Aliar ações de sustentabilidade à geração de renda tem sido cada vez mais constante ao redor do mundo. Em Alagoas, iniciativas que resultam em “dinheiro verde” começam a despontar entre pequenos e grandes empreendimentos, além de iniciativas de cidadãos que encontraram uma nova forma de vida a partir da consciência ambiental. Investir em negócios sustentáveis faz bem ao meio ambiente e leva retorno financeiro para quem embarca nesta jornada.

Patrícia Ramos, presidente da Cooprel Benedito Bentes, é um dos exemplos. Ela começou como catadora de lixo nas ruas do Conjunto Paulo Bandeira e hoje comanda a cooperativa de reciclagem, que beneficia 25 famílias.

Ela conta que o começo não foi fácil. “A gente era tratada com lixo, era discriminada pelas ruas”, lembrou Patrícia ao relatar o trabalho que fazia junto com um grupo de vizinhas. Árduo, o trabalho rendia pouco dinheiro ao final do mês. “Era muito pouco, R$ 10, R$ 50. O máximo era de R$ 100, mas isso era muito difícil de acontecer”, relatou.

Pensando no potencial que atividade oferecia aliando renda à ajuda ao meio ambiente,
Patrícia foi adiante. Ela localizou um galpão, onde hoje funciona a Cooprel, e iniciou as
atividades de reciclagem em 2013. Segundo a presidente da Cooperativa, a atividade devolveu
sua dignidade. “A reciclagem mudou tudo. Agora eu tenho renda. Agora a gente ganha um
salário mínimo. Antes não tinha dinheiro e tinha que pedir ao meu marido. Hoje posso ajudar
meus filhos”, afirmou.

 

Mãe de três filhos biológicos, Patrícia conseguiu adotar mais uma menina. “Hoje tenho meu
emprego e adotei mais uma filha. Posso dar a ela o que não pude dar aos outros três”, frisou.
A presidente da cooperativa explica que, ao recolher o lixo na comunidade onde a entidade
está inserida, são repassadas informações aos moradores sobre a destinação correta dos
resíduos.

“Temos consciência ambiental e tentamos passar para o pessoal. O lixo traz doença,
entope galerias e só causa problemas. Se limparmos vai ser bom para todo mundo, para
nossas famílias, futuras gerações, nossa saúde e, claro, para o meio ambiente”, ressaltou.

 

Patrícia, com um sorriso no rosto, garante que sua trajetória tem um antes e um depois da
reciclagem. “Hoje eu rio à toa, minha vida mudou da água para o vinho. Hoje eu tenho o meu
dinheiro. Sou muito feliz no meu trabalho. Hoje eu sou rica graças a Deus e à reciclagem. O
que muitos dizem que é lixo para mim é ouro”, comemorou.

A coleta seletiva também transformou a vida da ex-catadora Ana Lúcia Lima da Silva, de 42
anos. Servidora pública há 17 anos, ela transformou a aversão aos cuidados com o meio
ambiente em paixão à preservação e com isso descobriu uma forma de ajudar a sustentar a
família. Casada com Joseilton Cardoso da Silva e mãe de três filhos, Ana Lúcia conta que
passou necessidades e teve dificuldades para manter a família.

Desempregado e com a renda baseada em “bicos”, o casal viveu em um barraco de lona no
Conjunto Virgem dos Pobres I até o ano de 2001, quando os dois foram aprovados no mesmo
concurso público para coletores em Maceió. Ambos no primeiro emprego, Ana e Joseilton
começaram a atuar na coleta do lixo domiciliar. Neste serviço, a ex-coletora permaneceu por
três meses e depois foi transferida para a coleta seletiva, tratando apenas do lixo seco com o
recolhimento porta a porta feito pela equipe da Superintendência Municipal de Limpeza
Urbana (Slum).

“Nessa transferência, uma experiência fez minha consciência mudar. Até então não pensava
no meio ambiente, não tinha qualquer cuidado ou preocupação. Agi de forma errada e fui
punida”, lembrou a ex-catadora. A experiência, na verdade, foi uma repreensão. Em um dia de
trabalho, ela seguia no caminhão de coleta. Após tomar uma água de coco, jogou o recipiente
na rua. Atrás do veículo, um carro do Departamento de Fiscalização da Slum monitorava a
equipe em que ela estava. Ao constatar o descarte inadequado, o coordenador pediu que o
caminhão parasse e abordou Ana.

