Os filmes de guerra são retratados sempre de tal forma que nos conectemos com alguns personagens para sentirmos atraídos pela causa. Em Dunkirk, Cristopher Nolan reinventa este paradigma e nos traz a guerra nua e crua, onde as palavras não precisam ter apelo emocional. É a história quem sai por cima.
A trama retrata os 400 mil soldados aliados em uma operação denominada de Dínamo que foram evacuados sob intenso bombardeio da cidade francesa de Dunquerque até a cidade inglesa de Dover. Um desastre decorrente da invasão da França pelas forças nazistas em 10 de Maio de 1940, que avançou rapidamente devido à falta de efetiva resistência aliada. Sendo cercados e pressionados pelos alemães, a intenção inicial era evacuar cerca de 45 mil homens da Força Expedicionária Britânica em dois dias, mas, logo depois, o objetivo foi alterado para resgatar 120 mil homens em cinco dias. Civis de países e cidades vizinhas de Dunquerque foram convocados para resgatar os soldados. No total, mais de 300 mil homens foram salvos.
Um dos aspectos que chama mais atenção é que Christopher Nolan define um conto de narrativa não linear, em três núcleos distintos, o molhe, o ar e o mar, onde todos acabam se conectando de forma inteligente e clara a quem assiste. Mais que isso, Dunkirk não precisou do apelo “pornográfico” da guerra como nos filmes de Mel Gibson, onde tripas, pedaços de corpos e a espetacularização das explosões são tratadas como pirotecnia (não que isso tudo seja ruim, muito pelo contrário).
Nolan e Hans Zimmer, compositor da trilha sonora, formam um casamento perfeito e conseguiram chegar ao ápice em Dnkirk. É a real e pura experiência de assistir ao filme no cinema. A qualidade da mixagem de som, o real barulho das aeronaves sobrevoando por nossas cabeças, os tiros, as bombas explodindo a seco nos navios, na água e na terra são tão fortes que faziam nos sentir como se estivéssemos dentro do filme. A tensão está sempre presente.
E não é só o som das explosões e dos tiros que nos deixa apreensivos, a trilha de Hans e a tensão de perigo está sempre ali nos fazendo mexer as pernas involuntariamente. Assim como em “A Origem”, Nolan triplicou sua forma de deixar o espectador tenso, principalmente com as cenas de afogamento, presentes em todos os atos. A trilha de Zimmer também segue a premissa da Origem, com músicas inacabadas, trazendo a sensação que aquilo nunca vai terminar.
Por fim, Nolan não fez o seu melhor filme (prefiro A Origem), mas preparou uma obra de arte com uma das melhores fotografias que vi até hoje. O tempo reduzido de uma hora e meia de duração deixou a desejar, talvez pelo uso da tecnologia Imax que encareceu demais a produção. Mesmo assim, Dunkirk merece reconhecimento, pois ele pode ser vanguardista de uma mudança drástica de filmes de guerra.
