Vinte anos atrás, o Alice in Chains fazia no Rio o último show com a formação original da banda. "Com o coração partido", o baterista Sean Kinney viu em 1993 a despedida do baixista Mike Starr. Em 2002,  o vocalista Layne Staley morreu por overdose. Pelo mesmo motivo, o Starr morreu em 2011. "É surpreendente continuarmos depois de todo esse tempo e voltarmos ao mesmo lugar [Rio]. A vida é uma viagem estranha, cara", reflete Kinney, em entrevista ao G1.

A banda, hoje com William DuVall no microfone e Mike Inez no baixo, ainda com Jerry Cantrell na guitarra, toca no Rock in Rio, nesta quinta-feira (19). Eles também vão a Porto Alegre (24) e São Paulo (26). O disco mais recente é "The devil put dinosaurs here", segundo com a atual formação.

Com o mesmo tom sombrio e pessimista das músicas da banda, que surgiu na onda grunge de Seattle nos anos 90, Kinney fala sobre a indústria atual. Para ele, a música hoje tem "valor zero". "O resultado é este: um bando de hipócritas dubladores. A indústria que ainda apoia a música faz o lixo pop mais aguado e sob medida para a massa, para os fãs casuais. Sempre houve música pop pré-fabricada, mas hoje só vemos isso."

G1 - Vocês vão tocar no “dia metal” do Rock in Rio, com Metallica e Sepultura. O Alice in Chains é uma banda de metal ou grunge?
Sean Kinney - O grunge nunca existiu. Foi só uma palavra que a mídia criou para tentar descrever o que acontecia na nossa cidade [Seattle]. A maioria das bandas nem se parecia e eles tentaram criar um rótulo. Nós somos uma banda de rock. Temos alguns elementos de metal, mas não uma banda de metal tradicional.

G1 - William foi elogiado no Brasil em 2011. O que mudou com ele na banda?
Sean Kinney - O que mudou foi a entrada dele (risos). Cada um traz sua personalidade para a música. Ele é um cara talentoso, não está tentando ser outra pessoa.

G1 - Como você descreveria um show do Alice in Chains para quem nunca foi?
Sean Kinney - Tentamos oferecer um pouco da história da banda. Geralmente cobrimos todos os discos, mas em uma hora não sei se dá. Será a primeira vez de muitas pessoas, e pode ser a última, então não ficamos tocando só coisas do disco novo.

G1 - Vocês não são o único grupo dos anos 90 que se separou e voltou. Por que acha há menos bandas grandes de rock aparecendo hoje do que antes?
Sean Kinney - Na verdade nós nunca nos separamos. Nunca perseguimos a fama ou a celebridade, então tentamos arranjar nossas vidas para sobreviver. Houve fatos infelizes. Mas acho que as pessoas tentam ouvir as coisas que as lembrem de outra época. A música vira uma cápsula do tempo.

Há várias bandas boas agora, mas agora a música não tem o mesmo valor. Você não precisa fazer nada por ela, é de graça. A música de hoje tem valor zero, e quando é assim ninguém respeita. Se Rolls-Royces fossem de graça, seriam abandonados na estrada. O resultado é esse: um bando de hipócritas dubladores. A indústria que ainda apoia a música faz o lixo pop mais aguado e sob medida para a massa, para os fãs casuais. Sempre houve música pop pré-fabricada, mas hoje só vemos isso. O novo Led Zeppelin está tocando em uma garagem agora, espero que alguém encontre.

G1 - Em 1993, no Rio, o Alice in Chains fez o último show com a formação original. Você se lembra?
Sean Kinney - Não dá para esquecer. Foi doce-amargo. Um bom show, estávamos animados. Nirvana e Chilli Peppers estavam lá também. Mas foi o último show do Mike Starr. E foi o maior público para o qual havíamos tocado então.

G1 - Vocês sabiam que ele sairia?
Sean Kinney - Sim. Havia uma grande energia. Mas ao mesmo tempo, o Nirvana estava se despedaçando e o Mike Starr estava fazendo o último show. Eu me lembro de ele tocando com o coração partido. No aeroporto, fomos para a Europa e ele para Seattle. É surpreendente que continuamos depois de todo esse tempo e voltamos ao mesmo lugar para fazer de novo. Muita coisa mudou...

G1 - Então, voltará ao mesmo aeroporto onde se despediu do 'primeiro Alice in Chains'.
Sean Kinney - Sim, pensei muito tempo sobre isso. A vida é uma viagem estranha, cara. É a mesma coisa para todo mundo: tem os altos e os baixos. Você só tem que tentar passar por eles da melhor maneira.