A Fanfarra do Movimento Autônomo Libertário (M.A.L), grupo musical criado para tocar em protestos em São Paulo, recuperou tambores e outros instrumentos quebrados com uma campanha que arrecadou R$ 1,5 mil entre seguidores deles no Facebook. A banda toca funk, salsa, tarantela e outros ritmos com refrões "anticapitalistas". Segundo representantes do grupo, em entrevista por e-mail ao G1, os instrumentos foram danificados pela Tropa de Choque da Polícia Militar, durante protestos nos dias 23 e 25 de outubro. A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que não houve denúncia registrada sobre o caso.
A banda anunciou na internet uma campanha para doação para recuperar os instrumentos. "Graças à solidariedade de várias pessoas, em menos de uma semana conseguimos arrecadar os R$ 1,5 mil que estimamos para o reparo a reposição dos instrumentos", dizem os representantes da banda sobre o "crowdfunding", ou financiamento do público.
Eles preferem não se identificar na entrevista aoG1, dando respostas em nome de todo o grupo, e evitam aparecer em fotos. "Queremos evitar perseguições pessoais contra os militantes", justificam.
A banda começou a se formar no início de 2012, com integrantes que faziam parte da extinta Banda do Movimento Passe Livre, grupo que iniciou os protestos que resultaram na diminuição das tarifas de transporte público em São Paulo em junho, e de outros movimentos sociais. A formação de fanfarra, tipo de banda de rua com base em instrumentos de sopro e percussão, conta com cerca de 50 integrantes, que não são fixos em todos os protestos.
O grupo sem líderes explica o nome da "fanfarra autônoma libertária". "Ser autônomo significa não ter ligação com partidos políticos, empresas, representantes do poder público, ONGs, entidades sindicais ou estudantis. Daí o termo libertário, pois pensamos nesse sistema capitalista como uma máquina de injustiça social que oprime a todos, e vemos que algumas das alternativas propostas pela esquerda podem ser igualmente opressoras."
Funk, salsa e tarantela
Em junho de 2013, o G1 acompanhou a fanfarra em um protesto em SP. Uma das músicas tocadas por eles foi uma paródia do funk "Jonathan 2", que ficou famosa ao fazer parte de uma das coletâneas da produtora carioca Furacão 2000. "Dança Haddad, dança até o chão / Aqui é o povo unido contra o aumento do busão", diz a paródia (veja ao lado vídeo que mostra manifestantes cantando o funk atrás da banda em protesto em junho).
"As propostas de músicas são trazidas e arranjadas pelos próprios militantes. Em alguns ritmos como funks, swings ou marchinhas, é mais fácil de se encaixar uma palavra de ordem. Especialmente os funks são muito bem aproveitados pela fanfarra, a batida é simples e divertem bastante", justifica o grupo.
As fontes musicais são variadas. "Tocamos 'Sing Sing Sing' na versão do Benny Goodman [jazzista norte-americano], 'La murga' (salsa),' Bubamara' (música balcânica), 'Bella ciao' (nossa versão em ritmo de tarantella), 'A las barricadas' (marcha)... As letras surgem de acordo com os atos em que tocamos. Atos diferentes exigem palavras de ordem diferentes, que vão se aperfeiçoando conforme compomos a luta", explicam.
Inspiração na 'brigada infernal' de Seatlle
Uma das inspirações do grupo é a "brigada infernal" de Seattle, grupo musical formado em 1999 nos EUA, quando ocorreram fortes protestos durante uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Outro grupo anterior citado pela Fanfarra do M.A.L., que também surgiu para acompanhar protestos em São Paulo no início da década passada, é o Batukação, que tocou em manifestações da época.
"A música facilita o resgate das emoções tanto daqueles que estão dentro como dos que estão fora do protesto. Isso pode servir para abrir os ouvidos e as mentes para as causas pelas quais lutamos e para o nosso debate sobre justiça social. Além disso, a possibilidade de se envolver com a ação política é muito maior quando existe a música, porque ela é capaz de divertir, de despertar interesse, ela atrai mais gente para as manifestações", diz o grupo.