"Simonal - Ninguém sabe o duro que dei" (2009) é o documentário que apresenta a ascensão e queda do cantor Wilson Simonal.

Dono de uma das vozes mais bonitas da história da música brasileira, Simonal dominava uma platéia como poucos. Exalando carisma, ele conquistou o grande público com um swing debochado e canções contagiantes, como "Sá Marina", "Mustang cor de Sangue", "Nem vem que não tem", "Zazoeira" e a  deliciosa versão de "País Tropical", de Jorge Ben Jor.
No auge da carreira, gozando de grande prestígio, foi acusado  de mandar sequestrar o seu contador que o processava por questões trabalhistas, e em seguida ganhou fama de delator ao ser acusado de apoiar o regime da ditadura militar e colaborar como informante do DOPS, órgão do governo responsável por manter a "disciplina" do regime. A classe artística não perdoou a suspeita sobre Simonal e o transformou em persona non grata, condenando-o ao esquecimento.
O documentário, através do depoimento dos filhos, amigos e colegas, retrata bem o caminho percorrido pelo cantor e tem o grande mérito de não suavizar o retrato do artista, que talvez tenha confiado demais no carisma e o seu ego pode ter feito com que escolhesse mal as palavras em uma época delicada da nossa história política. 
Guardando similaridades com o presente, Simonal pode ser considerado uma vítima de si, mas também dos ânimos acirrados de um cenário que exigia uma posição  partidária. Se não for ativista de um dos lados, será considerado instantaneamente opositor do outro. Esse era o pensamento reducionista da época, que não me parece tão distante dos dias de hoje.
Quando a poeira baixou e Simonal conseguiu documentos que provavam que nunca se envolveu com órgãos de tortura e censura, ninguém pareceu se importar, e não há nada pior para o artista que a indiferença.
Realmente, ninguém sabe o duro que Wilson Simonal deu na vida, mas assistindo ao documentário podemos imaginar.

9.5

*Disponível no Youtube