“Joguei na rua e para mim era algo normal, como muita gente infelizmente ainda faz. O
coordenador repreendeu a minha ação, principalmente por ser de uma coletora, e fui
advertida. A partir disso o meu pensamento começou a mudar”, contou.

Pouco tempo após a advertência, Ana Lúcia foi novamente transferida de setor. Grávida do
terceiro filho, não poderia seguir com o trabalho operacional em decorrência do esforço para
subir no caminhão e pelo peso para recolher os resíduos. Das ruas, passou a trabalhar na
Coordenação de Educação Ambiental, onde teve o primeiro contato com a reciclagem por
meio do artesanato.

“Pensei em desistir e pedir demissão, não foi fácil. Depois que fui repreendida, o pensamento
começou a mudar. Não gostava de artesanato, não tinha vocação para educação ambiental,
mas fui me adaptando. O meu sonho era ser enfermeira, virei coletora. Hoje sou educadora e
não me vejo fazendo outra coisa”, afirmou Ana. .

 

A mudança para Ana foi bem além de uma simples transferência de setor. A partir daí, buscou
não somente se especializar no artesanato, mas também se preocupou com a formação
acadêmica. Fez cursos custeados pela Slum em educação ambiental e, por conta própria, se
matriculou em uma faculdade particular para cursar gestão ambiental. Após concluir o curso,
fez ainda a pós-graduação em auditoria ambiental. Tornou-se coordenadora na Slum e, 10
anos após ingressar no serviço público, encontrou no artesanato sustentável uma fonte de
renda.

Com a experiência adquirida, iniciou a produção de artigos nas horas vagas e passou a receber
encomendas. Autodidata e contando com o apoio do marido, também se tornou facilitadora
de oficinas de artesanato para reciclagem. O trabalho com pneu, papelão e garrafa PET hoje
garante um bom complemento da renda da família. O lucro chega a R$ 1.200 nas oficinas com
duração total de 12 horas, com realizações não somente em Maceió, mas também atendendo
a convites recebidos de cidades do interior de Alagoas.

Recentemente, segundo contou à reportagem, Ana também entregou brinquedos infantis e
um jogo de lixeiras de coleta seletiva feito de pneu, uma encomenda que rendeu R$ 3 mil.
Ainda sobre as lixeiras, ela explica que as quatro unidades rendem um lucro de R$ 450,
enquanto objetos menores, como kits decorativos feitos de garrafa, custam R$ 50.
Hoje lotada na Coordenação de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Sustentável (Semds), Ana Lúcia afirma que este trabalho é o que garante o

sustento dos nove integrantes da família Lima da Silva, contando com ela, o marido, os três
filhos, um genro, duas noras e um neto. “Seria muito difícil de sustentar a família. Temos o
nosso salário como servidores públicos, mas somos nove pessoas na mesma casa”, completou.

Marcela Câmara é uma jovem empresária que há um ano resolveu mudar o estilo de vida para
harmonizar o trabalho com a espiritualidade, segundo ela descreve. Esta mudança resultou no
lançamento, em maio de 2017, da Mentalize, a primeira marca alagoana de biocosméticos. A
jovem de 27 anos hoje é responsável pela produção artesanal de uma linha ecológica e vegana
de cosméticos, entre óleos, hidratante, desodorante, demaquilante, repelente, gel e pó dental,
banhos de ervas e argila verde, tudo feito com matéria-prima natural.

Publicitária, ela chegou a trabalhar em agências de comunicação e até pouco tempo vivia ao
estilo lifestyle. Marcela também trabalhou como blogueira e modelo para marcas locais e
nacionais, realizando publicações diárias de fotos de moda e mostrando a sua rotina de treinos
físicos e alimentação aos seus mais de 62 mil seguidores no Instagram, além do Facebook,
onde sua página reúne cerca de 7,7 mil usuários da rede social.

 

O que para muita gente pode ser visto como “boa vida”, para ela era um conflito pessoal, por
isso conta que resolveu mudar. “Sempre tive contato com a natureza, mas não tinha uma
preocupação grande. Sempre fiz yoga e meditação, cresci no espaço holístico da minha família,
e sou vegana. O fato de viver apenas para mostrar onde eu estava e o que fazia, o que vestia e
o que comia não me fazia bem. A impressão para quem me conhecia apenas nas redes sociais
poderia ser de que eu fosse uma pessoa vazia, apenas aquilo que mostrava nas fotos. Eu
necessitava fazer algo mais pelas pessoas e pelo mundo”, disse a empresária.

