Trabalho escravo em Alagoas, uma realidade

27/03/2013 19:45 - Fleming
Por Alexandre Fleming
Image

A luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil ao longo da história encontrou obstáculos. Primeiro devido ao contexto político do modelo de colonização adotado pelos portugueses e, evidentemente, todos os seus desdobramentos que possibilitaram a consolidação de uma sociedade escravocrata por quase quatro séculos.

Em que pese as razões que levaram o Brasil a considerar o trabalho escravo ilegal oficialmente apenas a partir de 1888 e o papel do liberalismo econômico sobre tal decisão, não podemos ignorar este fato que simboliza a criação de uma determinada lei que vetou juridicamente tal prática.

Evidentemente, isso representa o marco legal da questão, porém, talvez não signifique que carregue a mesma simbologia referente à luta de resistência da população negra no Brasil contra a escravidão. Mas isso é outro debate. Aqui, apenas pontuamos.

Historicamente, quase dois séculos antes da Lei Áurea, era assassinado o maior líder negro que o Brasil já teve. Logo, no Brasil, o dia 20 de novembro (data do assassinato de Zumbi dos Palmares, em 1695, passa a representar o dia da consciência negra contrapondo-se ao ato meramente legal de libertação simbólico atribuído a Princesa Isabel).

Indo ao ponto e limpando o terreno, espanta saber que em Alagoas, nos dias atuais, em algumas cidades (entre elas - pasmem! - União dos Palmares) ainda existe a prática do trabalho escravo. Ou seja, logo lá, em União dos Palmares, onde por mais de um século efetivou-se o mais conhecido Quilombo de resistência a escravidão, registram-se mais de cinquenta casos de trabalhadores resgatados.

E mais, em apenas cinco anos foram resgatados mais de 700 trabalhadores em condições análogas ao trabalho escravo em Alagoas, ou seja, forçadas a trabalhar e com restrições ou total negação da liberdade.

O jornalista da Revista Galileu, Tiago Mali, revelou a existência de trabalho escravo em Alagoas, nas cidades de Penedo, Rio Largo, Roteiro e União dos Palmares.

Os dados podem ser acessados através do infográfico interativo, em "O raio X do trabalho escravo" que apresenta um mapa do trabalho escravo no Brasil de 2003 a 2012.

O alerta já havia sido feito pelo jornalista Mário Júnior, em seu texto “A base da economia de Alagoas faz isso. É justo?”. Em trecho emblemático ele diz: “Você sabia que a cada minuto trabalhado um cortador de cana realiza 17 flexões de tronco e aplica 54 golpes de facão? Tudo isso com o joelho semiflexionado e a cervical estendida, o que lhe tira cerca de oito litros de água ao final de cada jornada de trabalho”.

É imperativo o registro, pois para além do atraso econômico vivido em Alagoas, amparado no latifúndio (pasto e cana-de-açúcar), verificamos também a manutenção da existência do trabalho análogo ao escravo (reconhecida existência no Brasil desde 1995).

Além de absurdo, em dias de debates acalorados sobre os direitos humanos, é preciso reconhecer a existência do problema e atuar para erradicá-lo.

Estou no twitter: @Fleming_al

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..