Maria José da Silva, aos 58 anos é uma mulher franzina, tímida e enredada no sofrimento da orfandade materna, quando subiu ao palco da IV Conferência Estadual de Direitos Humanos, na última sexta-feira (4/03), trazia um apelo lacrimejante: Eu quero o corpo do meu filho, vivo ou morto.
O que a levou aquele palco foi um tema incômodo e desconfortável para a sociedade alagoana: o genocídio de Davi da Silva, seu filho de 17 anos.
A fala dela é um coletivo dos genocídios consentidos de tant@se outr@s jovens pretos. As mortes, socialmente, consentidas expõem as gentes das periferias,suas vulnerabilidades e a política escravocrata de um estado.
Alagoas.
Alagoas que , um dia, sediou a primeira República Livre e Negra da América Latina.
O desaparecimento, morte (??) do seu menino foi urdida pela máquina oficial e o que deixa a mãe impotente é a indiferença e passividade institucional/social,que legitima o ato do seqüestro de um menino negro da periferia da capital Maceió.
Racismo socialmente, naturalizado.
A mãe cheia da orfandade materna tem dentro d’alma um abismo de desconhecimento e
sentimentos desencontrados: Cadê, meu menino?
O adolescente desapareceu após uma abordagem da Radiopatrulha no dia 25 de agosto-2014, no conjunto Moacir Andrade, no complexo Benedito Bentes, na periferia de Maceió,AL. De acordo com uma testemunha, Davi foi encontrado com uma pequena quantidade de maconha. Os policiais o colocaram dentro da viatura e desde então ele não foi mais visto.
Para a mulher que um dia acalentou o menino , em braços repletos de amor, agora só resta uma imensa lacuna.
A geografia do racismo é um fator determinante da pobreza.
Cadê, meu menino? Insiste a mãe num fio de voz que enche o auditório de inquietações emocionais.
O Estado precisa produzir soluções políticas no caso da morte dos muitos e tant@s Davis, para que novas fraturas sociais não continuem a acontecer.
Cadê o Davi?