Pela sensibilidade em lidar com a luminosidade de sol a pino, que potencializa as cores fortes do Nordeste, pela capacidade em lidar com formas (ora geométricas, ora orgânicas), pela habilidade de transformar o bruto em requintado e por ter na essência e na vocação uma alagoanidade aflorada, é que Delson Uchôa será o grande homenageado da 7ª edição da Semana de Moda Alagoas Trend House.

Delson Uchôa é, inquestionavelmente, um artista diverso no panorama atual das Artes Plásticas. Do início, como aluno do professor Pierre Chalita, até ter obra no acervo de consagrados museus brasileiros, Delson construiu uma trajetória original que o ajudou a conquistar respeito da crítica especializada.

Questionado por nossa reportagem sobre a repercussão dessa homenagem em seu currículo, Delson explicou que considera o convite conseqüência da forma como trabalha com as artes plásticas, mas que nunca se imaginou contribuindo com a Moda a partir de sua obra, embora reconheça similaridades. “Ser convidado para essa homenagem é um processo natural, resultado do trabalho que é minha própria vida. Existe uma linha tênue entre Artes Plásticas e Moda. Ambas refletem o homem e seu tempo, em todos os tempos”, argumentou o artista.

Donos de galerias e curadores concordam com a importância de sua contribuição para o acervo pictórico mundial. Para o curador Jorginho Guinle, por exemplo, a obra de Delson é muito atual porque “trás à tona questões como o arquétipo e o pessoal, o universal e o regional, o popular e o kitsch”. Já para Thomas Conh, da Galeria Conh, Delson é um artista pop-neoconcreto, segundo ele pela “oscilação” que ele estabelece entre “o quase kitsch e o quase despojado, entre o bruto e o requintado”.

Sua mais recente coleção chama-se Bicho da Sede, que Cristina Tejo denominou de “conto de luz”, e que estão expostas em Curitiba, na SIM Galeria até o dia 20 de julho. Esta exposição, em acrílica sobre lona de algodão plástico e resina, foi elogiada pelo curador Eder Chiodeto que a classificou de uma “iconografia vigorosa, na busca de entendimento da universalidade de seu microcosmo, e da identidade de algum lugar, pela metáfora da cor, da luz, da febre que transforma a cor-luz em vertigem”.

Assim como a Moda, a obra de Delson flerta com arquétipos, é universalizante e transita entre o pop e o kitsch. Delson Uchôa é um flâneur que transitar por conceitos, sem perder a referência de suas raízes nordestinas. A receita perfeita para lidar com a Moda, enquanto valor de consumo contemporâneo.