O menino chegou a casa com um saco pardo cheiinho de guloseimas. Ele ganhou na festa da rua. Tinha oito anos e já carregava consigo a consciência da partilha.
O menino chegou a casa depositou na mesa, o conteúdo do saco pardo e dividiu-o em sete porções. Eram sete crianças que habitavam no barraco de plástico, uma bolha abrasante de calor no verão e friorenta no inverno, mas, nada disso, agora, importava para o menino, finalmente, ele teria algo para os irmãos no dia das crianças.
O menino preto que carregava o saco pardo só tinha oito anos.
Após, a divisão chamou pela mãe que aparece esbaforida, uma mulher com a curva da tristeza sobraçando os olhos que vêem o mundo sorriso.
A mulher abriu um sorriso do tamanho do mundo ao ver a divisão em cima da mesa, as lágrimas teimosas invadem seus olhos, e ela abraça o filho, de uma forma protetora, agradecida. Antes de desabraçá-lo depositou um beijo na cabeça da criança.
A mãe amava aquele menino, não que não gostasse dos outros filhos, mas, aquele era especial. Um anjo mandado por Jesus.
Um anjo que a protegia e fazia às vezes de homenzinho da casa, e ele só tinha oito anos.
Começou a pegar carrego na feira aos cinco anos, sem ninguém sugerir. Está na escola, mas, não tem muita intimidade com as letras. A pobreza extrema, a ausência paterna e a quantidade de gente dentro do barraco, forçavam o menino a pensar como gente grande, e ele, resolveu arrumar um trabalho para ajudar a mãe.
A mãe dele precisava de ajuda.
E o silêncio da reflexão da mãe é quebrado por vozes infantis de quatro meninos, Manoel, José, Cícero, Lúcio e as três meninas Maria, Margarida, Márcia. Por um momento as paredes plásticas do barraco se iluminam, os sons invadindo os espaços ocos de alegria.
E o menino de nome Francisco, os agasalha no dizer:- Feliz dia das crianças e oferece a cada um, o muito que tinha conseguido.
Francisco é seu nome.