Quem vai prestar vestibular, geralmente, passa por uma tensão que só quem é estudante sabe. No dia da prova, um frio na barriga. No dia do resultado, a ansiedade. Entretanto, para alguns alunos que prestaram vestibular para a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), o sonho de ingressar em uma faculdade se tornou um “problema”, visto que, além da publicação de duas listas – uma delas foi cancelada – a matrícula dos novos aprovados foi suspensa.
A reportagem do Cada Minuto tentou contato com alguns estudantes que foram “aprovados” na primeira lista da Uncisal e que dias depois, souberam que o Instituto AOCP – organizador das provas – constatou erros no sistema de cálculo. Quando procurados pela reportagem, os estudantes responderam de forma unânime que “preferiam não falar mais sobre o assunto”.
Assunto este que não foi encerrado. Dias após a nova lista divulgada pela Uncisal, a Justiça concedeu uma liminar e notificou a Universidade para que ela suspendesse as matrículas dos novos aprovados no vestibular 2018.
A reportagem conversou com dois psicólogos para falar sobre o caso e quais os danos que os estudantes podem sofrer diante dessa polêmica.
A psicóloga Fernanda Chianca, disse que o vestibular é ritual de passagem permeado por desafios acrescidos das características conturbadas da adolescência e que é considerado um gerador de estresse. “Desta forma, o estresse se expressa através de tensão exacerbada, diminuição de memória, irritabilidade, sonolência e perda de concentração”.
Sobre os danos psicológicos, Fernanda diz que podem ser desde grande tristeza e ansiedade aos envolvidos e seus familiares ao desenvolvimento de transtornos para os que já possuíam alguma predisposição.
“Existe muita expectativa com relação aos resultados, que são trabalhados durante o ano inteiro e/ou até mais tempo, a depender do curso escolhido e da concorrência. Quando o resultado sai existe toda a expectativa do seu nome constar naquela lista e quando isso ocorre é como se confirmasse que cada minuto de abdicação e sacrifício valeu a pena, mas quando isso não ocorre pode gerar grande frustração e decepção consigo mesmo, é como se você não fosse capaz de alcançar um objetivo”, informou a psicóloga.
Para Chianca, o que aconteceu com os alunos da Uncisal envolve os dois mundos: o da felicidade de estar na lista e ao mesmo tempo a incerteza a partir do cancelamento e correção da divulgação.
“O que causa mais danos psicológicos porque envolve uma decepção e frustração ainda maior que o seu nome não constar, é constar e perceber que houve erros. Caso perceba que seu nível de frustração ou tristeza está prejudicando a rotina do vestibulando, é importante que busque apoio não somente em familiares e amigos, mas sim uma ajuda especializada”, destacou Fernanda.
Para o psicólogo clínico e organizacional Marcello Melo Vasconcelos, inicialmente não se pode falar em trauma, mas em sentimentos como indignação e injustiça, uma vez que os alunos acreditaram nas listas divulgadas pela instituição.
“Não dá para falar em trauma, mas em revolta, inconformismo, injustiça, corrupção, indignação. O candidato tido como aprovada na primeira chamada foi informado através dos meios de comunicação oficiais e por mais que possa ter havido um erro vai querer reivindicar o seu direito” disse ele.
Em relação a possível anulação do resultado, o psicólogo também comenta que caso seja realizada uma nova prova o estado emocional dos candidatos não será mais o mesmo, e que isso pode afeta-los negativamente.
“Refazer a prova depois de tanto estresse e sentimentos dessa natureza, pode alterar o desempenho de forma negativa mesmo que o aluno seja submetido à mesma prova” afirmou.
Sobre o que deve ser feito pela instituição para que a melhor resolução seja alcançada, o psicólogo afirma que as provas deveriam ser corrigidas novamente, desta vez com a presença de testemunhas.
“No mínimo a correção das provas deveria ser realizada novamente por uma banca examinadora neutra, e com presença de pessoas que representem os alunos.” finalizou ele.
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*Estagiária