A internauta carioca Juliana Queiroz, escreve, em 17 de agosto às 23:48 ·
Estava hoje andando no centro de Campo Grande, quando passo por uma mulher branca com sua filhinha, uma pretinha linda de uns 5 anos. A mãe fala para uma amiga: "Sei que está na moda, mas assim que der aliso o cabelo dela. Filha minha não vai ter cabelo duro não."
Olho pra menina, olho pra mãe... Sinto um embrulho, vontade de bater naquela mulher, de pegar a pretinha e falar: VOCÊ É LINDA E SEU CABELO TAMBÉM!
Dentre as problemáticas oriundas das relações inter-raciais, essa inferiorização da nossa estética é a mais marcante na infância.
Eu ouvi de minha mãe, mulher preta, que meu cabelo era duro, ouvi isso de quase toda a minha família, que também é toda preta. Mas tem um peso e um contexto totalmente diferente quando esse tipo de afirmação vem de um corpo branco, mesmo que seja sua mãe. Eu ouvia que meu cabelo era "duro", mas eu me via em cada uma das minhas tias, me via na minha avó, nos meus primos e tios, eu me via inteira na minha mãe.
Não havia um sentimento de inferioridade entre eu e as mulheres que me cercam na vida, somos todas pretas, em uníssono.
Todos no meu âmbito familiar são pretos, então mesmo que tenha doído ouvir que eu tinha "cabelo duro", todos de minha família ouviram isso em algum momento, eles só reproduziam o que lhes foi imposto e mesmo assim, eu me via em cada um ali justamente por compartilharmos das mesmas crises, estórias e afeto.
Penso naquela menina preta, em como será negada a sua negritude, sua identidade... Se foi difícil pra mim, imagina pra ela que não terá as referências que eu tive?
Termino o dia com a certeza de que estou no caminho certo ao procurar cada vez mais os meus, ao lutar pela permanência e manutenção da unidade familiar PRETA! Cada dia mais certa de que amor, muito além do amor romântico, amor em toda extensão dessa palavra, tem que gerar frutos que sejam espelhos, que reflitam à mim e meus ancestrais.
O MEU amor tem cor, é PRETO! Cura.