Por que o racismo, feito camaleão poliglota, vai reciclando sua forma de agir. E Fagner, 33 anos, jornalista, nos conta:
"Aconteceu hoje de manhã, na porta do Itaú. Eu só queria sacar. A porta do banco travou uma vez. Eu só seria sacar. O segurança se aproximou pedindo para ver a minha mochila. Eu só queria sacar. Abri a mochila. Eu só queria sacar. Dentro dela, uma marmita e um livro, A Revolução dos Bichos. Eu só queria sacar. O segurança diz que não poderia liberar a minha entrada. Algo travava a porta. Eu só queria sacar. Pedi uma sugestão. Afinal, eu só queria sacar. Arrancar o zíper da mochila? Eu quero sacar. Não posso liberar a sua entrada. Eu quero sacar. O que o senhor tem nos bolsos? Eu só queria sacar. O senhor está atrapalhando o direito de ir e vir dos clientes. Eu também sou cliente. Eu quero sacar. Calça jeans surrada ao chão. Um cliente de cueca na porta do Itaú. Chama o gerente agora, seu racista! Seu animal! Eu quero sacar! Pessoas gritam. Chega o gerente. Eu quero sacar! A porta é liberada. As carnes tremem. O ódio domina. Pedido de desculpas. Água. Saque efetuado com sucesso. O cliente sai do banco com dinheiro no bolso, mas se sente um indigente. Eu só queria sacar."
#SentiNaPele