O CadaMinuto vem apresentando uma série de reportagens mostrando os fatos que marcaram o ano de 2014 em Alagoas. Neste domingo (28) convidamos produtores culturais, cantores, cineastas e gestores de cultura para lançar um olhar sobre 2014 e apontar ações e eventos que soaram de forma positiva ou negativa. A ideia foi fazer os mesmos questionamentos a todos os entrevistados para que o leitor pudesse ter acesso às ideias de cada segmento representadas aqui pelo entrevistado convidado.
CadaMinuto- Tivemos um ano atribulado por conta das eleições, que gerou um imenso debate em vários campos sociais. No meio desse confronto de ideias e anseios, muita coisa também passou batida. Alguns gestores pontuam que a crise financeira e outras questões ligadas à economia e a política acabaram sendo determinantes para a realização de ações voltadas para a cultura. O que você aponta como aspectos positivos nesse segmento?
Janu Leite – Produtor cultural e cantor/ Arapiraca
Nosso Estado tem uma cena boa quando se fala em cultura alternativa, autoral e contemporânea. Em Maceió destaco o audiovisual e a empolgante nova cena musical e literal arapiraquense. O teatro também tem revigorado suas forças por aqui, tem gente boa em Palmeira, principalmente na literatura também - deve ser herança do seu Graciliano. Aqui em Arapiraca a gente sempre recebe bandas de Girau, de Penedo, etc.
A política ainda mira o que lhe dá voto, depois o que lhe convir. O ponto positivo de Alagoas são os artistas que mesmo em meio à dificuldade posta, seguem criando e fazendo arte. Poucas ações significativas têm sido feitas pelo governo e municípios. Na música, pelo menos em Arapiraca, alguns eventos tiveram apoio do município e os Pontos de Cultura tem sido muito importantes. Alguns que ganharam um edital devem iniciar logo suas ações.
Rafhael Barbosa – Cineasta e integrante do movimento Quebre o Balcão
Como positivo, aponto um avanço no diálogo dos artistas com o poder público. Aos poucos, a comunidade cultural está buscando organização e articulação parar cobrar seus direitos. Historicamente, as crises financeiras e o baixo arrecadamento do Estado e dos municípios sempre foram usados como argumentos para explicar a ausência de investimentos na cultura. E se depender de um determinado perfil de gestor, sempre será assim.
Afinal, não vislumbro o dia em que algum gestor dirá: “sim, agora temos dinheiro sobrando, vamos fomentar a cultura”. Numa visão moderna de sociedade, a cultura é prioridade ao lado das principais necessidades da população. É triste ouvir um gestor dizer que não pode tirar dinheiro de uma maca de hospital para investir em cultura. Esse é o tipo de argumento mais fácil e mais baixo.
Marcelo Melo – Blogueiro do Alagou e produtor cultural
As oficinas realizadas pela prefeitura trouxeram direcionamentos para produção cultural da cidade, mas ainda é preciso fazer mais. Nunca se fez tanto em Alagoas e 2014 foi marcado por vários lançamentos de discos, DVDs, clipes e singles. Ainda esse mês podemos destacar o lançamento do CD da banda Dof Láfá e o single Bela 2 de Bruno Berle. São muitos nomes e é difícil lembrar, mas fiquei muito feliz em ver vários amigos com um trabalho de qualidade sendo disponibilizado. É bom destacar também o retorno da banda Mr. Freeze, que após campanha na internet voltou aos palcos.
Podemos destacar como positivo a volta de shows nacionais independentes na cidade. É meio estranho falar de algo que fizemos, mas acredito que um dos pontos positivos foi a volta da cidade nas rotas das bandas independentes. Nossa intenção era realizar apenas quatro shows em 2014 e terminamos o ano com seis eventos nacionais e a caixa de email com várias propostas para 2015.
CM - E o que, ou qual o conjunto de ações, foi extremamente negativo para a cultura e a sociedade alagoana em 2014?
Janu Leite - Com crise financeira ou não, o Estado em si repassa pouco recurso para a Cultura. Não sei de todos os municípios, mas a grande maioria não repassa mais do que 1% do seu Orçamento total para Cultura. E quando repassa como na maioria das cidades, acaba sendo um ótimo jeito para sobrar os "arrumadinhos financeiros" e realizar shows com Forró de Plástico, Arrocha e Sertanejo. A iniciativa privada não é alinhada com a arte criativa, querem sempre saber do que "dá gente", não pensam nos públicos que podem atingir relacionando suas marcas a outros tipos de artistas.
A política de balcão ainda é forte em todo o Estado. Acho que o movimento "Quebre o Balcão", tão bem contestado em Maceió, deveria se estender por todo o Estado. E praticamente nenhum deputado eleito falou sobre suas ações definitivas para Cultura, que, sim, está muito viva, pulsante e criativa nos alagoanos. O que nos resta? Cobrá-los!
Rafhael Barbosa - Em 2014 a prefeitura de Maceió perdeu a oportunidade de fazer história. A Fundação Municipal de Ação Cultural preparou um edital amplo e democrático que contemplaria todos os segmentos da cultura. A possibilidade do lançamento do edital, prometido desde o primeiro semestre, provocou esperança, fez muita gente se preparar, investir em projetos. Mas na esteira da crise, a prefeitura alegou o famigerado argumento da falta de recursos.
O prêmio Guilherme Rogato, por exemplo, é um edital de audiovisual, com aporte de R$ 600 mil da Ancine, e contrapartida de R$ 300 mil da prefeitura. A informação passada pela própria Fmac era de que os recursos, pelo menos para este edital, estavam assegurados. Mas na etapa final do processo foi decidido não lançá-lo. O portal transparência mostra que na última semana a prefeitura empenhou R$ 400 mil para algumas atrações do festival de Verão. Em resumo: perdemos a oportunidade de fomentar cinco curtas-metragens e um pioneiro longa-metragem em 2014, mas começaremos 2015 com mais uma festa para curtir o verão. É uma política bastante questionável esta.
Marcelo Melo – Considero negativa a falta de comunicação da prefeitura com os poucos produtores que ainda insistem em fazer a cidade funcionar quando se fala em música. Enquanto não houver consciência de que é necessário melhorar esse diálogo com quem faz shows alternativos na cidade todos terminam perdendo.
Tivemos problemas com o município quando realizamos nosso primeiro evento nacional. Queríamos evitar choque de datas já que estávamos perto do carnaval e acabamos perdendo púbico por conta do lançamento do festival de verão, que coincidiu com a data do nosso evento. Nesse final de ano estamos passando pelo mesmo problema.
Também acho que falta público nos shows alternativos. A cidade ainda precisa evoluir muito nesse quesito. Tivemos vários shows durante o ano, mas em muitos o público não foi satisfatório. Destaco também a não realização do Festival Maionese, que se tornou algo importante para o meio alternativo.
Entrevista com Vinícius Palmeira, presidente da Fundação de Ação Cultural de Maceió: