O número de doações de córneas para transplante caiu pela metade este ano em Alagoas em comparação ao ano passado. Atualmente 94 pessoas estão na fila de espera da Central de Transplantes no Estado. Os dois principais motivos para esse quadro são a falta de informação, que alimenta o preconceito e o medo das famílias autorizarem a doação de córneas de seus parentes falecidos; e o funcionamento precário das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott) que interfere diretamente na abordagem das famílias.

No ano passado, os hospitais autorizados a fazer transplantes de córnea em Alagoas realizaram 31 cirurgias, um número pequeno em relação à demanda. Para este ano, a expectativa é uma quantidade ainda menor de transplantes em função das negativas dadas para doação do órgão. Em fevereiro de 2014, o Banco de Olhos do HU captou 10 córneas no Estado, enquanto que este ano apenas quatro córneas foram doadas. Em março do ano passado, foram 11 captações e em março deste ano, apenas três.

Realização de sonho

Valdemar Rosa da Silva, 77 anos, fez o transplante de córnea na última segunda-feira (30) no Hospital Universitário. Portador de distrofia, há quatro anos o alagoano nascido em Murici não enxerga pelo olho esquerdo. A deficiência interferia em atividades diárias e chegava a atrapalhar o trabalho do aposentado, que completa a renda negociando frutas e legumes na casa dele, no bairro do Jacintinho.

Antes de entrar no centro cirúrgico do HU, seu Valdemar estava tenso, assustado com a possibilidade de ficar afastado das atividades por muito tempo; mas não escondia a alegria. “É muito triste não enxergar”, disse. Ele não lembra quanto tempo aguarda uma córnea para transplante, mas segundo a coordenadora da Central de Transplante, Kelly Brandão, a média de espera na filha é de seis meses. “Esse tempo já foi muito pior, cerca de cinco anos. Nós conseguimos reduzir para menos de um ano, mas não evoluímos desde então”, enfatiza a oftalmologista Andrea Santos, que administra o Banco de Olhos do HU.

Na avaliação da médica, se as Cihdott funcionassem como deveria na abordagem às famílias dos potenciais doadores, o número de captações de córneas aumentaria substancialmente. Para tanto, seria necessário que as comissões tivessem profissionais com dedicação exclusiva para isso. “Os profissionais que integram à comissão têm outras atividades nas instituições e, muitas vezes, trabalham sobrecarregados, dificultando a ação de abordar as famílias para conscientizá-las sobre a importância da doação”, comenta Kelly Brandão.