Romeo Stodart, cantor e guitarrista do grupo britânico Magic Numbers, se declara fã de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Os Mutantes. Mas, na hora de escolher a sua “banda dos sonhos”, nada de Tropicália. Seus companheiros ideais seriam gente como Neil Young e Tom Waits. E talvez esteja neste elenco uma pista do que virá no próximo disco da banda.
O Magic Numbers – habitualmente associado a uma sonoridade melódica e não propriamente pesada – está mais “roqueiro”, nas palavras de Stodart. Em entrevista ao G1, ele antecipa: o álbum, que acaba de ser gravado, o fez “se apaixonar novamente pelas guitarras elétricas”. Um pouco do material, segundo o músico, poderá ser conferido no show gratuito que o grupo faz em São Paulo neste domingo (23). A banda se completa com a irmã de Stodart, Michele (baixo e vocal), Angela (percussão e vocal) e Sean (bateria). Os dois últimos também são irmãos.
Stodart aproveita ainda para dizer que vai tocar “You don’t know me”, de Caetano: “Adoro aquela música, então fizemos a gravação para o aniversário de 70 anos dele”. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa em que o líder do Magic Numbers escala a banda que ele sempre quis ter. Vale até expulsar a própria irmã.
G1 – No domingo passado, vocês escreveram no Facebook da banda que a bicicleta da Angela tinha sido roubada. Ela conseguiu de volta?
Romeo Stodart – Não, não conseguiu (risos). Na verdade, atualmente em Londres têm acontecido muitos roubos de bicicleta. É ridículo, uma verdadeira cena criminosa. Mas, felizmente, Angela está bem (risos).
G1 – Vocês tocaram no Brasil em 2007. Quais suas lembranças daqueles shows?
Romeo Stodart – Sim, foi incrível. Eu me lembro de que todo mundo cantava todas as músicas – e é uma sensação maravilhosa quando você vai a algum país que fala outra língua, e as pessoas conhecem as canções. Nós fizemos um monte de covers, como “Baby” [deCaetano Veloso]. Também me lembro de alguém jogar no palco uma bandeira do Brasil, foi muito legal. Curtimos bastante tocar no Brasil. Na verdade, não consigo acreditar que demorou tanto tempo para surgir a oportunidade de voltar. Estou realmente muito empolgado.
G1 – Já se passaram seis anos. Qual a maior diferença do Magic Numbers daquela época e do Magic Numbers atual?
Romeo Stodart – Bem, acho que o Magic Numbers de agora é muito mais... Eu me sinto muito mais confiante. Nós acabamos de fazer um disco novo, [então] sinto como se, de alguma maneira, estivesse começando a banda de novo. Em 2007, nós estávamos muito, muito cansados, por estar constantemente em turnês. Mas não sei. Para ser honesto, adoro fazer turnês.
G1 – O Magic Numbers recentemente anunciou que vai fazer sua primeira turnê acústica. Por que optaram por esse formato?
Romeo Stodart – Nós acabamos de fazer aquele que provavelmente é o nosso disco mais alto e roqueiro. Eu meio que me apaixonei pelas guitarras elétricas de novo. Então, sabe, tendo feito este disco – ainda não foi lançado, terminamos a mixagem –, é como se estivéssemos prontos para mostrar aquelas canções de modo acústico, que foi como elas nasceram, entende? Para tentar apresentá-las de um modo diferente. Fizemos alguns shows acústicos e foram muito bem. Estava apenas pensando em repetir isso numa turnê, tocar em igrejas, pequenas casas, vai ser realmente bacana.
G1 – O disco anterior de vocês, ‘The runaway’, foi lançado em 2010. Por que demoraram três anos para fazer um novo?
Romeo Stodart – Para ser honesto com você, nós todos precisamos de um tempo para fazer um disco. Eu não sou de pensar: “Preciso escrever dez músicas para o novo disco...”. Apenas escrevo o tempo todo, estou sempre fazendo músicas. Faço isso até ter as melhores e mostrá-las para a banda. Não queria me repetir. Levou algum tempo [desde o disco anterior], mas devo dizer que sinto como se tivéssemos de fazer muito mais, sabe? Estamos juntos há quase dez anos…
G1 – Você afirmou que o disco novo tem mais guitarras. Que mais você pode adiantar sobre ele?
Romeo Stodart – As canções tem uma sonoridade anos 1950. Uma música que se chama “Roy Orbison”, por causa do cantor, nós o mencionamos na música. Muitas das músicas falam sobre encontrar a si mesmo, identidade... Há orquestrações realmente incríveis, cordas. Para ser franco, ao lado das guitarras, da sonoridade “maior”, tentamos sons diferentes de bateria. Nós vamos mostrar algumas coisas no show, as pessoas vão poder ouvir.
G1 – Vão tocar material novo no Brasil?
Romeo Stodart – Sim, definitivamente.
G1 – E Caetano Veloso?
Romeo Stodart – Sim. Nós gravamos “You don’t know me”. Adoro aquela música, então fizemos a gravação para um disco em tributo ao aniversário de 70 anos dele. Felizmente, vamos tocá-la aí, as pessoas vão reconhecer, não (risos)?
G1 – Ele é o seu músico brasileiro favorito?
Romeo Stodart – Sim, amo o modo como ele compõe, me influenciou. Mas adoro todas as coisas da Tropicália, amo Gal Costa, a voz dela é incrível. Amo Os Mutantes, Gilberto Gil – sou muito interessado nos anos 1960, 1970. Mas também adoro coisas novas de música brasileira, realmente gosto daquela banda Hurtmold. Tocamos em show com eles quando estivemos aí.
G1 – Cinco anos atrás, você listou para o jornal “The Independent” qual seria a sua banda dos sonhos. Ela tinha Bob Marley no vocal, Neil Young na guitarra, sua irmã Michele no baixo, Bernard Purdie na bateria e Tom Waits no piano. Houve alguma alteração desde então ou você continua com eles?
Romeo Stodart – (Risos) Sim, sim. Acho que ainda é uma boa formação...
G1 – Mesmo a Michele? Ela é sua irmã, você já toca com ela no Magic Numbers...
Romeo Stodart – Quer saber? Eu entraria nessa banda e colocaria minha irmã para fora(risos)! Não, não, acho que ela é uma baixista incrível. Na noite passada, fui ver Neil Young e eu o conheci. Fiquei: “Oh, meu Deus!” (risos). Sou especialmente fã dele, é uma das razões por que toco guitarra. Falei isso para ele, fiquei: “Obrigado!”. Então, ainda acho que ele é fantástico, ainda acho que ele teria de estar na banda dos sonhos, com certeza.
G1 – E você: você faria o quê? Seria o empresário?
Romeo Stodart – Eu tocaria guitarra! Empresário, não! Seria o cara das boas vibrações, sabe(risos)?