O inesquecível Freddie Mercury chega aos cinemas na cinebiografia "Bohemian Rhapsody"

02/11/2018 13:41 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena

O ano era 2000 e eu estava iniciando a vida adulta ainda sem saber bem o rumo que iria seguir ou quem eu estaria destinado a ser. Foi então, nesse período de incertezas, que encontrei no acervo musical do meu pai, um disco que mexeria permanentemente com minha cabeça. "Queen, ao vivo no Rock in Rio".
Na verdade, se tratava de um disc laser, que era uma mídia anterior ao DVD, mas que não caiu no gosto popular. Ou seja, era um dvd do tamanho de um disco de vinil contendo o icônico show do grupo britânico no festival de música do Rio de Janeiro.
Até aquele dia, nunca tinha visto a banda tocando, nem me recordava da presença marcante de Freddie Mercury. Como aquele cara de roupa extravagante, dentes que mal cabiam na boca e um bigode inconfundível, conseguia segurar a emoção de uma platéia de 200 mil pessoas?
A única coisa que eu sabia era que algo havia mudado.
Freddie, Brian, Roger e John. Quatro amigos que sabiam o que estavam fazendo e para onde queriam ir. O meu "Rock in Rio" aconteceu na sala de casa, com um atraso de 15 anos. E o show nunca mais parou.

Dito isso, alerto que a resenha a seguir sobre "Bohemian Rhapsody" dificilmente será imparcial. Mas vamos tentar.

Após uma longa gestação, finalmente "Bohemian Rhapsody", cinebiografia da banda de rock Queen, vê a luz do dia!

Envolvida em uma produção conturbada, o filme passou pela mão de vários diretores e por outro protagonista. Sacha Baron Cohen, o eterno Borat, durante muito tempo foi associado ao projeto, mas por divergência criativas com os integrantes do Queen, que tinham outras ideias em mente, ele abandonou o papel de Freddie Mercury. 
O líder do grupo britânico acabou caindo no colo do ator Rami Malek ("Mr. Robot"), que teria a responsabilidade de encarnar a personalidade marcante do cantor sob a direção de Bryan Singer ("X-men"), que viria a ser demitido já na pós-produção devido a conduta pouco profissional.
Ciente disso, fui ao cinema animado pela biografia da minha banda de rock preferida, mas receoso pela qualidade do material que seria entregue.
Geralmente, esses problemas de produção costumam afetar o que vemos em tela, e de fato afetou, apesar das virtudes. Mas vamos por partes.
A caracterização dos personagens reais, ao meu ver, foi um grande acerto. Rami Malek, apesar do biotipo mais franzino que o de Mercury, se saiu bem ao emular gestos e modo de falar do cantor. Faço uma ressalva para o excesso de closes nos olhos do ator, que poucas semelhanças guardam com o biografado.
Brian May e Roger Taylor, guitarrista e baterista do grupo, tiveram bons intérpretes e John Deacon, o baixista, foi discreto e recebeu pouca atenção do roteiro.
O enredo, que se propôs a contar a trajetória do Queen até o emblemático show do "Live Aid", para arrecadar fundos para a África,  na verdade é uma reconstituição resumida da ascensão de Freddie Mercury como uma lenda da música. 
Em prol da narrativa, vários fatos verídicos foram alterados e pontos das personalidades dos músicos se perderam no caminho. Roger Taylor virou um mulherengo engraçado, Brian, um músico passivo, e Deacon só fazia caras e bocas com o pouco tempo em cena.
Mary Austin, detentora dos royalties da obra de Freddie até 2041, deixado em herança após a morte do cantor, tem um papel de destaque no filme. Não sei até que ponto, foi uma decisão puramente criativa.
O humor é recorrente no longa e serve para nos lembrar que o filme não tem a intenção de ser um drama mais intenso.
Os momentos no palco tem pouca energia e me parece que faltou química entre os atores. As opções dos takes de câmera distanciaram o Queen de seu público, por isso, na maior parte do tempo o êxtase dos shows ficava para nossa imaginação. Bradley Cooper, por exemplo, em sua estreia como diretor no romance "Nasce uma Estrela" (2018), conseguiu transmitir para o espectador a sensação de subir no palco e tocar para uma multidão. Já a vida pessoal de Freddie foi um mergulho calculado e serviu apenas como um vislumbre do que realmente aconteceu.
Mesmo assim, confesso que em dois momentos foi difícil conter a emoção. O relato de Mercury sobre a experiência de ouvir o público brasileiro cantar suas músicas e a performance no "Live AID" foram de arrepiar. Passei todo o filme batendo os pés, cantarolando baixinho pra não atrapalhar o vizinho na cadeira ao lado e recordando aquele dia, no ano 2000, quando Freddie me disse: "Nós somos os campeões, meus amigos! E nós continuaremos lutando até o fim!"

Nota: O filme não é perfeito e tenho a noção que ele é menor do que o tamanho da banda, mas é o Queen numa tela de cinema. Freddie Mercury! Então esqueça as críticas e vá se divertir.

Instagram: resenha100nota

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..