O conflito pessoal levou a jovem a caminhos bem diferentes do glamour das redes sociais. No
ano passado, Marcela viveu por três meses em três comunidades sustentáveis da Bahia. Foi lá
onde aprendeu os princípios para a produção de biocosméticos e resolveu associar a vida profissional ao bem-estar, passando a se dedicar exclusivamente à empresa após voltar para
Maceió, deixando de lado a vida de modelo, blogueira e publicitária.

Sobre o sustento após o novo estilo de vida, Marcela Câmara enfatiza que consegue se
manter. “É um trabalho como outro qualquer, a diferença é que a há uma harmonização entre
o consumo e o meio ambiente. Mais do que vender, o importante é conscientizar. Esta é uma
tendência, o mundo chegou ao limite dos abusos com a natureza”, afirmou a jovem, que
mantém as partes administrativa e operacional da Mentalize sozinha, contanto apenas com
colaboradores informais, a depender da demanda.

A empresária explica que seus produtos se diferenciam dos convencionais, sobretudo, pela
matéria-prima biodegradável e pela composição das fórmulas, que são livres de químicos
nocivos. Os cosméticos da marca custam em média R$ 20 e, além de faturar com a venda,
Marcela também compartilha o conhecimento teórico e prático. Ela já realizou quatro oficinas,
com uma média de 20 pessoas por turma, e tem a quinta programada para o próximo dia 19
de maio em comemoração ao primeiro ano da Mentalize. Em cada oficina, o custo por
participante é de R$ 100.

A vivência em comunidades sustentáveis também transformou a vida de Guilherme Medeiros,
de 35 anos. Engenheiro civil por formação, ele trabalhou por 10 anos na empresa em que era
sócio do pai, período que realizou obras da construção civil convencional entre serviços para
clientes privados e para órgãos do poder público em Maceió.

A insatisfação com a forma de trabalho o fez buscar um novo estilo de vida: a permacultura,
um modo de convivência que consiste no planejamento e execução de ocupações humanas
sustentáveis, unindo práticas ancestrais aos modernos conhecimentos das áreas de ciências
agrárias, engenharias, arquitetura e ciências sociais, todas abordadas sob a ótica da ecologia.

Na bioconstrução baseada nos conceitos da permacultura, casas são construídas
com menor custo e menor tempo em comparação à construção convencional. Foto: Cortesia

Medeiros conheceu a permacultura durante vivências realizadas nos últimos três anos em
comunidades na Bahia, entre as regiões da Chapada Diamantina e Itacaré. Nestes locais, um
dos conhecimentos adquiridos foi a bioconstrução, que foge dos parâmetros convencionais da
construção civil pelo fato de imprimir a responsabilidade ambiental e os conceitos ecológicos
desde a concepção de um projeto.

“Nas comunidades em que vivi, os grupos fazem casa de pau a pique com bambu, madeira de
reflorestamento, garrafas PET, barro e areia, sem cimento. Uma casa de 100 metros quadrados
chegou a ser completamente erguida em três meses e com um custo médio de R$ 30 mil. Se
fosse pela construção convencional, com materiais que não são ecológicos, esta mesma casa
poderia custar em torno de R$ 150 mil e seria construída em um tempo muito maior”, contou
o engenheiro.

 

Além da utilização de matéria-prima ser completamente sustentável, outro fator que
diferencia a bioconstrução é que não há tanta exigência quanto aos acabamentos, o que
normalmente gera um custo maior ao consumidor no modo convencional. “A beleza de uma
construção deste tipo está na naturalidade, por isso não existe tanto rigor com o acabamento.
A prioridade é harmonizar o espaço com a natureza”, explicou Medeiros.

Segundo o engenheiro, esta não é uma realidade muito distante de Alagoas. Ele conta que já
começou a desenvolver metodologias da permacultura e da bioconstrução em uma
propriedade de sua família, uma fazenda no município de São Sebastião, e afirma que em
breve compartilhará seus conhecimentos.

