Você já pensou como pagaria suas despesas se ganhasse um salário mínimo? Essa pergunta causa muita inquietação e também traz uma reflexão sobre o ganho real de diversas famílias alagoanas que dependem exclusivamente de R$ 954,00 por mês. O reajuste do salário mínimo de apenas de 1,81%, o que representa um valor de R$ 17,00, não trouxe nenhum ganho real para os trabalhadores.

A comerciária Tatiana Carvalho tem uma família composta por quatro membros e tem se ajustado durante diversos meses para pagar suas contas com apenas um salário mínimo. Mas assim como quase todos os brasileiros que vivem nessa condição, ela buscam de meios de empreender e levar para casa uma renda extra.

Segundo ela, de maneira geral, com apenas o salário consegue fazer uma feira, pagar o aluguel e os juros do banco. “O salário em si não dá pra quase nada. Meu marido está desempregado há algum tempo, e tenho que colocar quase todas as despesas no cheque especial, por que só o aluguel é quase a metade do que recebo. O resto vou me virando vendendo trufas. Não é uma renda extra que rende muito, mas já ajuda na escola de uma das minhas filhas. O que aparece de urgência tem que ser no cartão de crédito, e acaba virando uma bola de neve. As vezes é muito apertado conseguir passar o mês”, relata.

Essa situação colocada por Tatiana é explicada pelo economista Rômulo Sales que afirma que com o salário mínimo aumentando apenas R$ 17,00 o trabalhador assalariado vai apenas continuar sobrevivendo e a situação tende a ficar ainda mais crítica em virtude das reformas trabalhistas.

 “Já tem no mercado de trabalho pessoas recebendo menos que o salário mínimo, sendo contratados como trabalho intermitente, cuja remuneração é baseada apenas nas horas do dia trabalhado, geralmente inferior às 8h diárias do contrato convencional”, detalhou o especialista.

 

 

Segundo ele, no que diz respeito ao poder de compra do salário mínimo, a cesta básica em Maceió, segundo a Secretaria do Planejamento, Gestão e Patrimônio (SEPLAG), terminou dezembro de 2017 em R$ 322,26, o que representa 33,7% do novo salário mínimo.

 “Quando a gente fala cesta básica é preciso lembrar que ela não contempla produtos de higiene pessoal, limpeza doméstica, etc. – itens que são geralmente muito caros - e que os itens oficiais que a compõem seguramente não sustentam uma família média de quatro pessoas, durante todo o mês, tendo todas as refeições do dia”, completou o economista.

Reajuste não recompõe poder de compra do trabalhador

Uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que o valor do salário mínimo de 2018 voltou ao nível de 2015, quando valia R$ 953,87. "É necessária a revisão do reajuste anunciado, de modo a devolver ao salário mínimo o poder de compra do início do ano passado", diz o Dieese em nota.

Considerando-se o reajuste de R$ 17 de 2017 para 2018 e a quantidade de benefícios atrelados (cerca de 22 milhões) haverá um aumento de R$ 381.786.442 nos gastos previdenciários, o que corresponde a menos de 1% do total gasto com os benefícios pagos pelo país.

Além disso, os trabalhadores ainda encaram os aumentos e reajustes promovidos a cada início de ano. Para Rômulo Sales, a “regra de ouro” é gastar menos do que ganha. “Sei que é quase impossível, mas é preciso tentar. Ter em mente que em 2019 o ciclo das despesas se repetem, dessa forma seria interessante já fazer um provisionamento mensal durante o ano corrente. Exemplo: se em 2019 vai ter R$ 500,00 de despesas com material escolar, começa-se a economizar R$ 42,00 todo mês a partir de janeiro, pois em janeiro do ano que vem já terá os R$ 500,00 disponíveis para pagar essa despesa a vista. Em 2018 serão duas despesas simultâneas: a despesa de material escolar desse ano que não foi provisionado no ano de 2017 mais os R$ 42,00 mensais para o ano de 2019, mas em compensação em 2019 já terá um peso a menos no orçamento”.

O cálculo para o salário mínimo

O cálculo do salário mínimo é baseado no PIB de dois anos atrás, nesse caso de 2016, mais a variação da inflação medida pelo INPC (SALÁRIO MÍNIMO = VAR. DO PIB 2016 + INPC 2017). O reajuste do salário mínimo é na verdade uma reposição das perdas salariais de 2017, isto é, passado todo o ano de 2017 o trabalhador tem em 2018 apenas uma reposição referente às perdas monetárias do ano que finalizou.  É fácil perceber isso, pois todos os índices de correção são passados e não futuros, logo o aumento do salário não é concedido visando compensar os aumentos futuros do, ano que se inicia.

Se isso fosse possível um processo inflacionário se iniciaria. Todos os anos, as reposições salariais tornam-se nulas no decorrer do ano vigente em virtude dos aumentos que irão acontecer. Devido à recessão da economia, o PIB de 2016 foi negativo em 3,6%, desta forma o trabalhador só teve de aumento a variação do INPC de 2017 que foi de 1,81% (R$ 17,00), representando nenhum ganho real (acima da inflação). Só teremos ganhos reais quando o PIB da economia voltar a crescer.

Outra mudança importante que ocorreu ao longo dos anos com o reajuste no salário mínimo foi o período do mês em que ele é concedido. Na década de 1990, os aumentos eram sempre concedidos no dia 1º de maio de cada ano sendo, na década de 2000, paulatinamente passado para o dia 1º de janeiro. O que isso significa para o trabalhador? Com os aumentos no mês de maio o trabalhador conseguia usufruir do aumento apenas sete meses, agora ele consegue usufruir o ano todo.