Meninos pretos encurralados no inferno da insignificância social.
Crianças indígenas aprisionadas em territórios de brancos.
Meninos pretos, invisíveis, morrendo a míngua ou nas balas perdidamente traiçoeiras.
Crianças indígenas ignoradas pelo poder público.
Meninos sempre pretos revistados, referenciados como elementos suspeitos: Teje preso!
Crianças indígenas vitimas do infanticídio- socialmente silenciado- em suas comunidades.
Meninos pretos mortos com tiros do racismo burocrata, latente , presente, renitente.
Crianças indígenas sufocadas pelas flechas do descaso social.
Meninos pretos dormem ao longo das estradas do mundo, tendo como cobertor o calor das estrelas, ou lençóis com cheiro de mofo, da intolerância, do preconceito nosso de todo dia.
Crianças indígenas abortadas de suas crenças.
Em muitos momentos os meninos pretos vão dormir acossados pelo medo das balas “perdidas” e silenciosas, e só despertam no céu dos passarinhos.
No céu dos passarinhos encontram com Irene preta, aquela que pediu licença a São Pedro para entrar no céu.
E São Pedro respondeu:- Pode entrar Irene preta.
Quando morrem os meninos pretos se faz ouvir o silêncio hipócrita de cacos de vidro da sociedade social.
Quando morrem as crianças indígenas...
Meninos pretos morrem aos montes à beira do mar, afogueados pela corrida selvagem em nome da sobrevida.
Ser negro e indígena e viver no Brasil é estar n’uma permanente arena de guerra.
O racismo, aliado a pobreza, mata.
Meninos pretos e indígenas quando morrem, no Brasil, ficam no limbo da história.
São logo esquecidas.
Que a morte do menino Aylan Kurdi e de tantas, muitas, inúmeras crianças pretas, indígenas inomináveis, não seja em vão.