O som do silêncio ultrapassa as paredes no drama histórico "Uma noite de 12 anos"

29/10/2018 14:26 - Resenha100Nota
Por Bruno Omena

Calcado em fatos reais, "Uma noite de 12 anos" é um documento histórico do período ditatorial vivido pelo Uruguai na década de 70 e início dos anos 80, em que jovens revolucionários foram presos e mantidos como reféns do governo sob condições sub-humanas.

Dentre os vários detidos, acompanhamos os 12 anos de maus tratos vividos por três deles: Maurício Rosencof (Chino Sarín), Eleutério Fernández Huidobro (Alfonso Tort) e José Mujica (Antonio de la Torre), que décadas depois viria a ser eleito presidente de seu país.
Durante o cárcere, os três colegas eram proibidos de se comunicar, como num longo voto silêncio instituído pelos militares, e as poucas visitas que recebiam eram controladas sob fortes ameaças.
O roteiro do longa consegue transmitir bem a angustia daqueles anos de sofrimento e solidão. Cada um dos amigos tem um porto seguro que os ajuda a resistir. Mãe, esposa e filhos. Pessoas que se importam, que não esquecem quando o mundo parece esquecer. Pessoas que não desistem e não nos deixam desistir, mesmo quando a loucura parece fazer mais sentido do que a realidade sã.
O filme é um retrato triste de um momento político conturbado, que gera imediatamente uma análise mais próxima.
Viver em um país dividido segrega amigos, presentes e futuros. Separa famílias e descarrilha um trem que deveria levar todos para o mesmo destino. Por que lutamos? Por um lugar justo e próspero, ou apenas pela concretização da nossa visão de justiça? 
Não sejamos o samba de uma nota só, refém de velhos ritmos em que apenas um irá dançar. Vamos falar e ouvir, pois até o silêncio tem algo a dizer. 
Utopia? Não. Prefiro chamar de esperança.

8.0

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