Por que Sânia Tereza nunca foi julgada pela morte do vereador Luiz Ferreira?

13/09/2018 09:52 - Coluna Labafero
Por Redação
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Setembro é o mês que todos os anadienses recordam um crime que marcou a política local e deixou mais um rastro da violência política no estado. A principal acusada do homicídio nunca foi a julgamento e aguarda após sete anos sentar no banco dos réus em prisão domiciliar.

Todos os envolvidos – o ex-esposo de Sânia e o executores – foram julgados e condenados pela morte, mas ela considerada a mandante do crime continua impune, mesmo tendo sido denunciada pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Pedindo Justiça e julgamento da acusada, familiares lançaram um carta aberta contra  impunidade.

Leia a íntegra do manifesto: 

Luiz Ferreira, presente!

Em um dos sonetos de Camões, de que Luiz mais gostava, o do verso “Sete anos de pastor Jacob servia…”, cantava-se a lealdade amorosa, “a vida na esperança de um só dia”, a persistência do Amor em meio a intempéries da vida…

Na esperança de melhores dias para sua cidade natal, Anadia, em Alagoas, Luiz Ferreira, sem saber, acabou dando a própria vida, enredado numa trama trágica, em que foi enganado por pessoas de seu convívio político na cidade, que tanto amava, enquanto exercia o segundo mandato de vereador e estava sendo cotado para ser o prefeito do município. Pessoas a que ele deu assistência como médico, cuidando de suas dores e feridas, e aliviando seus sofrimentos, traíram-no covardemente e o atacaram levando-o à morte. Pessoas que sentaram com ele à mesa para partilhar o convívio de sua família, o alimento físico e afetivo, tudo que representava para ele e para nós, sua família, encontro de mentes e espíritos solidários; essas pessoas o assassinaram em uma emboscada que feriu a ele e a todos nós que o amávamos.

Mesmo desconfiando dos crimes que seus colegas políticos pareciam cometer às escondidas, mesmo tendo conhecimento da disputa pelo poder, nunca acreditou que sua vida corresse risco! Temos certeza de que, se assim desconfiasse, teria optado pela vida, mesmo sendo um apaixonado pela política. Também, nunca acreditou que no momento em que confirmasse suas suspeitas e denunciasse crimes ou armações, essas pessoas fariam de tudo para calá-lo. Acreditava estar lutando por justiça social para um povo tão sofrido.

Acreditava que a política não foi feita para ser “modo de sustento” de ninguém; por isso, de maneira ingênua, chegou a tentar votar, em seu mandato de 2011, um projeto de diminuição salarial dos vereadores. Achava que, como em alguns países acontecem, um político deveria receber o mesmo salário que recebera em sua profissão anterior, apenas tendo uma licença de tempo para exercer o cargo para o qual fora eleito. E pensava que esses gastos poderiam ser usados para políticas públicas voltadas para a saúde e a educação. Para muitas pessoas, na política partidária, estar na política significa enriquecer às custas do povo, e apenas isso.

Nós, de seu núcleo familiar mais íntimo, não gostaríamos de ano após ano ter essa marca tão doída, quase física de tão lancinante, do episódio de 3 de setembro. Gostaríamos de lembrar apenas as coisas boas, a pessoa doce, amorosa, divertida, responsável e comprometida que era, pois assim como era com sua família, era também com as pessoas de seu convívio social, profissional e político. Era, sobretudo, honesto. E, infelizmente, no mundo em que vivemos a honestidade parece ter sido transformada em ingenuidade. De repente parece ingênuo acreditar que é possível fazer política pelo povo, que é possível lutar por justiça social.

Esses sete anos não podem ficar esquecidos na memória dos cidadãos, pois foi um crime político em que um cidadão honesto e amoroso, imbuído de valores de positividade, foi assassinado cruelmente por não concordar com as armações e crimes da então prefeita da cidade, que se encontra em prisão domiciliar com tornozeleira, em sua cidade natal, ainda aguardando julgamento com mais dois comparsas que executaram o crime. Ao total, foram seis pessoas acusadas. Três delas já foram julgadas e condenadas. A prefeita e mais dois estão aguardando julgamento e aproveitando do dinheiro público com que desonestamente construiu o próprio patrimônio. Dinheiro esse que poderia estar sendo investido em educação, saúde, segurança pública, mas que está investido em patrimônio pessoal, em altos salários de advogados para a defenderem.

Essas mesmas pessoas covardes continuam lesando qualquer valor de honra e decência, fazendo-se passar por pessoas honestas. Continuam a enganar as pessoas como se fossem perseguidos políticos. Como se sempre estivessem ao lado do povo contra os grandes coronéis alagoanos. Acontece que a história não é feita apenas pelo que se fala, é feita de fatos. E as pessoas não são burras! Nossa família sempre soube o que é a luta pela melhora da vida do povo, sempre se colocou ao lado dessas lutas. Seja na luta por educação ou por saúde pública de qualidade, seja nas defesas políticas, nossa família, impregnada dos valores do Luiz, adotou a honestidade e a justiça como princípios básicos.

Sabemos perfeitamente o que são pessoas perseguidas politicamente, como vimos no momento sombrio da ditadura militar, como vemos hoje, também, em situações políticas. E sabemos que não combina, com nada disso, pessoas que enriquecem com dinheiro público, que fazem de tudo para não largar o poder, que contratam assassinos de aluguel quando encontram oposição aos seus planos. Esses, que tentam enganar o povo são os mesmos coronéis de sempre, homens ou mulheres desonestas, tentando se fantasiar de justiceiros.

Em tempos em que há tanto crescimento do discurso de ódio em nosso país, é sempre importante saber quem está, de fato, na política pelo bem do povo, ou apenas para benefício próprio.

Para a sociedade, a impunidade é tão violenta quanto o próprio crime! A impunidade pelo assassinato cruelmente planejado, e que, como dito em delação premiada de um dos participantes do crime, estava preparado para ser realizado na casa de Luiz Ferreira, com quem estivesse em casa, e só não foi feito dessa maneira, segundo os próprios assassinos revelaram no inquérito policial, por questões “práticas” para eles.

Um assassinato pago a preço de “tabela”, como quem paga uma mercadoria. Pago pela ex-prefeita e por seu então marido naquela época, hoje, já condenado. Um assassinato encomendado não só para calar um opositor e possível concorrente para a prefeitura, mas para calar as denúncias do desvio de verba de uma cidade já quase sem recursos. Um assassinato encomendado para manter sua boa vida às custas do povo. Sete anos não são sete dias! A justiça, nesse caso, não é só para nossa família, é para a sociedade, a sociedade anadiense, em especial.

Para a família, o esclarecimento, o julgamento e a condenação dos criminosos é um dever do Estado. A dor da saudade permanecerá sempre em nossos corações e junto com as melhores lembranças daquele que tanto amamos. Mas as piores lembranças daquele dia, há 7 anos atrás, não conseguiremos apagar.

Lembrar esse triste dia não é somente um desabafo familiar, mas, é, sobretudo, um pedido a Justiça, para que fique vigilante e recuse a impunidade, para que outras famílias não sofram como ora sofremos e não passem pelo que doloroso e tragicamente passamos. A dor pela ausência de Luiz constitui um sofrimento que integra nossa história, mas nos ensina a continuar sua luta.

LUIZ FERREIRA, PRESENTE!

Rita e Mariana Namé, e família.

 

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