"A Casa que Jack Construiu" (2018) é o mais novo filme do polêmico diretor Lars Von Trier. Seu cinema autoral não é de fácil digestão e não agrada a todos os públicos. Nem sempre sou cativado por seus filmes, mas a importância de Lars é fundamental para diversificar e trazer um estilo cinematográfico que foge do mainstream. Fazendo uso de metáforas para tocar em pontos sensíveis da sociedade, o diretor pode soar incompreensível e delirante para alguns, mas Von Trier sempre tem algo a dizer. A mensagem nem sempre é clara e precisa ser decifrada, interpretada, porém, se estiver disposto a uma viagem intensa, pode seguir por essa estrada.
Em "A Casa que Jack Construiu", Jack é um psicopata que reflete sobre os cinco momentos que marcaram sua vida. A conversa com Virgílio, uma espécie de terapeuta, é um ensaio da mente do serial killer, que acredita na beleza da arte em seus atos.
Esse conceito artístico é calcado na beleza advinda de atitudes necessárias. Para ele, a morte é apenas um caminho para a produção de uma obra prima, tal como os camponeses que ceifam a vegetação crescente para garantir a bela paisagem do campo. Ou os líderes genocidas com seus devaneios de paraíso. Ironicamente, o "terapeuta" Virgílio é interpretado pelo ator Bruno Ganz, mundialmente conhecido pelo papel do líder nazista, no filme "As Últimas Horas de Hitler" (2004).
Com formação em engenharia, Jack está empenhado em construir a casa dos sonhos, mas nunca encontra materiais que sustentem suas expectativas.
Para o assassino, as pessoas não passam de material a serviço do belo e do divino, mas tentando subir aos céus, ele encontrou o inferno. Quente, vazio e escuro. Tão escuro que nem sua sombra foi capaz de acompanhá-lo. Jack acreditava que era preciso destruir para construir e que suas matanças tinham a licença poética das artes. Pobre Jack.
O filme é longo, verborrágico e tem um ritmo lento, portanto a paciência é um pré-requisito importante para encarar este último trabalho de Lars Von Trier. Algumas cenas fortes de assassinatos podem incomodar os mais sensíveis e o epílogo extremamente simbólico pode causar certo estranhamento para o espectador.
5.0
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