Na Bahia, Guilherme Medeiros participou da construção de casas em
comunidades sustentáveis. Foto: Cortesia

Sobre as “casas verdes”, ele afirma que não há no estado construções 100% ecológicas, mas já
é possível encontrar obras que priorizam materiais sustentáveis, a exemplo da utilização de
madeira de eucalipto nas construções, como há em parques e pontos de ônibus de Maceió.

“Há um grupo de amigos interessados na bioconstrução, nos métodos da permacultura, e
querem organizar um curso para que, em breve, eu possa compartilhar o conhecimento.
Assim, poderemos reunir mais pessoas e iniciar este tipo de trabalho em Maceió. Vejo que
este é um futuro próximo no caso de nossa cidade, do nosso estado”, completou Medeiros.

Como citou o engenheiro Guilherme Medeiros, já é possível notar em Maceió, em áreas
públicas, equipamentos construídos a partir de materiais 100% sustentáveis. Parte destas
construções vem da empresa criada pelo empresário Otávio Tavares, que há quatro anos
tomou conhecimento da possibilidade do uso de madeira tratada e perfilada na construção
civil e na fabricação de mobiliário. Daí surgiu a revenda da Amaru Sustentabilidade, que conta
com até 15 funcionários dependendo das demandas que chegam à empresa com sede na
Barra Nova, no município de Marechal Deodoro.

Com foco na sustentabilidade, Otávio traz madeira de eucalipto de Minas Gerais e de pinus de
Santa Catarina. Em relação aos resíduos gerados após a produção, o empresário explica que
praticamente tudo é aproveitado.

Parques infantis sustentáveis da Amaru estão sendo estruturados em vias
públicas de Maceió. Foto: Cortesia

“Após os cortes os pedaços que sobram são transformados em objetos pequenos ou utilizados
na decoração ou no paisagismo. Quase não temos resíduo de madeira, apenas o pó ou as
aparas que são destinados aos locais apropriados”, frisou Tavares.

Ao contrário da reciclagem, onde o custo de produção é baixo, o empresário destaca que este
não foi o maior atrativo para que ele decidisse investir. “Este material não reduz custo. O
trabalho com madeira roliça (troncos de eucalipto) demanda mais mão de obra do que a
madeira serrada, por isso que muitos não querem utilizá-la nas obras. Nós optamos pela
sustentabilidade e nossos clientes também, ou seja, não foi o preço baixo que ajudou a entrar
no mercado, mas a qualidade, acabamento, durabilidade e prazo na entrega. A opção por usar
material sustentável foi o nosso carro-chefe na busca pelo mercado”, explicou o empresário.

Empresa chega empregar até 15 funcionários conforme a demanda. Foto: Cortesia

Sobre o retorno financeiro, Tavares disse que o investimento está valendo a pena, uma vez
que o mercado tem buscado cada vez mais materiais sustentáveis para substituir os atuais.
“Estamos começando nosso negócio. Sabemos que demora muito para popularizar esse tipo
de produtos, mas apostamos nisso, é um trabalho árduo sim, mas acreditamos que é rentável
porque existe uma demanda grande”, apontou.

Produtos com madeira de reflorestamento levam sustentabilidade aos espaços
públicos em Maceió. Foto: Cortesia

Entre os clientes da empresa de Tavares estão hotéis, construtoras restaurantes, bares,
condomínios e construtoras. Em Maceió, é possível ver o material da Amaru nos Parques
Infantis Sustentáveis, estruturados por meio de uma parceira entre a Prefeitura e a iniciativa
privada, e em paradas de ônibus na orla da cidade.

Iniciativas que agregam sustentabilidade e geração de renda são fundamentais para o
desenvolvimento das cidades. É o que aponta o secretário municipal de Desenvolvimento
Sustentável de Maceió, Gustavo Acioli Torres.

“Todos os empreendimentos, sejam públicos ou privados, devem buscar ser sustentáveis. Não
há como desenvolver uma cidade sem tocar na questão da sustentabilidade. Em Maceió,
temos avançado muito, mas ainda estamos longe de um patamar aceitável. A Prefeitura tem
trabalhado e busca instrumentos para incentivar os empreendedores a investir cada vez neste
segmento”, ressaltou o gestor.

