2018 14:38 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena
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Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) formam um jovem casal que acaba de se mudar para um apartamento em São Paulo. Enquanto arrumava o imóvel, Ana encontra uma antiga fita K7 dos antigos proprietários, Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Julio Andrade), e passa a fantasiar o que motivou aquela seleção de músicas.

Em "Todas as Canções de Amor" (2018), Chico, Gil, Marisa, Moska, Rita, Cazuza, Melodia e Cartola são porta-vozes do desabafo de Clarice para o marido, e a diretora Joana Mariani usa bem as melodias para contar a história de dois casais em estágios diferentes do relacionamento. O início leve e alegre, e o fim melancólico em tom de despedida.

A direção optou por deixar o longa escuro, quase sempre escondendo os personagens na penumbra, onde eles precisam sentir e "enxergar" com os ouvidos. A claridade só vem quando eles voltam a se conectar por um instante que seja.
Como espectador, me senti um pouco incomodado com a opção pela pouca luminosidade. Em boa parte do filme não era possível ver com exatidão as expressões e nuances interpretativas dos atores e acredito que isso prejudicou a imersão.
Sobre o elenco, a disparidade entre os casais do passado e do presente é enorme. Julio Andrade e Luiza Mariani fazem um trabalho excelente e isso reflete no interesse por seus personagens, infinitamente mais profundos do que o casal vivido por Gagliasso e Marina Ruy Barbosa. Não por acaso, o roteiro foi bem mais generoso com o conflito de Daniel e Clarice, e teceu para eles os melhores diálogos e dramas. Se alguma lágrima insistir em dançar, embalada por "Drão" ao pé da escada ou no chão da sala, é porque Andrade e Mariani nos fizeram acreditar. Já Ana e Chico são um casal de pouca empatia, com discussões juvenis e pouca química.

Assim, o ponto forte da produção sem duvida alguma é a trilha sonora, escolhida a dedo por alguém que busca ser ouvida.

Aquelas músicas não contam apenas a história de Daniel e Clarice. Na verdade, elas contam o enredo de filmes que muitos de nós já vivemos ou viveremos algum dia. Um desabafo, uma confissão, uma despedida. São veículos, não raramente, utilizados para expressar nosso estado de espírito e as emoções que nem sempre conseguimos verbalizar ao vivo e a cores, pois somos suscetíveis a trocar de sintonia ao menor sinal de fragilidade.
Clarice e Daniel sofrem, cada qual do seu jeito. O sofrimento não segue uma cartilha, por isso ele pode ser barulhento ou silencioso, mas sempre será sentido.
Clarice criou a playlist do adeus e Daniel, que se recusava a ouvi-la, apertou o play para entender como a esposa se sentia.
Rec é o comando que precisamos apertar para acionar o gravador, que copia sons, dores e amores, expressos em versos de canções. Escolhemos com esmero a sequência exata para passar a mensagem que queremos transmitir. Existe um caminho a seguir. Ouvidos, coração, recordações, olhos marejados e pelos eriçados, ou qualquer sinal de resposta.
Quando terminamos a seleção entregamos ao destinatário a compilação dos nossos sentimentos, desejando a atenção da audição, e, quem sabe, quando a música acabar descobrir que ainda há novas canções de amor para tocar.

6.5

*Nos cinemas

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