'Bonitinha, mas ordinária' chega aos cinemas cinco anos após filmagens

03/06/2013 05:05 - Coluna pop
Por G1
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Letícia Collin tinha 18 anos quando filmou "Bonitinha, mas ordinária", nova adaptação da peça de Nelson Rodrigues, que estreia nesta sexta-feira (24). Cinco anos depois, a atriz disse que gostou de rever o filme dirigido por Moacyr Góes. "Eu fiquei orgulhosa de me ver aos 18 anos. É muito corajoso", conta ao G1, por telefone.

O filme narra a história de Edgar (João Miguel), homem humilde e pobre que tem proposta de casamento por dinheiro com a filha de seu chefe, Maria Cecília (Letícia), ou ficar com Ritinha (Leandra Leal), pela qual é apaixonado. Revelada pelo seriado "Sandy e Junior", quando tinha oito anos, Letícia fez suas primeiras cenas de nudez. "Encarei com bastante seriedade. A história gira em torno da cena do estupro... É uma cena delicada, de exposição. Dramaturgicamente, a cena final é mais difícil do que a do estupro", opina.

Hoje, a atriz se dedica a musicais, tendo atuado em "Hair" e hoje em cartaz com "Como vencer na vida sem fazer força", que tem Luiz Fernando Guimarães e Gregorio Duvivier. "Musical é uma coisa que nunca me imaginei fazendo. Se eu achasse que é uma coisa de franchising, não teria feito. Os personagens é que nos chamam. Não importa se é classe A ou B, ou se só ator vai ver... Não importa mesmo. É mutável, da vida", diz.

G1 - Como surgiu o convite?
Letícia Colin - Eu fiz teste, queria ter sido convidada... Fazia curso de teatro no Rio e estudava bastante Nelson [Rodrigues]. Sou fã da dramaturgia dele, desde os 15 anos. Eu queria vivenciar a personagem, é uma personagem bipolar, contraditória.

G1 - Como foi a preparação?
Letícia Colin - Eu estudei para caramba, tinha o texto marcadinho. Lembro de ter encontrado várias amigas conhecidas, da minha geração. Lembro do encontro com o Moacyr, que dirigiu os testes. Ele passou muita confiança, cumplicidade. Ele já fez a peça no teatro e conhece a obra como ninguém. Foi a primeira vez que fiz cinema e foram milhões de desafios para isso.

G1 - É estranho lançar agora um filme gravado em 2008? Qual a sensação disso em relação a sua carreira?
Letícia Colin - É muito mais confortável. Eu não fico mais me criticando, eu tenho mais distanciamento. Eu sentei para ver o filme e foi um prazer assistir: gostei do meu trabalho lá. Eu fiquei orgulhosa de me ver aos 18 anos. É muito corajoso. Foi muito bom ter passado este tempo. Sou outra pessoa, outra atriz, vivi experiências.

G1 - Como foi gravar as cenas de nudez e a cena do estupro?
Letícia Colin - Não tinha feito. Mas eu encarei as cenas de nudez com bastante seriedade. Como eu conhecia a peça antes de fazer o teste e falávamos muito sobre o texto, eu estava muito preparada. Não tinha nenhuma surpresa. Incomoda se você não sabe se vem. A história gira em torno da cena do estupro... É uma cena delicada, de exposição. Dramaturgicamente, a cena final é mais difícil do que a do estupro.

G1 - Quem não conhece Nelson Rodrigues, ver o cartaz no cinema, e entrar na sala meio desavisado, pode se chocar? O que espera deste outro tipo de público?
Letícia Colin - As cenas e o teor da história causam impacto até mesmo para quem conhece. Mas vivemos em um mundo que tem tantas coisas que acaba sendo contemporâneo. Apesar de ser clássico... O que acontece na mídia é tão assustador... Não é uma história completamente absurda. Não é de choque. A gente tem contato com isso, são personagens reais, intensos, polêmicos. Acaba sendo contemporâneo por esse olhar. O mais legal é pensar que está em cartaz um filme do Nelson Rodrigues. Eu fico feliz por fazer parte disso. Estamos usando o que ele escreveu, o que deixou, para continuar pensando na vida, na arte.