Hortas e pomares urbanos estão sendo estruturados em áreas públicas para
conscientizar a população. Foto: Cortesia/ Secom Maceió

Torres destacou também algumas ações importantes executadas em Maceió pela gestão
municipal. “Temos coleta seletiva, uso e aproveitamento da casca de sururu e a usina de
asfalto. Além disso, desenvolvemos atividades de educação ambiental, o que pode incentivar a
geração de renda, produção de sabão com óleo usado, produção de mobiliário e brinquedos
com pneu, hortas e pomares urbanos”, enumerou. “A iniciativa privada tem avançado muito
neste sentido e temos prédios, bares, hotéis e restaurantes usando energia limpa e
reutilizando água da chuva”, acrescentou o secretário.

A regra da inovação para fazer a diferença no mercado também é válida quando se trata de
sustentabilidade. O assunto já é realidade em grandes capitais do Brasil e, em Alagoas, um dos
setores que sai da zona de conforto para investir em políticas de responsabilidade ambiental é
o de bares e restaurantes. Ao que parece, os empreendedores começaram a compreender que
o lucro advém não somente da criação de pratos inusitados e gourmet. Agora, entendem que
também podem atrair público para ganhar mais, e até economizar, a partir da adoção de
práticas ecologicamente corretas.

Neste setor, um dos pioneiros é o Grupo Mar & Cia, que há cinco anos mantém o bar de praia
Hibiscus em Ipioca, bairro tradicional do Litoral Norte de Maceió. Lá, a inovação no contexto
ambiental vai além da área de propriedade do grupo e abrange também a comunidade do
entorno. O consumidor pode não notar, mas o espaço é sustentável desde sua concepção - da
estrutura à utilização de recursos naturais. Quem atesta é o diretor do grupo, Vanderlei
Turatti. Segundo ele, transformar o local em um empreendimento sustentável não teve causa
ou motivo específico.

“É uma consciência que vem da educação de casa. Sustentabilidade não é moda. Tem que ser
atitude e aqui, desde o começo em 2013, agimos desta forma. Reaproveitamos 90% dos
resíduos sólidos por meio da reciclagem, os resíduos orgânicos se tornam compostagem. As
garrafas de cervejas e espumantes viram novos utensílios com um trabalho de artesanato que
envolvemos os moradores do bairro, que são capacitados por oficinas que realizamos.
Economizamos e reaproveitamos 100% de toda a água usada no bar com estação de
tratamento, que depois serve para aguar nossos 750 coqueiros, e 60% de nossa energia são
provenientes de painéis fotovoltaicos, de energia solar”, enumera Turatti, que há 20 anos é
empreendedor do turismo.

Ações de sustentabilidade geram renda e economia ao grupo responsável pelo bar
de praia Hibiiscus, em Ipioca. Foto: Cortesia

O diretor do grupo Mar & Cia acrescenta que, com a adoção das políticas de sustentabilidade,
a redução de custos é bastante significativa. “É algo completamente rentável. Se não houvesse
o reaproveitamento do lixo, o custo com uma empresa de coleta seria alto. Pagaríamos valores
muito maiores se não tivéssemos optado pela energia solar em parte do empreendimento.
Haveria, ainda, um custo alto com o consumo de água, inclusive para aguar os coqueiros.
Temos ainda uma horta que nos serve alimentos nutridos com a compostagem produzida com
os resíduos orgânicos que sobram do bar e do nosso refeitório”, explicou.

Os números são claros: com a movimentação de milhares de consumidores anualmente, entre
alagoanos e turistas, os shoppings centers situados na capital são de suma importância à
geração de receitais fiscais, sobretudo ao Estado em relação ao Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS). Com este potencial, de que forma os três grandes centros comerciais de Maceió têm direcionado as políticas de responsabilidade ambiental a favor da economia e do lucro? Por meio de suas assessorias de imprensa, o Maceió Shopping, o Parque Shopping Maceió e o Shopping Pátio Maceió apresentaram dados à reportagem que mostram a atenção em relação à sustentabilidade.

Situado em uma região central, no bairro de Mangabeiras, o Maceió Shopping é o pioneiro no
mercado varejista alagoano com 30 anos de atuação. “Desde o início de nossas atividades
adotamos a prática de reutilização da água, uso racional da energia elétrica, tanto que nosso
projeto arquitetônico prioriza pontos de luz natural, além do processo de coleta seletiva do
lixo produzido pelas lojas e a área administrativa do shopping. Acreditamos que o
desenvolvimento pode caminhar junto com a preservação do meio ambiente e cada um de nós
tem uma responsabilidade para isso”, disse a administração por meio da assessoria de
comunicação.

