'Mercenários 3' tem bom vilão, mas esconde veteranos

21/08/2014 11:46 - Coluna pop
Por G1
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"Os mercenários 3", terceira parte do catado de estrelas de ação capitaneado por Sylvester Stallone, estreia no Brasil nesta quinta-feira (21) e é o pior filme da série. Mel Gibson melhora o nível do elenco como o melhor vilão da franquia e a ressurreição de Antonio Banderas e Wesley Snipes, desafetos de Stallone em filmes dos anos 1990, até reacende a chama nostálgica dos fãs, mas tudo isso é em vão. A produção erra ao apostar em um elenco jovem e em "esconder" os veteranos em parte do filme.

Apesar da intensa cena de abertura, típica dos longas de ação que ora mimetiza, ora homenageia, a primeira metade de "Os mercenários 3" é sonolenta. Após uma operação mal-sucedida – e o ferimento que tira do combate um dos homens mais carismáticos de sua equipe – Barney Ross (Stallone) aposenta os companheiros e parte em busca de um novo (e insosso) time.

A intenção é clara: oferecer um produto mais palpável a quem nasceu após a era de ouro de "Rambo", "Exterminador do futuro" e "Duro de matar". A classificação etária foi reduzida nos Estados Unidos de 17 para 13 anos. Mesmo conseguindo esse objetivo, a decisão logo se prova equivocada.

Bonitinhos, mas ordinários
Apesar do apelo pop, a adição dos jovens e bonitos Kellan Lutz ("Crepúsculo") e Glen Powell, do boxeador Victor Ortiz e até da estrela do UFC Ronda Rousey, em alta no esporte, rouba tempo de tela e esconde as estrelas da série nas duas extremidades do filme. E com exceção de Rousey, um pouco melhor que os demais, os novatos sofrem com a falta de carisma e têm dificuldade em se firmar. Juntos, tornam o começo de "Os mercenários 3" uma extensa (e desnecessária) prévia do que já se sabe: o retorno dos veteranos na parte final.

A nova equipe apenas serve como rendição a um espectro do gênero de ação que os dois primeiros filmes da série buscaram se distanciar: o das parafernalhas tecnológicas, da inteligência sobre a força bruta. Antes obscenas, as cenas de tiroteio e lutas se tornam conservadoras e amistosas, com cortes rápidos e um distanciamento de quadro que mostram o diretor australiano Patrick Hughes a todo instante fugindo do sangue.

O primeiro "Os mercenários" deu certo em 2010 porque ia justamente contra essa higiene do bom-mocismo e mostrava ídolos do passado, em uma reunião improvável, no que sabem de melhor: destroçando inimigos da maneira mais brutal possível, recarregando as armas e fazendo de novo. Era absurdo, ridículo, e por isso tão engraçado e divertido. A dose de autoironia, mais forte no segundo filme, era a cereja do bolo.

Existe toda uma disputa entre as duas gerações, construída de maneira superficial, irritante. O chamariz de "Os mercenários" é o elenco antigo, e ver seus métodos sendo questionados a todo tempo soa mais como insulto do que referência. A inclusão de Mel Gibson como Conrad Stonebanks, mercenário que se transformou em traficante de armas, é bem-vinda e melhora o papel de antagonista em relação ao segundo filme. Antes, o vilão era o eterno dragão branco Jean-Claude Van Damme.

Gibson faz um cético que roda o mundo em busca de obras de arte caríssimas apenas para mascarar o seu comércio ilegal de armamentos. É dele o diálogo mais intenso e inspirado do filme – talvez da série. Antonio Banderas e Wesley Snipes também valem a menção. Snipes começa bem, mas logo vê sua persona de louco assumir posição terciária. Banderas leva o viés cômico do filme no bolso e entretém. Harrison Ford, contratado de última hora após a debandada de Bruce Willis, passa batido. Para fechar, Arnold Schwarzenegger reduz ainda mais seu tempo de tela.

Na soma, a sensação é de cansaço e repetição. Menos pelo uso de uma fórmula batida, que nos Estados Unidos se materializou em uma bilheteria bem abaixo da dos filmes anteriores, e mais por tentar popularizar o que era uma produção de nicho. Em 126 minutos, os recrutas de Barney Ross se transformam na bucha de canhão necessária para veteranos brilharem, mas parece ser tarde demais. O filme claramente tenta se reposicionar em um cenário onde "Transformers" e "Velozes e Furiosos" reinam. As estrelas desses filmes, no entanto, ainda não ultrapassaram os 60 anos e estão longe da aposentadoria. Fato que, enfim, parece estar mais perto do que nunca para Stallone e companhia.

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