G1 - Esse foi o papel mais difícil da sua carreira?
Letícia Colin - Foi um personagem bastante difícil, mas tive novos desafios depois dele. Eu tenho feito teatro musical à beça. Eu não sei se é o maior. Cada fase da vida, você tem desafios novos. Na altura do campeonato, com aquela idade, era um grande desafio. Hoje, não sei qual seria...

G1 - Além de Nelson Rodrigues, você se baseou em alguma obra literária ou filme para fazer a Maria Cecília?
Letícia Colin - Tem um filme que gosto muito da Siena Miller, chamado "Factory Girl", que me inspirou muito. Fiz ensaios com o Moacyr Goés. O encontro em cena com o João Miguel ajudou. O personagem foi composta com ele. Eu o admiro para caramba.

G1 - A produção do filme conseguiu baixar a censura do longa de 18 para 16 anos. Você acha que o cinema brasileiro está recatado? É um filme para ser visto por quem tem entre 16 e 18?
Letícia Colin - Eu não sei dizer sobre isso. Eu comecei a trabalhar muito cedo, tive uma formação artística que abre minha visão para o mundo. Se eu fosse pai ou mãe, entenderia melhor. Eu acho que obviamente estamos muito desgastados com assuntos de violência, sexualidade... Como ficção, eu não sei. Se eu tivesse 16 anos, veria sem problemas, mas é muito pessoal. Há dois movimentos loucos, existem as comédias e os filmes de arte.

G1 - Quais filmes brasileiros recentes você recomenda?
Letícia Colin - Vi "Abismo Prateado", "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios"... Tem coisas que eu assisto que não são nada caretas. Censura sempre vai assistir e temos que acreditar que é para o bem. Por que os filmes mais ousados, menos óbvios, ficam em um circuito pequeno? Temos um cinema bem louco. O Cao Guimarães faz um cinema bem louco. Então, temos cineastas interessantes mas ficam em circuito bem pequeno. Existe a caretice dos filmes comerciais... Tem que mudar um pouco essa válvula. Podemos ter um cinema mais autoral, mais irreverente. Mas as pessoas estão indo mais ao cinema, independentemente de ser um filme A ou B. Não podemos nos acomodar. O Gregório [Duvivier] faz peça comigo e "Vai que dá certo" está com 2 milhões de espectadores. As distribuidoras tem que acreditar no potencial de filmes que não são comerciais.

G1 - Na hora de escolher um papel, você vai tender a escolher esses filmes menos comerciais, que admira? Ou faria comédias e roteiros mais leves?
Letícia Colin - Eu já mudei, tenho 23 anos, eu sou intuitiva e vou no feeling. Musical é uma coisa que nunca me imaginei fazendo. Se eu achasse que é uma coisa de franchising, não teria feito. Os personagens é que nos chamam. Não importa se é classe A ou B, ou se só ator vai ver... Não importa mesmo. É mutável, da vida.

G1 - Seu primeiro papel na TV foi na série 'Sandy Junior'. Como isso foi importante para sua carreira e do que se orgulha daqueles tempos?
Letícia Colin - Eu era uma criança, oito anos. Mas minha seriedade com a profissão continua. Eu tinha um DNA. Eu tenho prazer de trabalhar. Sempre gostei do processo de criação, de estar no set. Isso só vai se reafirmando. A alegria de estar trabalhando com isso, de estar no persoangem. Eu sempre tive um respeito e uma alegria grande de estar gravando.

G1 - Por conta dos musicais, pensa na carreira de cantora?
Letícia Colin - Pois é. Tenho gostado cada vez mais de cantar. É legal, eu posso fazer e me faz bem. Eu não machuco o ouvido de ninguém. Conheço uma galera da música, que toca instrumento. Eu tenho pensado nisso, mas não sei de nada. Eu gosto muito de rock, talvez seja mais assim. Eu escrevo letras brincando para bandas de amigos. Eu tenho descoberto esse viés meu de compor, mas por enquanto é uma coisa para mim.

G1 - Qual estilo você pretende seguir, caso se torne cantora?
Letícia Colin - Gosto de todo pessoal do Woodstock. Quando eu fiz "Hair", tive um encontro musical com esse momento. Gosto de Richie Havens, Jefferson Airplane, Janis Joplin. Gosto desse do rock n' roll americano daquela época.

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