Excelentíssimo Sr, Governador, Renan Filho.

 

Inúmeras pesquisas atestam  que, de 60 mil homicídios anuais no Brasil, 80% têm como vítimas jovens pretos. Segundo dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o homicídio é a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, em sua maioria pretos, pobres  e moradores de periferias.

A situação pode ser comparada a uma guerra civil como a de Angola, que no período de 1975 a 2002 registrou 20,3 mil mortos.

A pesquisa Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ) 2014, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e encomendada pelo governo federal  mostra que, em Alagoas, as chances de um preto com idade entre 12 e 29 anos ser assassinado é 8,7 vezes maior que de um branco, na mesma faixa etária.

 O estado de Alagoas é o estado do Brasil, proporcionalmente,  onde se mais morrem jovens pretos. Nossos números são aterradores e a realidade dos jovens também. O volume de jovens pretos e pobres mortos no Brasil é equivalente a como  se caíssem oito  aviões 737 lotados por mês.

 Em Alagoas não é diferente. No berço da outrora primeira República Livre e Negra da América Latina há um  silenciado genocídio  em curso,  da população masculina, jovem e preta.

Meninos pretos-mortos a rodo-  vitimas da opressão e repressão do racismo.

Passados os 100 dias do inicio do governo, o silenciamento estatal em relação ao genocídio faz um paralelo entre a assepsia das gentes e a esterilidade das políticas públicas. Os frágeis e fragmentados projetos institucionais (???) são estéreis para dominar  a informidade do caos.

Observando as práticas das muitas e diversas secretarias de seu governo paira a sensação de que as políticas afirmativas- -como política de estado- minimizam-se em um retrocesso absurdo.

Com todo respeito que o cargo lhe impõe, mas, preciso dizer-lhe que Vossa Excelência não é preto, não nasceu em becos, favelas, vielas, grotas ou quebradas e por mais que  agregue conhecimentos  NUNCA vai saber o que é a  miséria atanazando a boca faminta que fabrica saliva para enganar o  estômago vazio, como saco furado.

A miséria que ronda o povo- especificamente- o preto é sintomática. Sintoma do escravagista  desprezo secular pelas populações minoritárias de direitos

O enfrentamento ao  racismo institucional  provoca alguns  choques  de realidade que desembocam na resistência ditatorial, então, carece que o governo comece a ensaiar uma aproximação com as muitas representações políticas e populares. Negras ou não.

Vamos conversar a sério sobre o Plano Juventude Viva, Excelência?

Vamos conversar a sério sobre a ERER - Educação para as Relações Étnico Raciais, Excelência?

Vamos conversar a sério sobre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, Excelência?

Vamos conversar a sério sobre o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, Excelência?

Vamos conversar a sério sobre racismo institucional, Excelência?

Vamos conversar a sério sobre essa  fadiga política em lidar com a  questão racial?

Vamos, Excelência?