Em funcionamento desde 2009 na parte alta de Maceió, o Shopping Pátio Maceió coloca que o
tema sustentabilidade já faz parte da visão de negócios da empresa. O investimento, segundo
a administração, tem destaque para a economia do uso de energia: o prédio já foi concebido
com um sistema de iluminação natural. “Nos últimos anos, fizemos a substituição das
lâmpadas de iluminação interna por lâmpadas de LED que, além de oferecerem um custo mais
baixo no consumo, são totalmente sustentáveis. Então, atualmente, o empreendimento está
com cerca de 90% da iluminação adequada ao sistema econômico, cumprindo rigorosamente
os parâmetros de eficiência energética”, explicou a administração em nota à reportagem do
CadaMinuto.

Com menos tempo de operação, inaugurado em 2013 no bairro de Cruz das Almas, o Parque
Shopping diz que “emprega os mais modernos conceitos e tecnologias de sustentabilidade que
garantem impacto ambiental mínimo na região e o transformam em uma importante
referência de coleta seletiva para a comunidade”. Entre as políticas adotadas, o centro
comercial explica que trata todo o esgoto por meio de estação própria, conta com sistema de
reaproveitamento da água da chuva para utilização nas descargas dos banheiros e na lavagem
dos pisos e das docas, faz uso da eficiência energética, realiza a coleta seletiva e direciona os
resíduos a uma cooperativa de catadores.

O economista Rômulo Sales, reconhecendo que aliar sustentabilidade à geração de renda é
uma realidade, ressalta que cada vez mais os alagoanos estão entendendo que isto não apenas
uma tendência, mas algo cada vez mais presente em todo o mundo.

“Poderia citar exemplo de países como Japão, que é uma ilha, foi praticamente destruído
durante a guerra e hoje é uma grande potência econômica. Mas nosso estado serve de
exemplo. O mais pobre do Brasil, contudo rico em péssimos indicadores sociais, produzir de
forma sustentável e ainda gerar dinheiro é questão vital. Nesse sentido, perceba a importância
da interiorização das universidades federais e dos institutos federais, que conseguem levar
conhecimento, qualificação de pessoal e pesquisas para áreas sensivelmente necessitadas de
fazer mais com menos, de aprimorar os processos produtivos e ganhar dinheiro”, afirmou
Sales.

Um dos aspectos mais relevante quando se fala em negócios sustentáveis, segundo aponta o
economista, é que as produções ecologicamente corretas usam cada vez menos recursos como
matéria prima. “Muitos avanços já foram alcançados dentro da pesquisa, ciência e da inovação
no que se refere à otimização dos recursos naturais, elevando assim a capacidade produtiva.
Isto significa dizer que estamos produzindo mais com cada vez menos recursos. Dessa forma,
acumular para produzir não é mais a questão central, mas sim como gerar riqueza de forma
sustentável e como distribuí-la para que mais pessoas possam ser beneficiadas”, explicou
Sales.

Economista Rômulo Sales reconhece que aliar sustentabilidade à geração de
renda é uma realidade. Foto: Cortesia

Mas mesmo com o crescimento da consciência ambiental e de práticas sustentáveis, o
economista chama a atenção para o fato de muitos empreendedores estarem apenas
preocupados com o retorno financeiro e a visibilidade que isto pode trazer para os seus
negócios. “Uns intencionalmente preocupados com o meio ambiente e outros apenas pela
necessidade. Há os negócios que surgem como necessidade. Temos aí casos extremos dos
catadores de papelão, latinhas e recicláveis, que conseguem depois de um dia duro de
caminhada nas ruas, pelas praias fazer algum dinheiro no final do dia. Os artesãos também
utilizam bastante material reciclado para suas obras de artes”, exemplificou.

Assim como em todo tipo de negócio, quem opta por incorporar a sustentabilidade precisa
ficar atento. Sales frisa que para serem duradouros os empreendimentos precisam de muita
dedicação, planejamento e controle administrativo-financeiro. Ainda segundo ele, a entrada
em qualquer negócio é sempre muito arriscada e não há garantia de sucesso financeiro. “Para
qualquer negócio, além entender da área e ser um bom profissional, bem qualificado, é
importante noções avançadas de administração de empresas”, finalizou o economista.