Essa nos chega do Marcos Romão, lá da Alemanha...

05/03/2013 03:33 - Raízes da África
Por Arisia Barros

Marcos Romão escreve e encanta com seu texto metafórico. Excelente!

Isso só pode ser coisa de negro!


Ser presidente por exemplo. Isso é coisa que só pode ser de negro!
Desde criancinha que ouço esta frase sempre que aparecia mais do que o devido. Já estava me acostumando quando em 83 assumi minha primeira chefia no serviço público. Por onde passava, o silencioso rosnado podia-se ouvir a quilômetros de distância:
Isto só pode ser coisa de negro!
Nunca compreendi direito o que isto significava, nem antevia o seu potencial. Aí, hoje, o meu amigo Ras Adauto me manda um foto de uma negra linda, de freiar Scania Vabis na Avenida Brasil na hora do rush, posando de Miss Israel e cotada para ser Miss Universo.
Isso só pode ser coisa de negra! Pensei cá com minha camiseta sem botões.
Chego no Brasil, depois de anos de auto-exílio numa terra branca e dou de cara com um ministro do STF, o Doutor Barbosa, como seu presidente e metendo a mão na massa. Puxa-vida tava aí o que queriam me anunciar desde criancinha:
Isto só pode ser coisa de negro
Não bastando, para mim que tem um passado católico, em que nunca fui escolhido para ser coroinha, pois os loirinhos sempre tinham mais méritos, até quando eu tirava só dez nas notas, vem o destino abusar da minha falta de compreensão, do que a frase preconizava para o futuro
Um Papa renuncia, e a bolsa de apostas me fala de um tal de Turkson, Cardeal negro pagando placê na disputa do papado.
Estou convencido: Isto só pode ser coisa de negro!
Não bastando o convencido que estou, pois desde criança os coleguinhas me chamam de negro convencido e agora posso acreditar, ainda me vem um presente de um capitalista democrata-cristão e ainda por cima alemão, da cidade de Hamburgo, que é minha segunda terra natal e me dá um presente, inacreditável para um brasileiro, no aniversário dos meus sessenta anos de idade.
Sempre gostei de chocolate. Garoto acreditava que ele vinha da vaca, daquelas malhadas suiças, e que era pra ser comido com a cara rosada.
Juro que fiquei meio decepcionado, quando descobri que vinha do Cacau de Gana, surripiado para o Brasil Bahiano.
Desculpo-me de minha decepção por conta de um pouco de ranço racista brasileiro que também carrego, afinal de contas sempre que comia um chocolate Garoto nos 40º graus de Niterói, sentia calafrios de prazer ao me transportar para os Alpes Suiços. Pois nas propagandas de chocolate sempre apareciam umas vaquinhas gordinhas acompanhadas de umas loirinhas sorridentes. Fizeram minha cabeça com os trinados do Tirol
Mais aí vem o presente, que eu já ia me esquecendo. A mensageira foi minha filha Papoula, chegou sorridente com a caixinha de chocolate: Papai isto é prá você, o garoto da propaganda deve ser parecido com você quando criança.
Não é que era? Quase me caí para trás, como falavam os negros nos meus tempos de menino. Solubaquei-me, entontecime-mei, e delirei de alegria ao ver um "Kinder Chocolate" com a cara de um negrinho que poderia ter sido eu. Ululei para minha filha!
Isto só pode ser coisa de negro!
Mesmo que ainda seja só o chocolate alemão. Chegaram finalmente as minhas cotas de chocolate!
E quando me perguntarem o que eu quero mais, responderei, apenas tudo!
Pois finalmente compreendi: Que tudo é coisa de negro.
E no ano 125º da Ebulição da Escravatura recomendo a todas as minhas amigas e amigos, que venham pegar suas cotas de chocolate e de vida boa também!
É só acreditar que tudo é coisa de negro!


Fonte: mamapress
 

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