O outro lado do 20 de novembro, em Alagoas, que a TV não mostra.
Manhã do 20 de novembro.
Na estrada lisa e escorregadia que dá acesso a Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, em Alagoas os carros deslizavam numa dança esquisita e arriscada. Chovia e o acesso ( que já recebeu cinco emendas parlamentares, dos muitos parlamentares, visando a construção da estrada até a Serra ) impedia a subida dos carros. E uma procissão se fez.
Milhares de pessoas foram obrigadas a descer dos ônibus e trilhar o caminho rumo a história secular de um povo.
Senhoras beirando um tempo, sem data, arfavam com o esforço indevido. Inúmeras pessoas passaram mal. Muitas e tantas histórias que a TV não mostrou.
Um reconhecido cantor de rapper, convidado da organização escalou a longa e estafante subida a pé.
Um verdadeiro descaso- disse o turista sergipano- referindo-se ao estado lastimável da estrada.
Subir a Serra da Barriga a pé traz muito sofrimento- afirmou a arquejante professora de Historia da Escola de Referência de Ensino Médio de Panelas, Pernambuco, Cláudia Patrícia. A gente já chega aqui cansado, sem folego. Não deveria ser assim- arremata.
O estado brasileiro optou pelo descaso perpetuadamente elaborado, com o conjunto de subsídios que revelam a história, como patrimônio particular e coletivo, da Serra da Barriga pra evitar esse encontro do povo com sua história. Durante o ano todo o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, primeiro equipamento do gênero no País, jaz- silenciosamente- como um cadáver insepulto, de roncos guturais.
A falta de acesso simboliza a resistência dos governos para que o povo se embriague com a enormidade da arquitetura histórica do povo negro no Brasil.
A gente não quer só comida...
Um estudante ao chegar ao Parque exclamou pejorativamente: - Que presepada é essa aqui. Coisa de preto!
Paulinha, mulher preta, alagoana e militante, incomodada, repreendeu o menino.
Muitos estudantes vêm para Serra sem uma prévia preparação nas escolas- diz Paulinha.
A Lei nº 10.639/03 ainda repousa em berços esplêndidos.
A festa foi feia e pobre. Faltou criatividade- diz Maria José, de Maceió,AL.
Um mesmo ritmo de baque marcou toda tal festa. Ritmos pobres que nada lembravam nossa história afro-brasileira. Lá longe se ouvia o hino de Olinda. Menin@s da capoeira marcavam o ritmo da dança, enquanto o povaréu circulava a léu.
Que festa “morgada”- disse a moça. Não gostei. Falta à essência, o arrepio na pele. Parece mais uma grande festa de escola- afirmou outra.
Milhares de estudantes fardados e capoeiristas uniformizados de pretitude encheram a Serra de gente. Umas três mil pessoas, em um território que chegou a abrigar mais de vinte mil pessoas.
Foi feia , pobre e temperada com a argamassa do descaso institucional, a festa de comemoração do 20 de novembro em Alagoas.
Na Serra da Barriga. No Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Em União dos Palmares.
E o movimento negro, em Alagoas continua se submetendo e dizendo amém a essa festa pobre –recheada de flores de plásticos- para qual somos meros convida@s..
Trezentos mil reais foram investidos na tal festa, apesar do palco parco, mal ajambrado que comportou inexpressivas autoridades.
O movimento negro, em Alagoas é também político?
Cadê a ministra da Cultura que viria, mas não veio?
Estão preparad@s- perguntou na Conferência de novembro, a ministra da Igualdade Racial.
Preparad@s para quê? Aplaudir os absurdos?
Brigas internas entre os três governos municipal, estadual e federal empobrecem- ainda mais, a revitalização dos sons, cores, saberes do Museu a céu aberto: o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, inspirado nas referências históricas conhecidas, homenageia a epopéia palmarina, a partir de uma releitura que incorpora os consenso das interpretações e as expressões culturais afro-brasileira e indígena.
O Palácio –símbolo maior da realeza negra, no Memorial deveria estar aberto, com flores, frutos, oferendas, uma coisa bonita de gente preta- diz o arquiteto- que ajudou a construir o Memorial, inaugurado em 2007- Alex Barbosa
O racismo institucional é grosseiro, insuportável e abusivo.
Acorda , Zumbi. A corda!
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