O colapso do uso das águas alertado pelos ambientalistas há décadas tem se mostrado uma realidade palpável nos últimos anos, a partir de secas históricas que atingiram não apenas o Semiárido do Nordeste, mas também as metrópoles do Sudeste do Brasil. A preocupação militante com a preservação dos recursos hídricos vem se transformando em conscientização ao longo dos anos, superando o viés ideológico e se consolidando como caminho necessário para o desenvolvimento sustentável e a sobrevivência não apenas das gerações futuras, mas de quem já sente a falta da água no presente.
O jornalista alagoano Anivaldo Miranda é uma das vozes mais respeitadas entre aqueles que trabalham para garantir a gestão sustentável do uso da água. Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda defendeu a necessidade de conscientizar a sociedade a pagar o preço justo pelo uso da água, durante o XVI Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob), realizado esta semana, no Centro de Convenções de Maceió.
O CadaMinuto Press entrevistou Anivaldo Miranda, no intervalo do Encob e mostra ao leitor como esta realidade de escassez de água vem atingindo os mananciais de Maceió e como o Canal do Sertão ainda precisa de ajustes para garantir um uso sustentável, que vá além do abastecimento emergencial nas épocas de estiagem prolongada.
O leitor poderá constatar que o investimento cobrado pela conscientização da sociedade para que financie o planejamento do uso dos recursos hídricos é bem menor do que o preço a pagar pela manutenção desta política pública em segundo plano pela omissão de usuários, municípios, estados e da União. Confira:
O Canal do Sertão já tem estrutura para servir de solução para a seca em Alagoas?
Olhe, tem sim, até a extensão em que ele foi construído. Agora, o Canal do Sertão precisa ter um modelo de gestão e um modelo operacional bem definido. As águas do Canal do Sertão custam caro. O governo de Alagoas já paga pelo uso daquela água bruta. Paga, inclusive, ao Comitê da Bacia do São Francisco. Muita gente não gosta que se fale disso, mas as águas do Canal do Sertão custam dinheiro e precisam ser cobradas. É claro que o uso da água bruta é muitíssimo mais baixo do que o uso da água tratada, por exemplo. Mas é importante compreender que aquela água não é grátis. Aquela água tem valor econômico. Isso não vai quebrar ninguém, nem vai impossibilitar seu uso. Agora, é importante imaginar, também, um modelo de uso das águas do Canal do Sertão, que seja sustentável. Ao lado do modelo de operação dos canais, é preciso fomentar a extensão rural, que é outra conquista da gestão atual.
Por que a recriação da Emater foi importante neste sentido?
Isso foi importante, porque a água do Canal do Sertão será utilizada em uma área muito delicada, do ponto de vista do uso do solo. As terras férteis do Semiárido e do Agreste são muito rasos, portanto, não se pode sair criando projetos de irrigação da agricultura sem, paralelamente, contar com um trabalho muito consistente. Senão, muito rapidamente, teremos um processo de salinização e inviabilização de todas essas terras. É preciso que os pequenos, médio e grandes produtores sejam incentivados a fazer o uso parcimonioso das águas e também investir em tecnologia de irrigação. Porque, senão, aquilo que poderia ser um bem se transformará também em um pesadelo. E isso requer investimentos que não serão em vão e serão ressarcidos logo em seguida. Não adianta nada ter um Canal do Sertão, sem ter um modelo de funcionamento para os próximos séculos. Portanto, esse modelo ser finalizado.
Leia a entrevista completa na edição desta semana do CadaMinuto Press já nas bancas.