Lula pode ser candidato. Frei Betto critica o PT

02/04/2015 10:16 - Voney Malta
Por Voney Malta

De acordo com a filha do ex-presidente Lula, Lurian Cordeiro Lula da Silva, caso o PT não tenha um nome construído para 2018, o pai dela vai pra disputa. “Ele vai. Aguenta o tranco: a voz mudou, o cabelo e a barba caíram, mas a essência não mudou”, diz.

Lurian Cordeiro acredita que o brasileiro merece ver concluído o ciclo de crescimento. Ela deve ser candidata à prefeitura de Maricá, no Rio de Janeiro, pelo PT.

Sobre os atuais escândalos de corrupção, afirma que o clima criado põe a culpa de tudo sobre o PT. Defende que foi nos governos petistas onde os casos de corrupção foram mais investigados. “Lula fica dolorido por esse ódio. Isso mexe com ele e todos nós. É aquela coisa do pai que deu tudo, e é visto como maldito”, explica Lurian.

Por outro lado, um dos ícones dos petistas e de uma geração, Frei Betto, tem criticado duramente o partido que ajudou a fundar. Para ele, já que o PT “preferiu governar pelo andar de cima, o partido, sitiado por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, sabe que terá de continuar negociando seus princípios e projetos”.

Diz ainda que a sigla tem, atualmente, filiados e eleitores, não mais militantes, e que está distante dos movimentos sociais.

Especialmente neste momento em o Brasil vive uma crise alimentada por necessidade de ajustes na economia, manipulação de informações sobre corrupção e interesses políticos e econômicos em disputa que dão crescimento a brutalidade dos detentores de mandatos eletivos.

O Brasil ainda sequer engatinha em sua infância democrática.

O texto na íntegra de Frei Betto, que você pode ler abaixo, serve como análise, alerta e demonstração de certa decepção. Mas, de fato, ajuda a desvendar o jogo do poder.

A cunha renana

Já que preferiu governar pelo andar de cima, o PT, sitiado por Cunha e Renan, sabe que terá de continuar negociando seus princípios e projetos

Na Roma antiga, as legiões adotavam diferentes formações militares. Uma delas era a cunha, quando as tropas se moviam em forma de triângulo para encurralar os adversários. A Renânia é hoje a região mais industrializada da Alemanha.

O Tratado de Versalhes (de 1919) a desmilitarizou. Adolf Hitler, porém, violou o tratado e a ocupou com suas tropas. Criou a cunha renana que, ao longo do rio Reno, tinha a função de acuar os inimigos.

O Brasil conhece, agora, sua cunha renana. Tem como vértice o PMDB e amplia o cerco sobre o PT e força o recuo do Executivo.

A brincadeira acabou. O Congresso Nacional já não faz o que o mestre mandar. Sobretudo porque, diante dos escândalos de corrupção, o mestre já não manda as benesses que, antes, quebravam resistências e ampliavam o leque de aliados. Ora, não é porque as vacas estão magras que os bezerros deixam de querer mamar.

Antigos palácios eram cercados, como proteção, por fossos repletos de crocodilos. Hoje, o fosso é político. O Palácio do Planalto, convencido de que todo poder emana do núcleo duro do governo, perdeu a sintonia com o Congresso. E também com o Judiciário, uma das arestas que formam a cunha renana.

Na praça dos Três Poderes não há indícios de que Suas Excelências têm olhos e coração voltados para o Brasil. O foco são as eleições de 2018. O PMDB, como me confessou um de seus dirigentes, cansou de ser acólito do PT. Não se sente devidamente recompensado em número e importância de ministérios. Nem quer ajudar a carregar o pesado piano do ajuste fiscal depois que cessou a música da gastança.

Já que escolheu assegurar sua governabilidade pelo andar de cima (mercado e Congresso Nacional), o PT, sitiado pela cunha renana, sabe que continuará a ser obrigado a negociar seus princípios e projetos. Leia-se: abdicar de seus propósitos originários.

Ainda mais agora que se distanciou do andar de baixo, quer dizer, dos movimentos sociais, e já não faz trabalho político de base. Conta com filiados e eleitores, não mais com militantes.

A cunha renana, sem dúvida, prosseguirá seu avanço até transformar o Planalto em planície --terra arrasada. Haja vice para tentar salvar a aliança inconsútil.

O Planalto sabe que há luz no fim do túnel: os segmentos organizados da expressiva parcela de eleitores que elegeu o atual governo.

Porém, por insensibilidade ao andar de baixo, alvo de políticas sociais e, no entanto, escanteado de participação nas decisões de governo, dificilmente ousará acender a luz no fim do túnel. Não acredita que ela seria capaz de ofuscar a cunha renana e obrigá-la ao recuo.

E lembrar que o partido que agora pensa em se reinventar ou refundar nasceu como expressão política dos pobres, baluarte ético e socialista, e criou as prévias eleitorais interpartidárias, o orçamento participativo, os núcleos de base e a consulta popular.

 

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